Mulher adora compras. Um passeio pelo shopping ajuda a aliviar a tensão ou alguma chateação. Porém, esse comportamento consumista faz com que mais da metade das brasileiras - ou 54% delas - não consiga guardar nada ou quase nada da sua renda anual para investir. É o que mostra um estudo da Sophia Mind Pesquisa e Inteligência de Mercado. "A compulsão por compras faz parte do universo feminino", destaca Sílvia Alambert, educadora financeira do programa The Money Camp Brasil. De acordo com ela, a educação feminina é tratada de forma diferente da dos homens, ou seja, existe uma crença errônea de que o homem deve prover financeiramente e a mulher gastar. "As mulheres querem ser independentes, mas querem um príncipe encantado que pague suas contas. A questão da educação é um paradigma a ser quebrado", acrescenta a especialista. O sócio da Sophia Mind e coordenador da pesquisa, Bruno Maletta, vê o lado positivo da pesquisa: 46% das mulheres poupam. "Elas têm renda própria, contribuem para a renda familiar e mesmo assim conseguem guardar alguma quantia para investir", observa. O que chama a atenção é a grande proporção de mulheres que optam pela poupança: 73%. Esse número pode ser explicado pela falta de conhecimento em outras opções de investimento e pela segurança de poder contar com o dinheiro a qualquer hora. Na avaliação do coordenador da pesquisa, existe uma problemática na comunicação entre os bancos, corretoras e as mulheres. As instituições financeiras deveriam prestar mais atenção ao público feminino para, dessa forma, oferecerem seus produtos com uma linguagem diferenciada. Quem pretende passar de gastadora a investidora precisa trabalhar a questão comportamental. "A educação financeira se faz por meio da mudança de comportamento. É preciso agir racionalmente quando se trata de economia e investimentos", explica Sílvia Alambert. A história de Paula Schurt, de 36 anos, é um bom exemplo de mudança. Durante a época da faculdade de psicologia, ela ia toda semana ao shopping gastar. Chegou a pagar o mínimo do cartão de crédito e ficar com o saldo devedor no cheque especial. Uma consumista típica. Depois de alguns anos de formada e algumas dívidas acumuladas, ela começou a perceber que sua atitude estava errada e passou a estudar a relação do consumo com o lado psicológico. "A mulher é mais emotiva e preenche o buraco emocional com a compra. Lembro quando eu ficava chateada com alguma coisa, ia ao shopping para comprar ", conta Paula Schurt. Hoje, ela mudou totalmente seu comportamento e trabalha como educadora financeira e psicóloga econômica. Com as finanças em ordem, ela tem aplicações na conta bancária e faz parte de um clube de investimento em ações. A meta é alcançar a independência financeira entre os 55 e 60 anos. A dica do presidente do Instituto Dsop de Educação Financeira, Reinaldo Domingos, para a mulher disposta a investir parte da sua renda é estabelecer objetivos. Mas é preciso traçar metas de curto, médio e longo prazo para a mulher se motivar a poupar e não comprar mais um sapato para a coleção. E a pesquisa da Sophia Mind mostra que 12% delas não têm um objetivo específico para os investimentos. "Se não traçar objetivos fica difícil conter o consumo. A mulher fica mais vulnerável e, muitas vezes, gasta mais do que ganha", alerta Domingos. Mas antes de fazer qualquer aplicação, é preciso saber qual o perfil de investimento: conservador, moderado ou arrojado. Depois, avaliar qual o prazo de aplicação: curto (até um ano), médio (de um a dez anos) e longo (acima de dez anos). Aí sim, avaliar as opções dentro do seu perfil e prazo. Sílvia Alambert indica aplicações atreladas a contratos longos, que em caso de saque prematuro, a investidora é punida. "Assim ela vai pensar bem antes de fazer qualquer compra. Deve ser um modelo diferente da poupança que tem a característica do saque a qualquer hora", pontua a educadora financeira, lembrando que os recursos aplicados não devem os destinado às emergências.