A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta quarta-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, de trair os dissidentes chineses, o dalai lama e a si mesmo ao anunciar que comparecerá à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Em comunicado, a RSF lamentou a mudança de postura de Sarkozy, que havia vinculado sua presença ao reatamento de um diálogo real entre as autoridades chinesas e o dalai lama. As duas partes mantiveram contatos durante os dias 1 e 2 de julho no que, segundo o comunicado, o Governo tibetano no exílio considerou apenas uma manobra para melhorar a imagem do regime comunista a poucas semanas dos Jogos Olímpicos. Segundo a RSF, as condições impostas na época por Sarkozy, que comunicou sua decisão final ao presidente da China, Hu Jintao, durante a cúpula do G8 no Japão, não foram cumpridas, e por isso "o presidente francês quebrou a promessa que havia feito". "Os encontros em Pequim não levaram a lugar nenhum, e as autoridades chinesas continuam denunciando a 'quadrilha do dalai lama'", disse o comunicado. A RSF ressaltou que "a decisão de Sarkozy também representa uma punhalada pelas costas para os dissidentes chineses". "Aqueles que estão presos não poderão contar com a França para ajudá-los em uma rápida libertação. Aqueles que sofrem com a vigilância e a perseguição terão que fazê-lo sem o apoio de Sarkozy, apesar de este ter adotado uma postura clara a seu favor há apenas dois anos", destacou o comunicado. A RSF questiona as convicções de Sarkozy, na qual o líder francês, então candidato à Presidência, colocava princípios como direitos humanos acima de quaisquer interesses econômicos. A organização alertou que o comparecimento de Sarkozy à abertura dos Jogos, na qual também pensa em representar a França na qualidade de titular da Presidência rotativa da União Européia (UE), pode levantar divergências internas no bloco comunitário e no Parlamento Europeu. Pelo menos 25 jornalistas, blogueiros e manifestantes chineses foram detidos desde o começo de 2008, lembrou o comunicado, que convocou manifestações diante das embaixadas chinesas em todo o mundo durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 8 de agosto.
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