A discrição no retorno de Michael Schumacher ao GP do Brasil, depois de quatro anos, é tanta que chama a atenção em Interlagos. O único heptacampeão da história da Fórmula 1 não faz questão dos holofotes, que tampouco o têm perseguido. O alemão consegue percorrer o paddock sem ser incomodado por fãs nem jornalistas. Nas coletivas, reúne um grupo modesto, formado em boa parte pela imprensa alemã. Após o segundo treino livre, ontem à tarde, Schumacher seguiu o protocolo e deixou os boxes para dar entrevistas. Diante de quatro gravadores e um microfone, respondeu a quatro perguntas em alemão e, em inglês, deu seu parecer a um jornalista brasileiro que perguntou sobre as chances de a temporada se encerrar amanhã. "É improvável." Andou alguns metros e parou para discutir o desgaste dos pneus com três mecânicos. Ficou ali, no meio da área de circulação dos paddocks, durante cerca de três minutos. Não foi incomodado e pouco chamou a atenção de quem passava pelo local. Quando resolveu voltar para os boxes, dispensou com um sorriso a dupla que esperava pacientemente para tirar fotos e seguiu sem ser abordado. Na porta dos boxes, ainda ouviu o grito de "Schumi", vindo de um HC próximo. O alemão acenou com a mão, vagamente, antes de entrar. Contraste. O contraste em relação à passagem de Schumacher pelo País em 2006 é marcante. Naquele ano, ele fez sua despedida da categoria e causou furor poucas vezes visto no circuito brasileiro. Enquanto Schumacher e Alonso disputavam o título na pista de Interlagos, público e imprensa do mundo todo brigavam nos bastidores por cada espaço do autódromo para chegar perto do alemão. Schumacher nem sequer podia ir ao banheiro tranquilamente - seguranças tinham de barrar jornalistas e fãs na porta. Fotógrafos se acotovelavam ao lado da entrada apenas para registrar o momento em que Schumacher passava seu crachá. Ele roubou até a atenção que estava sobre o companheiro brasileiro Felipe Massa, que conquistava sua primeira vitória no Brasil.O alemão teve problemas naquele dia, chegou a se envolver num acidente, caiu para as últimas colocações, mas se recuperou. Fez uma prova prova brilhante e chegou mesmo a assustar o espanhol Fernando Alonso, que, no fim, acabou se sagrando campeão mundial.Anonimato. Desta vez, longe da briga pelas primeiras posições, a falta de assédio o deixa quase no mesmo patamar dos pilotos menos conhecidos. Tem sido assim em todas os GPs desde que ficou claro que Schumacher não disputaria o título, na primeira metade da temporada. Ele parece satisfeito com o "anonimato" e desencoraja a aproximação de repórteres. O melhor resultado obtido pelo alemão neste ano foi um 4.º lugar, na Espanha, na Turquia e no último GP, realizado na Coreia do Sul. Ontem, fez o 8.º e o10.º tempos, respectivamente, nas duas sessões de treinos livres. Mas, mesmo sem a euforia de sua última passagem, o alemão garante que correr no Brasil tem uma vibração diferente. "É ótimo, a torcida brasileira é sempre muito entusiasmada."