Michael Jackson, sempre

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Por Redação
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Quando Stevie Wonder se sentou ao piano e com a voz embargada disse que não gostaria de estar vivendo aquele momento, fiquei profundamente emocionado. Estou falando do funeral de Michael Jackson, das palavras sinceras e bem colocadas que foram pronunciadas pelo grande cantor e compositor cego e dos dolorosos sentimentos expressos naquele momento em que ele se despedia de seu querido amigo. Chorei ao ouvir a frase, chorei mais ao ouvir as canções, como já havia chorado na noite em que soube da morte de Michael. Era seu fã, admirador de sua música estupenda e também de sua figura excêntrica e única. Estranho sentir tanto a perda de alguém que você não conheceu pessoalmente, mas que de certa forma é parte daquilo que te compõe, daquilo que te construiu, daquilo que te constitui como indivíduo, no gosto e no jeito. Confesso que, aos 46 anos de idade, senti a perda de Michael Jackson como se eu ainda fosse um menino encantado por seus ídolos. E mesmo aqui escrevendo sobre esse tema que parece descabido para esse espaço, vejo na minha relação com Michael Jackson o sentido desse artigo. Há duas categorias de pessoas que sempre me impactaram dessa forma arrebatadora e mística, que fez da minha admiração uma espécie de parâmetro para reconhecer e estender meus próprios limites estéticos e sensoriais: músicos e jogadores de futebol. Michael Jackson, embora quase da minha idade e tendo a mesma profissão que eu, sempre me encantou: dos tempos do Jackson Five, quando assistia aos desenhos do Globo Cor Especial e dançava ao som de sua música, até esse último momento quando aguardava com curiosidade, felicidade e expectativa seu retorno aos palcos. Um dos momentos mais marcantes de minha formação musical aconteceu há trinta anos, 1979. Voltava de ônibus do Colégio Equipe com meu amigo Tuba, íamos para sua casa almoçar. Tuba tocava guitarra e gostava de jazz, era fã de Chick Corea e Hermeto Paschoal. Eu era mais do rock, embora naquele tempo estivesse pirado com Bob Marley. Chegando em sua casa ele me mostrou "Don''t Stop?til you get enough", do primeiro álbum-solo de Michael Jackson "Off the wall". Fiquei louco. Passamos a tarde ouvindo a mesma música. Comprei o LP e também um compacto que eu levava para todas as festas que ia - a música ainda era novidade. Passaram-se alguns anos até que ele lançou "Thriller" e se tornou esse ídolo mundial, esse ícone responsável por definir os rumos de toda a música pop foi feita a partir dali. O resto todo mundo sabe. A notícia da morte de Michael Jackson me abalou de um jeito que morte alguma de um esportista jamais havia me tocado. Talvez a morte de Ayrton Senna tenha tido esse impacto, pois do grande piloto eu também era muito fã. É certo que os meus ídolos do futebol ainda estão vivos, mesmo que alguns deles já não estejam em campo - a "vida útil" de um esportista é mais curta, sua atividade profissional tem limites impostos pelo tempo. Não sei o que vou sentir quando algum deles for embora desse mundo. Não pretendo aqui revelar qualquer nova impressão sobre assunto tão discutido, tão noticiado. Nesse feriado perdido no mês de julho, pouca gente está em São Paulo. Sobrei aqui longe de todos que amo. Mas sei que, se de tarde resolver pegar um cinema, vou poder ligar o som do carro e contar com a companhia magnífica da música de Michael Jackson. Não terei vergonha nenhuma de sair berrando "Wanna be startin somethin" sozinho, de vidro aberto, como se estivesse indo para o estádio ver um dos meus ídolos jogar.

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