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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Leila Pereira ameaçada de morte, Luan agredido num motel e Braz provocado no shopping: até quando?

Futebol passa do ponto e não respeita mais limites: instituições precisam intervir e nós não podemos achar que tudo isso é normal; presidente do Palmeiras pede providências das instituições e reforça segurança

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Leila Pereira está correta em denunciar e se precaver das ameaças de morte que diz receber de torcedores do Palmeiras. Ela tem uma ação contra três membros da Mancha e não pretende baixar a guarda em suas viagens com o time para os jogos, tampouco deixar de se proteger em locais públicos. Ela já tem uma decisão favorável de medida protetiva contra esses três membros da torcida organizada e vai reforçar medidas para que nada lhe aconteça.

Ao desembarcar em Buenos Aires com a delegação para a partida do Palmeiras contra o Boca Juniors, Leila abordou o assunto. “Quem ameaça de morte a presidente tem de ser processado. É preciso tomar providência. Como queremos ter um futebol melhor se nossas autoridades não protegem quem tem de ser protegido?”, disse, cobrando mais ação das instituições públicas. Está certa. E isso vale para todos. Há seguranças particulares protegendo a presidente.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, reforça segurança após ameaças de morte de torcedores do time Foto: Cesar Greco/ SE Palmeiras

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Isso é um absurdo. Isso não combina com o futebol nem com o povo brasileiro, pelo menos não combinava. Tudo agora parece ser resolvido dessa maneira, na borrada e na bala, nas ameaçadas e na pancadaria. Isso tem de acabar no futebol e na sociedade. Órgãos competentes devem tomar medidas mais duras. A CBF deve entrar no jogo e, de alguma forma, não permitir que seus personagens sofram com esse tipo de ameaças. O futebol virou caso de polícia.

Lembram do atacante Luan, que foi ameaçado de morte dentro de um motel em São Paulo, com pessoas armadas? Ele deixou o Corinthians depois disso. Nada aconteceu com esses torcedores que falaram em nome do clube e da torcida uniformizada Gaviões da Fiel. Mais recentemente teve a história do Marcos Braz, dirigente do Flamengo, que também foi ameaçado dentro de um shopping no Rio. O caso continua sendo apurado.

São cenas lamentáveis de cobranças que não cabem no esporte. E todos nós estamos achando isso normal. É normal a presidenta do Palmeiras receber ameaças de morte? Não. Não pode ser normal. Não podemos nos acostumar a isso nem deixar de falar. É normal um jogador ser agredido e ameaçado num momento de sua intimidade ou folga? Não. Não é. É normal um dirigente ser provocado num lugar público com sua família? Jamais.

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Olhamos para essas cenas, reais, no entanto, e achamos graça, aceitamos numa boa, não nos manifestamos e, pior, não cobramos nada das instituições. Não há providências enérgicas e rápidas. O que se faz é separar a briga e levar o caso para uma delegacia. Depois disso, tudo esfria, some, é arquivado.

Tudo cai no esquecimento quando se trata do futebol, de seus personagens e instituições, como se no futebol essas coisas pudessem acontecer, como se dirigentes e jogadores pudessem ser ameaçados de morte ou agredidos a cada derrota ou título perdido. No caso de Leila é por falta de reforços, por ingressos caros... Não dá, né.

É por isso que o futebol está desacreditado, que os atletas vão embora do Brasil na primeira chance, mesmo se for para atuar em praças menores. Está mais do que claro que passamos do ponto e precisamos voltar no tempo de onde permitimos essa ruptura com a segurança e o respeito, com a tolerância. Ganhar e perder faz parte do jogo, analisar e apontar caminhos também, assim como torcer, aplaudir e vaiar... tudo certo nesse sentido. Mas não podemos nos permitir, cada um de nós, de passar deste ponto. De achar que o atleta que perdeu um gol deve morrer. Ou que um dirigente que não contrata reforços tem de andar com seguranças. Onde estão as leis desse País? Onde estão as pessoas de bem? Quem é que vai colocar um freio nessa loucura?

O torcedor é passional, sabemos disso, mas ele não é burro nem pode se fazer passar por burro, inconsequente, ameaçador e sem saber das penas de seus atos. Se uma torcida se propõe a ser organizada, seja ela qual for, precisa ter uma liderança mais forte, que não se permita esse tipo de comportamento de seus membros. E não me venha com aquela desculpa esfarrapada de que não se consegue controlar a todos. Então, não tem organização. É torcida desorganizada. Ações isoladas precisam ser revistas e punidas também. Essas pessoas não tem CPF? Não vão presas e ficam mofando na cadeia até que tudo seja esclarecido, podendo levar meses ou anos para isso? Algum exemplo precisa ser dado. As entidades precisam também entrar no jogo. Sem elas, isso não vai mudar.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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