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Para se ter uma ideia do quanto custa caro competir na Fórmula 1, vale a pena navegar pela notícia anunciada nesta sexta-feira, no Circuito Internacional da Coreia, pela equipe Sauber. Em 2014 o time suíço continuará correndo com motor, transmissão e sistemas de recuperação de energia da Ferrari. Valor do contrato de um ano: 24 milhões de euros (R$ 75 milhões).
Na próxima temporada haverá profundas mudanças técnicas na competição. Dentre elas está a substituição do atual motor V-8 de 2,4 litros e cerca de 740 cavalos de potência pelo motor turbo V-6 de 1,6 litro, com 620 cavalos de potência. Dois sistemas de recuperação de energia vão disponibilizar 160 cavalos de potência extra por cerca de 30 segundos a cada volta. Hoje são 80 cavalos por cinco segundos.
Esse valor de R$ 75 milhões contempla o fornecimento de cinco motores por piloto para todo o campeonato, novo limite, em vez dos oito deste ano, o sistema de transmissão, que não pode ser substituído a cada seis etapas, e os dois sistemas de recuperação de energia. Um é o conhecido kers enquanto o outro, bem mais complexo, denominado ters, aproveita a temperatura dos gases para gerar energia mecânica.
Três fabricantes de motores e kers vão fornecer seus conjuntos na Fórmula 1 em 2014, agora denominados unidades motrizes: a Ferrari, para a sua escuderia e as parceiras Sauber e Marussia; a Mercedes, para sua equipe, McLaren, Force India e Williams; e a Renault, para Red Bull, Lotus (provável), Toro Rosso e Caterham.
A Renault não oficializou o fornecimento da unidade motriz para a Lotus. Gerhard Lopes, sócio do time, negocia o estabelecimento de uma parceria mais aprofundada com a montadora francesa a fim de evitar a despesa. A Renault dificilmente aceitará porque já tem um tipo de relação dessa natureza com a Red Bull, três vezes campeões do mundo juntos e perto de serem tetracampeões. Mais: a Lotus deve boa soma à empresa francesa dos motores deste ano, ainda.
As três, Ferrari, Mercedes e Renault, bancam os custos do projeto, construção e desenvolvimento da tecnologia da nova geração dos motores turbo e do novo sistema de recuperação de energia, ters. No caso dos motores, design, metalurgia, eletrônica, materiais, por exemplo, são distintos dos atuais V-8. E quanto ao ters a pesquisa é ainda mais inédita, ao menos no nível de imediatismo e potência que será exigido nos carros de Fórmula 1.
A unidade motriz compreende o motor turbo, seus radiadores de água, óleo e ar (intercooler), e os dois sistemas de recuperação de energia, kers e ters. Os valores não são oficiais, mas no paddock aceita-se que a Ferrari cobra dos seus times, pelo fornecimento da unidade motriz ,18 milhões de euros (R$ 54 milhões), a Renault 19 (R$ 57) e a Mercedes, 20 (R$ 60 milhões).
A punição para o piloto que precisar de um nova unidade motriz, além das cinco permitidas , é dura: largar dos boxes. Se houver necessidade de substituição de um dos componentes da unidade motriz, como a turbina ou um dos sistemas de recuperação de energia, kers ou ters, além das cinco permitidas, o piloto perderá dez posições no grid.
As equipes têm de repassar à FIA antes de o campeonato começar a relação das oito marchas do novo sistema de transmissão. E essa relação será fixa. Em 2014, o regulamento permite uma troca dessa relação. Depois, até 2020, não mais. Nesse período o desenvolvimento dos motores vai se restringir à melhora da sua confiablidade e redução dos custos.
Opinião
Poucas coisas são mais insanas na F-1 que o custo das novas unidades motrizes. Num instante em que a Europa, continente sede de todas as equipes e da maioria dos investidores na competição, atravessa a sua maior crise econômica depois da Segunda Guerra Mundial, cobrar algo como 20 milhões de euros pelo fornecimento de dez motores, cinco por piloto, e seus periféricos, é uma demonstração inequívoca da falta de lucidez dos responsáveis pela competição. Para não chamá-los de inconsequentes.
Tudo bem que se trata de uma tecnologia extraordinária. Essa nova geração de motores turbo representará algo impensável em termos de performance generalizada depois de meia temporada. Até mesmo a introdução de sistemas de recuperação de energia, ainda que os modelos adotados na F-1 não deverão chegar aos carros de série, podemos entender como importantes diante da necessidade de o mundo investir em formas de reduzir o gasto de energia e uma forma é recuperá-la. Nada disso é questionável.
O que leva muitos profissionais da competição pôr a mão na cabeça de medo do que possa acontecer é o completo inoportunismo da mudança. As equipes estão de chapéu na mão para recolher dinheiro para terminar a temporada e continuar investindo no projeto de 2014, seguramente o mais complexo nos 65 anos de história da Fórmula 1.
Resta saber qual o preço que o pacote de mudanças vai cobrar dos que fazem o espetáculo. Não há nenhuma certeza de que os 11 times que disputam o Mundial vão estar dia 16 de março na largada do GP da Austrália. Por impossibilidade financeira. Ou no mínimo haverá diferenças de performance ainda mais chocantes que hoje. E tenha a certeza de que os gastos para enfrentar o próximo campeonato têm responsabilidade direta na questão.
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