A temporada 2023 ficará guardada na memória de Beatriz Haddad Maia por muito tempo. A tenista número 1 do Brasil obteve o melhor resultado de sua carreira num torneio de Grand Slam, estreou no Top 10 do ranking e encerrou a temporada com uma dupla conquista na China. Ao mesmo tempo, Bia voltou a conviver com lesões que impediram uma temporada ainda mais destacada.
Bia encerrou sua participação no circuito da WTA deste ano com aprendizados e mais maturidade. “A perfeição está na imperfeição”, disse a tenista ao ser questionada sobre sua temporada. “Tiveram coisas que poderiam ter saído melhores. Tudo o que fiz foi dando o meu 100%. Se olhar para trás no dia 31 de dezembro, desde 1º de janeiro, jogando na United Cup, passando tudo o que eu passei… Tive meus altos e baixos durante o ano, oscilei assim como todos os seres humanos.”
Um dos seus principais aprendizados aconteceu no lado mental. Até setembro, Bia era a tenista que mais havia vencido jogos de três sets. Assim, se adaptou a longas batalhas em quadra, sem se abalar mesmo quando perdia a primeira parcial de uma disputa. “Mentalmente, não foi fácil para mim. Mas segui trabalhando duro e consegui terminar o ano de uma forma muito positiva”, conta, ao lembrar a última lesão do ano, que atingiu as duas mãos, antes da gira pelos torneios asiáticos.
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Outra conquista da temporada da tenista paulista foi o respeito do circuito. “Acho que o meu status mudou. Fui, aos poucos, conquistando o respeito com o meu tênis e também com a minha personalidade, sendo sul-americana, mulher e brasileira, sabendo das dificuldades. Hoje já tenho respeito, carinho e uma boa relação ali com as meninas do Top 20, principalmente nesse último um ano e meio em que acabei me consolidando por ali. Tenho boa relação com elas. Espero poder usar isso de forma positiva para abrir as portas para as brasileiras e conseguirmos conquistar o nosso espaço.” Confira os principais momentos da temporada de Bia Haddad.
INÍCIO REGULAR
Bia começou a temporada com vitórias consistentes em torneios preparatórios para o Aberto da Austrália. No entanto, caiu na estreia no primeiro Grand Slam do ano. “Joguei um alto nível de tênis, mas perdi na primeira rodada”, lamentou a tenista, em entrevista coletiva na semana passada.
A reação veio em fevereiro, com sua primeira semifinal de 2023, em Abu Dabi. Após oscilações na quadra dura, ela voltou a se destacar no saibro, em preparação para o segundo Grand Slam da temporada, em Paris.
ROLAND GARROS HISTÓRICO
Percorrendo um caminho já trilhado por outros tenistas brasileiros, como Gustavo Kuerten e Marcelo Melo, Bia fez uma campanha histórica no saibro de Roland Garros. Ao alcançar a semifinal, seu melhor resultado numa chave de simples de um Major, se tornou a primeira brasileira a atingir tal fase de um torneio deste nível na chamada Era Aberta do tênis, iniciada em 1968.
De forma geral, foi a melhor campanha de um brasileiro em simples desde o terceiro título de Guga em Paris, em 2001. Entre as mulheres, obteve o melhor resultado desde que Maria Esther Bueno foi semifinalista do US Open de 1968.
ESTREIA NO TOP 10
A grande campanha em Roland Garros garantiu a Bia outro feito importante e histórico na semana seguinte à semifinal. Em junho, ela subiu para o 10º lugar e entrou pela primeira vez no seleto Top 10 do ranking de simples da WTA. Tornou-se, assim, a primeira brasileira da história a entrar neste grupo - Maria Esther Bueno viveu seu auge antes da criação do ranking oficial.
Bia pode terminar a temporada 2023 novamente em 10º. “Neste nível, cada posição exige muito esforço para ser conquistada. Então, eu tenho muito claro para mim que cada posição é um objetivo. Agora quero estar em décimo, depois vou querer estar em nono. E aí quando chegar ao número cinco ou quatro, ali você já briga por coisas maiores”, disse Bia.
LESÕES NA GRAMA
A curta temporada de grama, após a gira de saibro, foi de altos e baixos para a tenista brasileira. E os baixos se deveram a dois problemas físicos. Logo no primeiro jogo depois de Roland Garros, Bia sofreu um escorregão na grama do Torneio de Nottingham e sentiu dores musculares na parte de trás do joelho direito. Desistiu de Birmingham em seguida. Na temporada passada, ela havia sido campeã das duas competições.
Longe de estar 100%, Bia se destacou no início de Wimbledon. Porém, nas oitavas de final, sentiu dores nas costas e precisou abandonar. A tenista parecia repetir o roteiro de anos anteriores, quando problemas físicos a impediam de alcançar o seu auge em quadra.
ACIDENTE EM HOTEL
A preocupação sobre a segunda metade da temporada aumentou quando ela sofreu um acidente doméstico no hotel oficial do WTA 1000 de Guadalajara, no México. O box do banheiro estourou quando Bia tomava um banho. A tenista sofreu cortes e levou pontos nas duas mãos. Ficou afastada por um mês e recebeu indenização da organização do torneio pelos prejuízos que sofreu: não pôde competir no México e perdeu as duas competições seguintes do seu calendário.
Ainda com pontos em uma das mãos, Bia iniciou a gira asiática na quadra dura, sem sucesso. Exibiu irregularidade, esteve abaixo do seu padrão de jogo. Mas não desanimou.
“As minhas expectativas baixaram bastante e acho que o ser humano, quando baixa a expectativa e foca no trabalho e no processo, aumenta as chances de ter maior sucesso. Eu me propus a trabalhar muito e trabalhar melhor. Fiquei mais fechada, mais concentrada”, comentou.
FIM BRILHANTE
O esforço deu resultado no último torneio da brasileira no circuito da WTA neste ano. No WTA Elite Trophy, que reuniu as melhores tenistas que não conseguiram entrar no WTA Finals (somente com as oito melhores da temporada), ela levantou dois troféus, o de simples e o de duplas. Simplesmente não perdeu um set sequer na competição disputada na China, na cidade de Zhuhai.
Após terminar a temporada da WTA em alta, Bia quer repetir a dose no próximo ano. “Para 2024, gostaria de melhorar alguns aspectos específicos. Mas, de uma forma geral, falando de objetivos, gostaria de terminar o ano dentro do Top 10 e me classificar para o WTA Finals”, projetou.
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