Torcedor de verdade é fanático e só pensa no sucesso do time de coração, mesmo que fatos, evidências, estatísticas indiquem o contrário. Nada importa - a paixão dá um bico na lógica, o que considero muito justo. A racionalidade fica para os críticos, e olhe lá.Por essa perspectiva compreendo o otimismo do Nilson Pasquinelli, diagramador aqui do Estadão que tem o sangue mais verde que conheço. A turma da arte passou a semana numa tensão danada para produzir essa lindeza de edição que você agora folheia, e o Nilsão na maior tranquilidade. Na sexta-feira, perguntei-lhe por que estava tão zen. A explicação, na bucha: "Vai dar tudo certo e domingo o Verdão ganha do Santos."A primeira parte da resposta tinha justificativa óbvia, pois o pessoal que cuida do visual do jornal esbanja competência. A segunda é aceitável só por respeito à santa cegueira do amor. Porque o Palmeiras, com suas glórias quase centenárias, hoje desempenha o papel de zebra na Vila. Sim, clássico é clássico e vice-versa. Mas, bola por bola, a do Santos anda merecidamente cheia.Não considero tarefa impossível para Marcos, Diego Souza, Cleiton Xavier & Cia. quebrarem o encanto da meninada santista. A turma alviverde faz isso desde a época de Pelé, mas é difícil, pelas circunstâncias que cercam o duelo desta tarde. O Palmeiras vive fase de turbulência, a ponto de sofrer para bater o lanterna Sertãozinho por 3 a 2, com gols quase em cima da hora. Além do sufoco para chegar à quinta vitória no Paulista e flanar pela 8.ª colocação, a apresentação de segunda-feira, em Barueri, mostrou ainda uma vez que a equipe do técnico Antônio Carlos não decolou. A defesa é inconstante, o meio-campo oscila mais do que a Bolsa em tempos de crise e o ataque vive de lampejos de Diego e Cleiton e de espasmódicos lances de oportunismo de Robert. O centroavante briga pela bola com tal voracidade que chega a tirá-la dos pés de companheiros no arremate ao gol, como aconteceu com Danilo, quando o desafio com o Sertãozinho ainda estava no empate de 2 a 2 e perto do fim.Antônio Carlos não tem cartas na manga para surpreender. O elenco é o que está aí, à espera de Ewerthon (estreia?), Lincoln e Vítor para aumentar as opções. Enquanto não podem entrar em campo, a carga recai sobre os titulares habituais, alguns já com precoces sinais de desgaste físico e emocional. Mas, para o palmeirense não alegar que não falei de flores, gostei das declarações de técnico e jogadores, que prometem encarar o Santos com altivez, em honra à veneranda tradição da verde. Pode ser conversa fiada, mas foi bacana, porque não apequena o time por antecipação. Já Dorival Júnior me deu um susto ao insinuar que talvez não repetisse formação descaradamente ofensiva, com Marquinhos, Ganso, Robinho, Neymar e André que bagunçou o coreto do Naviraiense na Copa do Brasil. O treinador cogitou mudança de esquema, porque pegará rival de peso. Porém, passada a tentação conservadora, decidiu arriscar, confirmou o quinteto e vai pra cima. Assim que se faz. Nessas horas o Santos tem de mostrar que pensa grande e precisa aproveitar o embalo. Há o perigo do contra-ataque, claro. E daí? Dorival e sua garotada podem romper padrões - e ganharão com isso, até com eventual derrota. Esse panorama não assusta o Nilsão. Em sua apaixonada ótica palestrina, o Santos perdeu o rumo porque fez 10 a 0 no meio da semana! "Era o pior resultado que eles poderiam conseguir." Certo, Nilsão, gostoso mesmo é ganhar do Sertãozinho por 3 a 2 com gol aos 49 do segundo tempo... Dilema de Mano. Dentinho não é craque, mas tem desatado nós de marinheiro para o Corinthians, sobretudo na Libertadores. Com atuações dedicadas e eficientes, mostra para Mano Menezes que merece lugar no time, quem sabe ao lado de Jorge Henrique e Ronaldo. Uma formação que o treinador já testou e que acho bem interessante. Por falar nisso, o ano ainda não começou para Ronaldo. Tomara que desperte na hora H.