LUÍS AUGUSTO MONACO
Depois de três dias em silêncio, enfim Ganso falou. E confirmou com todas as letras a informação dada ontem com exclusividade pelo JT de que vendeu para a DIS os 10% de seus direitos econômicos que lhe pertenciam e o Santos não se interessou em comprar. A transação foi fechada por R$ 5 milhões.
Enquanto o time treinava, na beira do campo o assunto entre os jornalistas era a notícia dada pelo JT. Será que Ganso passaria pela área de entrevistas ou repetiria a tática da véspera e sairia por outra porta? Se falasse, confirmaria o que foi publicado?
A expectativa acabou pouco depois do treino, porque o meia foi um dos primeiros a entrar na sala. Todos os repórteres se apertavam para ouvi-lo, o que ajudou muitos jogadores a atravessar a área sem serem parados. E logo na primeira pergunta o craque abriu o jogo: "Confirmo que vendi meus 10% para a DIS, que agora tem 55% dos meus direitos contra 45% do Santos."
A cada resposta, o meia foi deixando claro que seu relacionamento com a diretoria não é o mar de rosas pintado pelo otimista Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, e também que continua confiando plenamente nos homens da DIS - embora o presidente santista diga o contrário.
Ele ouviu várias vezes a mesma pergunta: "O que você achou de o Santos não ter querido comprar os seus 10% embora o presidente diga que vai apresentar um projeto para valorizá-lo?" E deu respostas diferentes, sempre acrescentando uma dosezinha de decepção. "Também fico querendo saber o que levou o Santos a não ter interesse em comprar", foi uma. "Não me sinto desvalorizado pelo clube, mas a verdade é que eles não quiseram comprar minha parte" foi outra. "O futebol é assim mesmo, se um não quer vem outro e compra", foi a que mandou o recado de maneira mais clara.
Por contrato, o Santos tinha de ser avisado no caso de Ganso receber uma proposta por seus 10%. Também por contrato, levaria a fatia do jogador se igualasse a oferta recebida. O prazo se esgotou dia 3, data da reeleição de Luís Álvaro, sem que o clube exercesse sua preferência.
"A iniciativa de vender minha parte partiu de mim mesmo, e o Santos foi comunicado sobre isso. Como não quis comprar, vendi para a DIS e fiz um negócio muito bom."
Ele garantiu que, apesar de a parte da empresa ter passado a ser maior do que a do clube, sua vontade de ficar é a mesma. Mas deixou aberta a porta para sair. "Vamos sentar depois do Mundial e ver o que é melhor." Nenhum dirigente apareceu para comentar a situação e dizer se o motivo de o clube não ter comprado os 10% de Ganso foi falta de interesse ou de dinheiro. O vice-presidente Odílio Rodrigues ficou no hotel e Fernando Silva, que faz parte do Comitê Gestor e estava no treino, não é considerado pela assessoria de imprensa como uma voz que represente a diretoria. Dar a palavra oficial do clube será a primeira missão de Luís Álvaro, que chegará amanhã a Nagoya - ele está em Tóquio.
O melhor amigo de Ganso, e também maior astro do time, já deu a sua opinião. Questionado se o meia havia escolhido o momento certo para tomar a atitude que tomou ou se deveria ter esperado o fim do Mundial, Neymar disse o seguinte: "Se ele está feliz, o momento foi certo."