Vannildo Mendes Consumidores de diversas cidades do Brasil puderam experimentar ontem a sensação de comprar gasolina sem pagar imposto, o que significa pagar quase metade do preço a que todos estão habituados. A promoção foi um protesto no Dia Nacional de Respeito ao Contribuinte, organizado pelo terceiro ano seguido para pressionar o governo a reduzir os impostos. O dia sem impostos começou por volta das 9h. Em São Paulo, a gasolina foi vendida a R$ 1,2677 o litro no posto Portal das Perdizes, na Avenida Sumaré, esquina com a Rua Dr. Franco da Rocha. O preço com impostos é de R$ 2,699 o litro. O imposto sobre a gasolina é de 53,03%, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Por causa da grande procura, que provocou extensas filas, as vendas foram limitadas a 30 litros de gasolina por veículo. Em Brasília, a oferta de gasolina com R$ 1,05 de desconto por litro provocou engarrafamento de mais de dois quilômetros nas proximidades do posto Jarjour, numa das principais vias da Asa Norte. A Polícia Militar e o Detran tiveram de mandar viaturas para controlar o trânsito e evitar tumultos. Os postos que participaram do protesto serão reembolsados pelas Câmaras de Dirigentes Lojistas, que organizam o movimento contra os impostos. O protesto também provocou filas em postos do Amazonas, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. Desconto. Os impostos sobre a gasolina somam R$ 0,68 por litro, referentes a ICMS, impostos distritais, Cide e Cofins. Em Brasília, onde a cota máxima por motorista foi fixada em 20 litros, a economia era de R$ 21. Muitos consumidores não se incomodaram de esperar até cinco horas na fila, mais pelo protesto do que pela economia. "O povo precisa de um alívio, ninguém aguenta mais tanto imposto", disse Adroaldo Carvalho, ex-fiscal do Agência Nacional de Petróleo (ANP). Desde as 9h na fila, o servidor Edson Vargas só foi atendido pouco depois das 14h. "Perdi a manhã inteira, mas estou feliz de marcar posição contra tanto abuso", afirmou. A data de 25 de maio marca em todo o País o dia do ano em que o brasileiro deixa de trabalhar para pagar tributos, que em 2011 atingiu a carga de 35,38% do Produto Interno Bruto (PIB), uma das maiores do mundo. "O nosso imposto não é apenas alto, é muito mal empregado pelo governo", criticou o eletricista André Luiz Camacho. "Isso sem falar no que é desviado pelos ralos da corrupção." Elizete Mol, aposentada, concordou: "Se houvesse boa distribuição dos tributos, seria possível reduzir a miséria no País, melhorar o atendimento nos hospitais, ter escolas adequadas e mais segurança". Publicidade. O proprietário do posto de Brasília considera a ação um investimento publicitário. "Nosso objetivo é mostrar ao consumidor o real motivo do alto preço dos combustíveis", explicou o empresário Wander Jarjour. O sindicato das empresas do setor chegou a distribuir circular convocando a adesão geral, mas os demais postos de combustível optaram em não participar. Coordenador da campanha no DF, Samuel Torres, diretor da ala jovem do Clube de Dirigentes Lojistas (CDL), afirmou que este ano outros setores aderiram ao protesto. O supermercado Big Box vendeu cestas básicas com 50% de desconto, enquanto a HC Pneus fez balanceamentos pela metade do preço. Em algumas cidades, o protesto também beneficiou os consumidores de outros tipos de produtos. Em Belo Horizonte, os comerciantes de brinquedos e materiais de construção também deram descontos. Em Mato Grosso do Sul, consumidores puderam comprar gás de cozinha sem impostos em postos de gasolina de Dourados e Campo Grande.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.