O São Paulo foi mais time do que o Corinthians na Neo Química Arena. As duas equipes mostraram exatamente onde estão no entrosamento e reconstrução dos elencos, ou construção deles em andamento nas competições. O Corinthians foi mais coração, e não podia ser diferente. É sua maior característica. Como disse o técnico português Vítor Pereira, “quando não der na bola, vai na raça”. O São Paulo, principalmente no primeiro tempo, foi mais postado, bem distribuído e organizado.
Fez seu gol ainda na etapa inicial, com o bom Calleri. Mas ainda estou para ver um treinador brasileiro que não recua seu time quando está na frente do placar, como fez Rogério Ceni no segundo tempo em Itaquera. Errou. Mudou a formação, talvez pensando em confundir o rival, mas se deu mal, porque perdeu o “mando” da partida, recuou e, claro, trouxe o Corinthians e 45 mil corintianos para dentro do seu campo.

Não se faz isso na condição de visitante. Teve medo de perder e faltou coragem para ganhar. Foi levando a vitória parcial com muito custo, mais do que se tivesse continuado na mesma pegada, forte e com a bola sob seu controle, deitando pela esquerda com Reinaldo e perigoso no ataque. Teve bons momentos, marcou mais e, como se imaginava vendo a partida, sofreu o empate – assim, não quebrou o tabu de 16 jogos sem ganhar na casa corintiana, inaugurada em 2014 para a Copa do Mundo.
O empate, além de não ter sido suficiente para quebrar a escrita são-paulina em Itaquera, impediu que o time de Ceni assumisse a ponta do Campeonato Brasileiro, onde ele queria estar, e teve chance para isso, após sete rodadas. A vacilada do São Paulo não tira, no entanto, o mérito de seu crescimento. Já é um dos times mais bem organizados da disputa.
Tem um caminho para percorrer, mas está no trilho. O Corinthians ocupa degraus abaixo na formação, tem ainda jogadores que não conseguem atuar 90 minutos, como Willian, que deixou o jogo aos 30 do segundo tempo, mas descobre uma mescla de veteranos e jovens que já é a proposta de Vítor Pereira.
Ninguém no time parece aguentar um jogo inteiro, nem individual nem coletivamente. É um problema. O jogo em Itaquera foi disputado, bastante travado num perde e ganha, com algumas poucas jogadas bonitas, um drible aqui, uma tabela ali e alguns chutes a gols. Nada muito além disso, com Cássio trabalhando mais do que Jandrei, até se machucar e sair no fim.
A bronca fica com os organizadores do futebol em São Paulo, dos clubes à polícia, passando pela CBF e promotoria pública, todos incapazes de colocar duas torcidas no estádio. No Rio e em Minas, os clássicos voltaram a ter torcedores rivais e festa dos dois lados, como deve ser o futebol. Em São Paulo, em nome da segurança e dos números de brigas, isso não é possível. Um fracasso.