Obstinada, articulada e gloriosamente talentosa, Marion Jones foi uma sensação imediata na primeira vez que competiu na Europa, em 1997. Enquanto Carl Lewis se despedia dos grandes estádios do continente, ela encantava adversários, espectadores e jornalistas. E, três anos depois, entrava num território no qual nem Lewis nem Jesse Owens haviam se aventurado. Na Olimpíada de Sydney-2000, ela planejava acrescentar o título do revezamento 4 x 400m às medalhas de ouro dos 100m, 200m, 4 x 100m e salto em distância, que Lewis havia ganhado em Los Angeles-84, e Owen em Berlim-36. Jones terminou com três ouros e dois bronzes, foi capa da Vogue, da Time e da Newsweek e assinou contratos milionários. Sete anos depois, aos 32, ela se tornou uma pária do esporte ao confessar, às lágrimas, que havia usado doping antes das vitórias em Sydney e também, segundo o Los Angeles Times, que está totalmente endividada. Na sexta-feira, Jones foi sentenciada a seis meses de prisão por ter mentido a promotores federais a respeito do uso de esteróides. A história de Jones começa em Los Angeles. Ela idolatrava a bicampeã olímpica Florence Griffith Joyner, que morreria dormindo dez anos depois. Tornou-se uma grande atleta, mas deixou uma mancha em seu currículo: quando adolescente, Jones faltou a um exame antidoping, e sua mãe contratou um advogado para evitar uma suspensão de quatro anos. DERROCADA Jones casou-se com o corpulento arremessador de peso C.J. Hunter, que fora campeão mundial em Sevilha-99, mas desistiu dos Jogos de Sydney, alegando uma lesão de joelho. Na Austrália, Jones venceu as provas dos 100 e 200 metros, e conseguiu o bronze no salto em distância e no revezamento 4 x 100m. Fazendo uma volta impressionante na terceira passagem, ela deu o ouro à equipe norte-americana também na prova dos 4 x 400m. Mas então uma sombra já havia caído sobre Sydney, quando Hunter admitiu que havia dado positivo para o esteróide nandrolona quatro vezes em 1999. Jones manteve-se impassível ao lado do marido numa concorrida entrevista coletiva. O mesmo fez o ex-músico de jazz Victor Conte, que se apresentou como nutricionista de Hunter e disse que os exames positivos podiam ser resultado de um suplemento de ferro contaminado. Conte era diretor do laboratório Balco, que fabricava drogas pesadas para enganar os exames -- um escândalo que estourou quanto Trevor Graham, técnico de Jones, mandou anonimamente uma seringa do novo esteróide tetrahidrogestrinona para a Agência Antidoping dos EUA, em 2003. Jones negou ter usado doping e se separou de Hunter. Em 2002, juntou-se a Tim Montgomery, que havia sido recordista mundial dos 100 metros rasos em Paris e se tornaria o primeiro a bater a marca que Ben Johnson obteve com ajuda do doping na Olimpíada de Seul-88. O fato de o casal ter treinado com Charlie Francis, que fora técnico de Johnson, trouxe uma publicidade negativa para Jones e Montgomery. Ela não disputou o Mundial de Paris-03, pois estava grávida. Em 2004, já sob fortes suspeitas, não conseguiu medalhas na Olimpíada de Atenas. Sua carreira então experimentou um declínio lento, mas inexorável, mesmo que ela continuasse veementemente negando o doping. Em 2005, a Corte de Arbitragem do Esporte concordou que havia provas suficientes de que Montgomery havia usado drogas da Balco, e ele foi suspenso por dois anos. Jones escapou da suspensão em 2006, quando um primeiro exame de urina deu positivo para a substância EPO, mas a contraprova a absolveu. Em 2007, ela finalmente admitiu que havia consumido esteróides antes dos Jogos de Sydney, e todas as suas marcas subsequentes foram desqualificadas.