CAMILA DA SILVA BEZERRA "Vai ser o ano em que vou entrar no azul", afirma o técnico em eletrônica Clodoaldo José da Silva, de 40 anos. Mais do que uma simples promessa para 2012, Silva está comprometido a quitar sua dívida de R$ 15 mil com financiamentos e não perder o controle do orçamento. Para quem quer ficar no azul no ano que está para começar, o educador financeiro e presidente do Instituto Dsop, Reinaldo Domingos, explica que o primeiro passo é diagnosticar a situação financeira. "O consumidor tem de descobrir para onde está indo cada centavo seu", afirma. Para isso, ele sugere que todos os gastos sejam anotados em uma agenda ou em um bloco pelo período de 30 dias por quem tem emprego fixo e 90 dias (para fazer a média) por autônomos ou trabalhadores que não têm renda fixa. Na avaliação do educador, trata-se de uma etapa fundamental no processo do controle orçamentário. "Pesquisas indicam que 26% dos brasileiros não sabem como gastam seu dinheiro", diz Domingos. "As anotações permitem identificar desperdícios", continua ele, que estima que 20% dos gastos com serviços essenciais, como energia elétrica e telefone, são desnecessários. Além de tirar os eletrodomésticos da tomada, é importante evitar comprar além do que se vai consumir entre uma ida e outra ao supermercado. Especialistas dizem que o ideal é viver de acordo com a renda, adaptando-se ao seu padrão de vida, sem contar com auxílio do cartão de crédito ou cheque especial - os principais vilões do orçamento doméstico. "Como são créditos muito fáceis de conseguir, isso pode fazer com que a pessoa incorpore o valor como parte da renda. Então, como os juros são muito altos, o consumidor não se dá conta de que, em pouco tempo, não vai conseguir controlar a situação", comenta a assessora técnica do Procon-SP, Vera Lúcia Remedi, que participou do projeto de Tratamento do Superendividamento do órgão de defesa do consumidor. A ação, que teve parceria do Tribunal de Justiça, durou cinco meses e atendeu 288 consumidores e 359 contratos foram renegociados neste ano. O principal motivo para se evitar o cartão de crédito e o cheque especial são os juros, que podem ultrapassar os 238% ao ano, no caso do cartão, conforme levantamento de novembro da Associação Nacional dos Executivos de Administração Finanças e Contabilidade (Anefac). Vera alerta ainda sobre a importância do cuidado com a facilidade de pagamento oferecida pelo varejo, o que acaba induzindo a compras por impulso e atrapalhando o orçamento do consumidor. "Os parcelamentos podem fazer com que as pessoas comprometam despesas básicas, deixando de pagar contas como aluguel, de água e telefone." Armadilha Outro cuidado que o consumidor deve ter é com as "prestações sem juros", pois, segundo economistas e especialistas em finanças, esse tipo de vantagem não existe. "Dinheiro tem custos, como inflação e pagamento de juros. Para se livrar deles, as empresas incluem as despesas no preço. Por isso, o ideal é fazer pagamentos à vista e exigir desconto", aconselha o economista Richard Rytenband, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP). A família também deve participar do processo de equilíbrio da vida financeira. "É importante que a família esteja a par da situação na elaboração do orçamento e na divisão de despesas", afirma Vera. Este é um dos segredos do saldo positivo de Silva que, antes de gastar ou em casos de imprevistos, conversa com a mulher, Josélia. "Temos planejado o que podemos ou não gastar. Se percebo que a compra vai estourar o orçamento, desisto. Mas existem necessidades que não há como adiar. Então a gente trabalha um pouco mais, para ter mais dinheiro e manter o orçamento", diz