Havia um futebol antes da Copa. Era o praticado pelo Santos. Ficamos entusiasmados. Eu mesmo escrevi uma coluna a respeito pois, por momentos, tinha me reencontrado com o esporte que segui por tantos anos. Mas veio a Copa, e como se um mágico subitamente surgisse em cena e num truque de extrema habilidade transformasse tudo, de repente nos vemos de novo diante do desolador futebol que havia primeiro. Talvez tenha sido a própria Copa a executar esse número de mágica. Quando se vê uma Holanda distribuindo pontapés por todos os lados, bufando e correndo como nunca, chegando junto da maneira mais grosseira e definitivamente abdicando do talento e do toque de classe que sempre a caracterizou, é porque alguma coisa acabou. E acabou pra sempre. Nos iludimos, nós, os veteranos, que nossos antigos ídolos, os Ademir da Guia, os Gerson, etc, jogariam no futebol de hoje. Confesso que tenho sérias dúvidas. Para não confessar de uma vez que algo me diz secretamente que não, não jogariam. O físico venceu, vamos reconhecer. Os velhos jogadores de outras épocas não teriam tempo nem sequer de levantar a cabeça antes de terem em cima dois ou três truculentos adversários, fortes, incansáveis, e sem nenhuma habilidade. A Copa foi a grande prova disso. O Brasil, até mesmo, jogou desse jeito. Pouco reconheci do velho jogador brasileiro naquele conjunto de atletas correndo e batendo como nunca se viu. É isso o novo futebol. Venceram os fisicultores, venceram os brancos. Os crioulos atrevidos, cheios de ginga e habilidade estão levando a lição que merecem. Precisavam ser contidos e foram. A vitória dos brancos vai até o ponto de transformar os próprios negros em brancos. O ala Maicon, por exemplo, me dá a impressão de ter se transformado em branco e alemão. Parece que, ao contrário de qualquer jogador brasileiro do passado, prefere o corpo a corpo, se compraz nas divididas e ganha quase todas. Há alguma semelhança entre ele e, por exemplo, o velho Djalma Santos, só para ficar com alguém da posição? Por isso, estou convencido de que definitivamente um tipo de futebol está morto e enterrado. Restam algumas visões fugazes do que ele foi e de quanto pode ser belo, quando, por instantes, surge um time como foi o do Santos de antes da Copa do Mundo. Como uma miragem ele passou por nós, como lembranças num filme de época. Agora parece não existir mais. André já foi embora, sabe Deus para onde. Neymar não sabe mais o que fazer com as propostas e, enquanto pensa, parou de jogar. Aliás, se for embora, quando regressar será mais um jogador transformado em europeu e branco. O Ganso também caiu e o Santos caminha para, talvez, voltar a ser um time como os outros. Melancolicamente retomamos nosso Campeonato Brasileiro e a Libertadores, interrompidos pela Copa. E o desânimo vem da nossa participação pífia nesse torneio que fez com que voltássemos os olhos para dentro do país, à procura dos jogadores que o Dunga não levou. E verificamos que são poucos, muito poucos. Não sei se estou certo, mas vejo uma certa indiferença por aí, um ar de ressaca. A ressaca vai acabar, ela nunca dura muito, de qualquer modo. O país sempre supera suas crises e de uma maneira ou de outra vai em frente. Mas por agora leio nas caras dúvidas incômodas."E agora, José?A festa acabou,a luz se apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?"