Sábado o São Paulo fez sua estreia pelo Campeonato Brasileiro, no Morumbi, frente a um dos mais fracos times que o Botafogo já colocou em campo em sua história. Se o técnico Cuca começara a trabalhar com o time tricolor há 25 dias, Eduardo Barroca assumiu os alvinegros 11 antes da partida.
Em campo, o que se viu foi o vice-campeão paulista com apenas 34% de posse de bola, trocando 229 passes certos contra 628 do Botafogo pelos números do Footstats. Era a comprovação inequívoca de que a proposta são-paulina consistia em não ficar muito tempo com a pelota.
Situação típica do futebol praticado no País. Pelo mundo, confrontos dos mais fortes contra equipes menos técnicas, resultam em números totalmente diferentes. Na Inglaterra, o líder Manchester City teve 70% contra o Burnley. Na Espanha, o campeão Barcelona somou 62% ao bater o Levante. Na Alemanha, 67% para o Bayern, na liderança, frente ao Nuremberg. Na Itália, o vice-líder Napoli teve o mesmo porcentual de posse de bola contra o Frosinone.
Claro que ficar mais tempo com a pelota, trocar mais passes, não significa atuar melhor. Ela pode ser estéril, como a do Botafogo, derrotado por 2 a 0 pelo São Paulo, quando esbarrou em suas imensas limitações.
Mas os tricolores, com material humano melhor, não poderiam se apresentar mais para o jogo? O elenco são-paulino vale mais do que o dobro em comparação com os botafoguenses. Por que recuar após abrir o placar?
“Estávamos com o 1 a 0 a mão, esperando uma retomada em velocidade”, explicou após a vitória o técnico Cuca, questionado sobre a postura do São Paulo, em seu campo enquanto o Botafogo trocava muitos passes. Padrão!
A equipe carioca agora tenta sair do lugar-comum. Barroca busca um jogo de posse. Algo incomum por aqui, para compensar com bom trabalho coletivo as deficiências individuais que precisa enfrentar, e superar.
Cuca poderia ir além, com jogadores melhores, ao abrir vantagem seguir atacando para ampliá-la e assegurar os três pontos o quanto antes. Mas optou pelo pragmatismo, pelo jogo mais pobre, conservador.
É uma estratégia válida, aceitável, mas que de tão corriqueira no Brasil, também escancara a falta de repertório e ambição de treinadores. Raros buscam outras formas de atuar, com apetite de faquir pelo jogo ofensivo, pelos gols.
Na vitória sobre o Corinthians, o Bahia “deu” a bola para o time de Fábio Carille. No comando do time de Salvador, Roger Machado aderiu à moda, pois sabia que esse é o jogo preferido do corintiano, ainda mais fora de casa.
A reflexão proposta não passa pelo chamado “resultadismo”. Até porque times com mais posse venceram, como Flamengo (3 a 1 no Cruzeiro) Atlético (2 a 1 no Avaí) e Ceará (4 a 0 no CSA).
Não existe receita pela vitória, mas o jogo precisa de variações, de equipes que desejem se impor. Especialmente quando indiscutivelmente superiores, com maior investimento e jogadores melhores.
Exceção foi o duelo Grêmio 1 x 2 Santos. O campeão gaúcho é, há anos, o time que mais trabalha com posse e passe no País. Teve 60%. Mas os alvinegros atacaram, não se esconderam, chegando a abrir 2 a 0.
Talvez por isso tenha sido a peleja mais interessante da rodada. Os gremistas de Renato “Gaúcho” Portaluppi impuseram seu estilo. Os santistas de Jorge Sampaoli tiveram menos a bola, mas atacaram, para recuperá-la e buscar o gol.
Que tal mais jogos francos e menos conservadorismo na pelota que rola em Terra Brasilis, senhores treinadores?
O campeonato é longo, disputado e tem tudo para ser bem legal. Façam a sua parte, por gentileza.
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