FERNANDO NAKAGAWA A economia do Brasil diminuiu de tamanho no terceiro trimestre. Levantamento do Banco Central (BC) indica que a atividade econômica caiu 0,32% ante o período entre abril e junho. Essa foi a primeira retração desde o primeiro trimestre de 2009 quando o País girava no turbilhão da crise passada. O dado negativo era esperado. Divulgado ontem, a queda do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é prenúncio de recuo do Produto Interno Bruto (PIB), já que o dado é considerado uma prévia do PIB. O resultado do índice confirma a leitura do BC de que, após o rápido crescimento em 2010 e a moderação no primeiro semestre, o Brasil sentiria a piora do quadro internacional de maneira mais pronunciada. Agora, analistas aguardam o efeito da ação do governo federal para incentivar a economia. Se as medidas forem bem sucedidas, o Brasil volta a crescer. Mas se a crise ganhar força, o País pode fechar 2012 em recessão. Há tempos tanto o Palácio do Planalto quanto o BC têm advertido a população brasileira quanto à iminente chegada de tempos sombrios para a economia mundial, que inevitavelmente chegará ao nosso País, trazendo efeitos diretos ao bolso dos consumidores. E é baseada nessa expectativa que a autoridade monetária tem justificado os seguidos cortes dos juros básicos da economia, a Selic. Mas se de um lado essa saída estimula o consumidor a gastar, de outro essa estratégia leva o empresário a agir com maior cautela ao dirigir seus negócios, mesmo com os indicadores mostrando um terreno amplo para avançar. Estoques O recuo é reflexo de indicadores como os elevados estoques das empresas e a queda na produção industrial. Nem mesmo a ligeira alta de 0,02% de setembro ante o mês anterior foi suficiente para anular o recuo de agosto, o pior resultado desde dezembro de 2008. "O dado confirma indicadores que sinalizavam enfraquecimento de vários setores", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra. Os pátios das montadoras e concessionárias de automóveis cheios demonstram que a indústria automotiva é um dos setores mais afetados. Além disso, planos de investimentos dos empresários foram para a gaveta, o que prejudica a demanda interna. A retração trimestral preocupa o governo porque é o primeiro passo para uma recessão. Como os rumos da Europa são completamente imprevisíveis e a demanda interna pode continuar patinando, há chance de o último trimestre ter nova diminuição da atividade econômica. Com temor de que o primeiro ano do governo Dilma termine com dois trimestres seguidos de queda do PIB -- situação que tecnicamente configura a recessão, o governo age para tentar reverter a situação. Na opinião de Maristella, as ações tomadas pelo governo podem ter efeito a tempo e a economia tem possibilidade de crescer entre 0,3% e 0,5% no quarto trimestre.
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