
Sem futebol, os torcedores uniformizados levantaram outra bandeira e compraram nova briga, desta vez contra seguidores do presidente Jair Bolsonaro em nome da Democracia. Não se trata da Democracia Corintiana, que antecedeu as Diretas Já! da década de 80 pelo voto direto do povo para eleições presidenciais. Essa Democracia seria pelo Brasil. Em princípio, as torcidas dos quatro clubes paulistas, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, com sua truculência característica, tomou a avenida Paulista de assalto até o encontro com rivais de verde e amarelo, seguidores de Bolsonaro. Também como de costume no futebol dos últimos anos, bastou cruzar com cores diferentes para tudo descambar. A Polícia Militar tratou de "separar" a confusão da maneira que sabe, contra atacando o lado mais briguento. E tudo se resumiu nas imagens que vimos ao longo do dia.
Os interesses das torcidas do futebol não são claros. Atos que destruam a cidade e provoquem ataca e contra ataque vão na contramão da discussão esportiva e, principalmente, política nesse momento de tanta faísca e prestes a explodir. É difícil saber por que o futebol entrou nessa, a mando de quem e com qual objetivo. Defender a Democracia num País democrático pode parecer a melhor resposta ou a resposta pronta. É preciso entender melhor. A chamada para a manifestação pró-Democracia deveria ter sido em tom pacificador, no plano das ideias e mostrando ao Brasil que o governo vai enfrentar resistência por qualquer ato e conduta não democrática vindo do presidente Bolsonaro. Isso é importante em qualquer movimento.
Ocorre que os meios neste caso podem não justificar os fins. O futebol já tem os seus próprios problemas. Se armar e partir para o confronto e destruição pública, com violência descabida e barricadas, não vai ajudar a trazer o entendimento. O rastro de estragos na avenida paulista deixado pelo lado dos torcedores de futebol em enfrentamento com a PM só mostra, no caso, que agora há dois grupos prontos para brigar. Desta vez a polícia condenou os torcedores. Há duas semanas, no entanto, quem se insinuavam e empunham seus credos eram os manifestantes pró-Bolsonaro, como fizeram em mais de uma vez em Brasília, intimidando a todos, e agredindo covardemente jornalistas, com seus gritos de guerra e maior número aglomerado.
O que os atos dos torcedores dos clubes de futebol de São Paulo fizeram na avenida Paulista foi deixar claro que há uma nova infantaria nessa guerra e ações violentas, se for o caso. Isso só coloca mais lenha na fogueira, em que os dois lados se provam armados e dispostos ao confronto. Não tende a acabar bem. Talvez amanhã a turma do futebol volte para suas origens. Se isso não acontecer, e as coisas avançarem, essa turma terá começado um novo movimento no País. Os dias dirão.