Exceção à regra. Daniel Dias (esq.) vive somente do esporte, graças a patrocínios e palestras
Os nadadores paraolímpicos da seleção brasileira pedem um basta ao preconceito e buscam reconhecimento do grande público. Querem ser vistos como atletas de alto rendimento e não como "coitadinhos". Um dos lemas desse esporte é falar menos da deficiência e mais da eficiência de cada um. "A gente não é diferente de ninguém. Não há distinção entre olímpico e paraolímpico. É o mesmo sacrifício, o mesmo sofrimento e a mesma recompensa", disse Andre Brasil, um dos destaques da natação paraolímpica. Definindo-se como um eterno sonhador, ele acredita que dias melhores estão por vir.
"Nós não nos cansamos de mostrar seriedade. Talvez a visão sobre o nosso trabalho seja limitada. Creio que, em alguns anos, isso melhore. Talvez eu não esteja mais competindo para ver essa mudança...", emendou o nadador de 26 anos e muitas medalhas. "No nosso caso, só nos resta ganhar. Estamos crescendo e não podemos parar".
Discurso eloquente, Andre Brasil não se preocupa apenas com o presente. Em sua visão, o futuro do esporte que aprendeu a amar é tão importante quantos os recordes quebrados no Mundial de Eindhoven. Dar exemplo e apostar no surgimento de novos ídolos é a sua bandeira. "Em 2004, em Atenas (no qual faturou seis ouros e uma prata e chegou a ser comparado ao americano Michael Phelps), o Clodoaldo (Silva) chamou a atenção das pessoas para o esporte paraolímpico. Agora, eu também falo: vem que estamos precisando".
Ele fala isso por experiência própria. Tanto ele quanto Daniel Dias, outra estrela da natação, passaram a viver das braçadas n’água por causa do ídolo Clodoaldo, a quem são gratos. "Ele formou dois atletas. E nós dois podemos formar mais quatro daqui a pouco tempo".
Agradecido pelos elogios, Clodoaldo Silva quer deixar como legado um respeito maior à classe. "Atleta com deficiência não vai para as competições para se divertir. Vai para brigar por medalhas. Temos o nosso valor. Não treinamos duro à toa", reforçou, convicto de que há avanços.
Apesar de se aposentar na Paraolimpíada de Londres, em 2012, o nadador de 31 anos já pensa nos Jogos de 2016, no Rio, e cobra investimento para que a equipe brasileira brilhe diante de sua torcida. "Temos que trilhar um bom caminho. Não vamos querer ser um simples anfitrião. É preciso investir mais desde ontem, para trabalhar as categorias de base e revelar mais talentos", ressaltou Clodoaldo.
Atualmente, Daniel Dias e Andre Brasil são exceções: vivem somente do esporte e recebem cerca de R$ 25 mil por mês.
Medalhas. O Brasil conquistou duas medalhas ontem no Campeonato Pan-Pacífico em Irvine, Estados Unidos. César Cielo foi medalha de prata nos 50 metros livre, tempo de 21s57, perdendo para o norte-americano Nathan Adrian, 21s55. Thiago Pereira foi bronze nos 200 m medley, com 1min5783.
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