Mayra usa medalha para cobrar respeito a judocas após críticas na web

Depois da eliminação das maiores esperanças de medalha, judoca pede respeito e moderação

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Por Pedro Fonseca
Atualização:

Com o respaldo de ter acabado de conquistar uma medalha olímpica, Mayra Aguiar rebateu as críticas sofridas por judocas do Brasil que foram atacados na Internet por não terem cumprido a expectativa de uma chuva de medalhas nos Jogos Olímpicos de Londres. Apesar de já ter garantido na capital britânica seu melhor resultado da história em Olimpíadas, com três medalhas, a equipe brasileira de judô teve alguns favoritos derrotados pelo caminho, como os medalhistas em outros Jogos Tiago Camilo e Leandro Guilheiro. Na Internet, alguns judocas foram criticados, principalmente no Twitter, por não terem conseguido chegar ao pódio, o que deixou Mayra indignada. Com seu dever cumprido, a gaúcha, que vai completar 21 anos na sexta-feira, desabafou contra as pessoas que "pisaram nos nossos heróis". "Acho que às vezes o povo brasileiro peca um pouco nisso, de machucar. A gente ouviu bastante coisa na Internet que doeu bastante na gente", disse Mayra, que segurou as lágrimas após vencer a luta que valeu a medalha de bronze, mas ficou emocionada e chorou ao comentar sobre as críticas feitas a seus colegas de equipe. "É duro, a gente sofre bastante com isso. Só a gente sabe o quanto é sofrido as lesões, ficar longe da família. Então só queria pedir um pouco mais de respeito pelos atletas heróis brasileiros que batalham e lutam pelo país", acrescentou. O caso mais emblemático de críticas aos judocas no Twitter aconteceu com Rafaela Silva, uma jovem de 20 anos, moradora da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que sofreu ofensas racistas após ser eliminada por cometer falta numa categoria em que era considerada favorita para subir ao pódio. A judoca respondeu com xingamentos e sua conta foi bloqueada após o incidente. Leandro Guilheiro, o líder do ranking mundial do peso meio-médio (até 81kg) e considerado pelos próprios judocas o líder da equipe brasileira, também foi alvo de ataques de torcedores insatisfeitos com seu desempenho nos Jogos Olímpicos. "O brasileiro é ignorante no sentido de ignorar o esporte dentro de seu próprio país. Criticar e apontar o dedo é a coisa mais fácil do mundo. Essas pessoas não procuraram saber a trajetória do atleta, as conquistas", disse a técnica da equipe feminina do Brasil, Rosicleia Campos. FATALIDADE - Como última esperança real de medalha do judô brasileiro em Londres - os pesados Rafael Silva e Maria Suelen Altheman lutam na sexta-feira sem estar entre os favoritos. Mayra reconheceu que a expectativa da equipe brasileira era ter subido ao pódio mais vezes em Londres. Após o ouro de Sarah Menezes e o bronze de Felipe Kitadai logo no primeiro dia da competição, sete judocas do país foram eliminados antes mesmo de entrar na disputa de medalhas, incluindo Guilheiro, até que Tiago Camilo teve duas chances de subir ao pódio na quarta-feira, mas foi derrotado em ambas. A meta de quatro pódios estabelecida pela Confederação Brasileira de Judô para os Jogos dificilmente será alcançada. "Infelizmente teve muita gente com chance de medalhar que era para ser mas acabou não vindo", lamentou Mayra. "Foi um pouco duro como ocorreu, mais uma fatalidade porque são pessoas que tinham chances reais de ganhar essas medalhas." "Mas eles não vão ser menos ou eu me tornar mais por causa de uma medalha. Não desmerece o ciclo olímpico que a gente fez. Tem 2016, acho que vai ser histórico. É levantar a cabeça de todo mundo e bola pra frente." Mayra, que disputou os Jogos de Pequim com 17 anos e fora derrotada logo no primeiro combate, chegou a medalha de bronze com uma vitória por ippon sobre a holandesa Marhinde Verkerk. A brasileira, que lidera o ranking mundial da categoria meio-pesado (até 78 kg) tinha a expectativa de conquistar o ouro, mas foi derrotada na semifinal pela arquirrival norte-americana Kayla Harrison. Em 10 combates, essa foi a sexta vítória da adversária.