Os novos donos da bola

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Por Redação
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O cartola está com os dias contados. Essa instituição tão criticada, mas com imagem e atuação intimamente ligadas ao futebol, tende a desaparecer, assim como o mito do amor à camisa. O personagem todo-poderoso, que manda no clube mais do que na casa dele, talvez ainda não se tenha dado conta, porém aos poucos é substituído por outro mais forte e duradouro - o Investidor. É, amigo, sai o manda-chuva muitas vezes folclórico, tosco, esperto, antiquado, e entra em cena o Investidor. Nem sempre se sabe quem é, mas importa que o reverenciem como novo dono do dinheiro, da bola, das camisas, de torneios e regulamentos, de corpos e chuteiras. Essa entidade mal-delineada é tudo e nada: uma hora se materializa na forma de empresa multinacional interessada em divulgar seus produtos - quem sabe um iogurte, um parmesão, um leite de caixinha? Em outro momento, pode ser um fundo de investimento que aplica o dinheiro de velhinhos estrangeiros. Pode tratar-se (toc! toc!) de consórcio de mafiosos internacionais, que aparece do nada e para o nada vai. Pode ser um empresário cheio da nota, que contrata um monte de jogadores e fica mais rico. São os tais parceiros. Os salva-vidas dos clubes cada vez mais estendem seu poder no mundo da bola - os atletas se deram conta disso e lhes prestam obediência. Prova firme dos tempos que correm foi dada por Diego Souza. Na edição de ontem do Lance!, o meia mostrou ter decorado a cartilha da realidade do futebol. Em entrevista ao repórter Thiago Salata, disse o que pensa das críticas que, um dia antes, havia recebido de Affonso Della Monica. O presidente do Palmeiras apenas se queixou de seu desempenho oscilante. "Se ele não está satisfeito, tem de chegar no investidor", retrucou o candidato a astro, contratado pela Traffic e desde o início do ano no clube. Alguma dúvida a respeito da limpidez do recado? Em outras palavras, Diego Souza mandou seu teórico patrão reclamar com quem de fato banca os salários que recebe. Sem meios-termos, revelou a quem considera deva prestar contas. No fundo, nem acho que esteja errado; segue as regras do jogo. Mas imagino, então, o senhor Della Monica numa roda com jogadores do Palmeiras, antes de um jogo ou de um treino, a cobrar empenho, a pedir ânimo e coragem. Como vai repercutir seu recado - ou bronca, tanto faz - para muitos de seus subordinados? Sei lá, alguns olharão para o nada, outros bocejarão. Haverá quem prefira ouvir música no Ipod ou atender a um chamado sempre urgente no celular. É possível até que, depois que o cartola se for, um ou outro ligue para seu empresário ou para o Investidor e pergunte como deverá agir na próxima vez em que levar puxão de orelhas de "estranhos". Pois o cartola, e aqui o entendo como o Clube, logo virará figura decorativa. O jogador? Ah, tanto faz a camisa que esteja a vestir - ela é apenas o uniforme temporário que lhe foi oferecido pelo Investidor. E ele irá para onde seu mestre mandar. HEXA À VISTA O São Paulo deve fazer a festa de mais um título brasileiro neste domingo. Vá lá que o Fluminense possa atrapalhar - não me parece impossível. Ainda assim restará uma chance, na rodada derradeira, e o hexa será realidade no Morumbi. O São Paulo tem cartolagem cheia de prosa e salamaleques. Mas não se pode negar que, salvo informação em contrário, ela tem o controle do clube, pois a competência é sua grande parceira.

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