"Eu não consigo mais" "Peço desculpas. Não é que eu queira parar. Mas eu não consigo mais..." - disse Gustavo Kuerten, chorando copiosamente, para a emocionada platéia do Brasil Open. O maior tenista brasileiro de todos os tempos e ex-número um do mundo se despediu do torneio da Costa do Sauípe no dia 12, após ter sido derrotado pelo argentino Carlos Berlocq e, sobretudo, pelas dores crônicas em seu quadril, responsáveis pelo encerramento precoce de uma carreira brilhante e inesquecível. No dia seguinte, aos quinze minutos do segundo tempo do jogo Milan x Livorno, Ronaldo fez menção de saltar para tentar uma cabeçada. Não conseguiu. Uivou de dor, levou as mãos ao joelho e desabou no chão. O choro do maior artilheiro da história das Copas não deixava dúvida: havia sofrido mais uma grave contusão, numa carreira marcada por graves contusões. Há quem diga que o episódio marcará o fim de sua carreira - também brilhante e inesquecível. Os dois dolorosos episódios, envolvendo os maiores ídolos esportivos brasileiros desde o final da última década, nos forçaram a uma reflexão sobre a melancolia do final das carreiras e, especialmente, sobre o desolamento das carreiras abreviadas. Da mesma maneira que ficamos melancólicos quando acaba um filme bom, o final de semana, não gostamos de ver um grande craque dizer adeus. Vejam a novela Romário, na qual grandes clubes se digladiam apenas pelo privilégio de ver o veteraníssimo craque de 42 anos se despedir com suas camisas. O próprio Romário não se cansa de demonstrar o quanto dói colocar um ponto final na carreira. Chorou ao se despedir da seleção, ao marcar o gol mil e até durante o julgamento que o possibilitou jogar mais algumas partidas. Não é difícil me surpreender chorando na despedida de um ídolo do esporte, seja do atletismo, em sua última volta na pista; do boxe, após vencer adversário medíocre ou perder de alguém muito mais jovem; no futebol, em jogos beneficentes, repletas de barrigudinhos; e até nos esportes norte-americanos, que adotam a belíssima prática de "aposentar" o número das camisas dos principais ídolos, hasteando-as no teto dos estádios. É, por assim dizer, um choro de emoção, muito mais do que de tristeza. Já a dor de Guga e Ronaldo nos levam a um choro diferente, de tristeza e frustração. Parar no fim é difícil. Parar antes do fim é devastador. Até onde teria chegado Guga, tricampeão de Roland Garros e grande vencedor do Master Series - quando venceu um a um todos os grandes tenistas de sua geração -, se sua carreira não fosse abreviada pelas dores no quadril e as sucessivas cirurgias para tentar eliminá-las? Será que Nadal teria sido páreo para o Manezinho da Ilha no saibro francês? E o todo-poderoso Federer? Seria tão todo-poderoso assim diante de um Guga imbatível no barro e cada vez mais consistente nas superfícies rápidas? E o Fenômeno? Quantos outros gols ele teria marcado em copas, caso tivesse jogado sempre com as melhores condições físicas? Teríamos perdido da França em 1998 e 2006 com ele voando em campo? Perguntas assim me deixam louco. E triste, com vontade de choraras mesmas lágrimas vertidas por nossos campeões. Desejo a Guga um adeus honro e guerreiro em Roland Garros. E a Ronaldo, que volte a jogar e só se despeça do futebol após ter marcado muitos gols pelo seu amado Flamengo. Como dizem os boxeadores, um campeão tem sempre a última grande luta guardada no coração. Que o coração dos nossos dois grandes ídolos possa ter essa última luta muito bem guardada.