Em uma reunião realizada neste sábado na Coreia do Sul, o COI encerrou a suspensão do Comitê Olímpico do Brasil e restabeleceu a entidade dentro da família Olímpica. O principal argumento foi de que a entidade brasileira, apesar de ter sido controlada por Carlos Arthur Nuzman por 20 anos, não esteve envolvida nas suspeitas que recaem sobre o ex-dirigente brasileiro de ter comprado votos para garantir ao Rio de Janeiro a sede dos Jogos de 2016.
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Em outubro de 2017, diante da prisão de Nuzman e da investigação sobre a compra de votos para a realização dos Jogos do Rio, o COI optou por cortar todas as relações com o movimento olímpico nacional, suspender o COB e afastar Nuzman. Todas as transferências financeiras foram congeladas e o COI indicou que não iria ajudar a Rio-2016 a bancar o rombo que foi deixado.
A condição para que a entidade brasileira fosse readmitida seria uma ampla reforma e uma mudança de sua liderança.Para o COI, essa reforma deu provas de estar ocorrendo e, por isso, a entidade brasileira foi aceita de volta no movimento olímpico. "O processo de revisão do estatuto do COB e sua governança interna foi finalizado com a coordenação do COI, para garantir que a Carta Olímpica fosse integralmente aplicada", afirmou o COI, em um comunicado.
O "novo COB", segundo o COI, conseguiu aprovar suas novas leis em novembro. Elas entraram em vigor um mês depois.
Dentre as reformas, se destacam as mudanças no estatuto da entidade, a criação do Conselho de Administração e do Conselho de Ética. Pelo novo regimento, 12 atletas poderão participar das eleições da entidade - antes, apenas o presidente da comissão de atletas era permitido. Outro ponto é a assinatura do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério do Esporte, que visa manter a transparência do COB em sua governança.
AUDITORIA
Mas um dos fatores que mais pesou foi a constatação de um auditor independente que concluiu que o COB não participou das suspeitas de compra de votos pela Rio2016. Nuzman era presidente do Campanha da Rio-2016, assim como do COB, acumulando dois cargos numa atitude rara entre os dirigentes esportivos.
Segundo o auditor, porem, não houve qualquer indicação de que o COB, como entidade, esteve envolvida em irregularidades e acusações contra Nuzman e que "continuam sendo investigadas pelo Ministério Publico contra Nuzman". Controlado pelo ex-cartola durante duas décadas, o COB passou a depender de Nuzman e de suas decisões.
Além das reformas, um auditor independente foi nomeado para fiscalizar as contas da entidade brasileira e avaliar os pagamentos realizados entre 2008 e 2010.Teriam sido nesses anos que os pagamentos das supostas propinas foram pagas. Nos EUA, Brasil e França, o dirigente continua sendo investigado por corrupção.
O fim da suspensão ainda garante que o COI repassará recursos que haviam sido bloqueados, há quatro meses. No total, serão cerca de US$ 5,2 milhões que entrarão nos cofres da entidade brasileira.
Por enquanto, porém, o COI não se pronuncia sobre a retomada das negociações para lidar com o rombo deixado pelos Jogos Olímpicos, que chegaria a mais de R$ 100 milhões. Nuzman, antes de deixar o cargo, pleiteava um resgate da entidade internacional, que rejeitou a ajuda.
“É um reconhecimento ao trabalho e ao esforço que o Comitê Olímpico do Brasil vem fazendo ao longo dos últimos três meses, pautados na austeridade, meritocracia e transparência e em conformidade com a Agenda 2020 do COI”, disse o novo presidente do COB, Paulo Wanderley, que viaja neste fim de semana para PyeongChang, onde acompanhará a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.
A suspensão de Nuzman, porém, foi mantida e o brasileiro perderá a primeira olimpíada em mais de 20 anos.
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