Reviravolta no Catar abre disputa e põe 4 melhores equipes da F-1 2024 frente a frente

Classificação da etapa contou uma história diferente daquela escrita na sprint deste sábado

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Por Evelyn Guimarães/GRANDE PRÊMIO
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“Foi uma grande reviravolta”. Foi assim que o chefão da Red Bull definiu a pole conquistada por Max Verstappen, neste sábado (30), no Catar. E foi mesmo, porque os taurinos pareciam fora de combate na comparação com os rivais. Tanto que a sprint, disputada horas antes da classificação e vencida pela McLaren, apresentou um Verstappen brigando com o RB20 a ponto de sequer oferecer ameaça à Haas de Nico Hülkenberg. Mas algo aconteceu ao cair da noite, e a equipe austríaca foi capaz de entregar um carro bem mais competitivo. É bem verdade que o tetracampeão acabou perdendo a posição de honra, por causa de um incidente com George Russell, que agora herda a ponta do grid, mas isso não muda a sensação de que a Fórmula 1 se prepara para uma batalha quádrupla neste domingo.

E isso está totalmente ligado ao fato de que não só a esquadra dos energéticos, mas também a Mercedes descobriu o caminho das pedras e alguns atalhos em Lusail. No caso dos austríacos, chama atenção a maneira como, do nada, apareceram como postulantes à pole. Porque, desde sexta-feira, a Red Bull vinha enfrentando problemas de equilíbrio e falta de aderência. Não à toa, Verstappen obteve apenas a sexta colocação no grid da sprint. Na prova curta, o neerlandês chegou a cair posições e não passou do oitavo posto, perdendo desempenho volta a volta. Foi então que os engenheiros decidiram mudar a configuração do carro para o restante do fim de semana.

George Russell, Max Verstappen e Lando Norris. Foto: Darko Bandic/AP

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As alterações se concentraram na parte aerodinâmica, mas sem mexer demais no trabalho das asas. O foco foi proporcionar maior equilíbrio em trechos de média e baixa velocidades e devolver a Max a confiança para atacar as curvas — uma vez que a velocidade de reta seguia como um ponto forte. Mas o que parece mesmo ter feito a diferença foi a combinação pista e clima. Com o asfalto mais emborrachado e temperaturas mais amenas, o RB20 respondeu melhor e aí, nesse cenário, o homem do campeonato fez a parte que lhe cabia.

No Q3, por exemplo, Max optou por usar somente um jogo de pneus macios e se concentrar nas voltas de preparação para o giro decisivo, foi assim que obteve o melhor registro do dia, em 1min20s520. Mais tarde, como se sabe, ele acabou sendo punido, porque bloqueou Russell em um momento em que ambos estavam em voltas de lançamento. Também por isso os comissários decidiram aplicar a perda de uma posição só. Ou seja, Verstappen parte do segundo posto, ainda na primeira fila. O que ainda lhe coloca muito no páreo.

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“Nós mudamos muito o carro, mas não achei que faria uma diferença tão grande. Pareceu muito mais estável em uma volta e me deu confiança para forçar. E aí, um milagre aconteceu”, admitiu o piloto #1. “Só espero que isso dure para a corrida”, completou.

É aqui que entram Russell e a Mercedes. O britânico, que vem de uma vitória categórica na semana passada, emendou a performance e, de novo, parece disposto a surpreender. Como a Red Bull, a equipe alemã também tenta tirar proveito das condições do Catar. Além da velocidade de reta e da fluidez nos trechos seletivos, a Flecha de Prata #63 foi capaz de tirar proveito de um piso mais aderente e do frio. A mistura que parece ser ideal para o W15. E Russell reclamou de Verstappen, porque acabou encontrando o neerlandês na pista em um momento crítico, em que preparava a volta rápida — esse trabalho foi crucial para todo mundo em Lusail. Então, pode, sim, ter tido algum efeito sobre o tempo final.

De toda a forma, George está na pole agora, devido a sanção a Max, e tem uma chance de tentar reproduzir a corrida da semana passada, muito embora em um cenário um pouco menos extremo. A sensação de que a Mercedes está na briga também vem da corrida sprint. O inglês acompanhou muito de perto o ritmo dos dois carros da McLaren e precisou de paciência ao ficar limitado pela estratégia rival. A prova deste domingo já promete um roteiro diferente, porque Russell tem a oportunidade de controlar a narrativa, mas terá de largar bem e neutralizar o campeão da Red Bull.

“Minha primeira volta foi uma das melhores que já fiz e, por alguma razão, não consegui encontrar aquele tempo extra na última tentativa e Max me ultrapassou. Mas só tenho pontos positivos. O carro tem sido muito bom nos últimos dois finais de semana, e estamos aproveitando enquanto é possível”, disse George. “É ótimo que Max também esteja no páreo. Fiquei realmente surpreso com a reviravolta deles [Red Bull], pois pareciam muito fora de ritmo ontem e hoje de manhã e, ambos foram ao Q3, então acho que temos uma boa corrida nas mãos”, completou.

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Só que, diante da sprint e da história que a classificação contou, a F1 caminha para uma briga mais ampla. E porque a McLaren ocupa a segunda fila, com Lando Norris à frente de Piastri. De certa forma, é um resultado aquém dos papaias, especialmente diante do potencial do carro laranja e da performance demonstrada no fim da tarde catari, em que deixou a impressão de que poderia ter feito um pouco mais naquelas 19 voltas. Tem mais: o MCL38 ainda é forte em velocidade de reta e mantém o equilíbrio nos trechos de média velocidade.

O chefão Andrea Stella tentou explicar o desempenho na formação do grid e apontou as rajadas de vento durante a classificação como as vilãs. De acordo com o italiano, isso limitou a performance geral. “Foi uma sessão mais complicada em termos de ritmo de classificação em comparação com ontem. Hoje as condições eram um pouco diferentes. Pode parecer algo pequeno, mas estava ventando e com rajadas, diferente de como estava ontem na classificação sprint. Isso fez com que o carro estivesse mais difícil de conduzir do que ontem”, detalhou.

Ainda assim, Stella entende que a corrida principal será ainda mais parelha do que a sprint. “Temos um bom resultado e uma boa posição de largada para amanhã. A corrida será muito sobre o ritmo de corrida e é aí que temos de ser bons. A sprint foi promissora, mas ainda foi bastante acirrada. Então, acho que, para os fãs da F1, vai ser uma noite bastante divertida”, emendou.

Por fim, e apesar de não parecer, a Ferrari também está nessa disputa. Mesmo na quinta posição, com Charles Leclerc, e na sétima, com Carlos Sainz, a equipe italiana tem no ritmo de corrida uma fonte de esperança para tentar superar a McLaren. O time de Fred Vasseur também promoveu mudanças com foco no domingo e na tentativa de minimizar as questões envolvendo os pneus — que tem sido o Calcanhar de Aquiles dos ferraristas. A dificuldade de colocar os compostos na temperatura correta tem sido um desafio no Catar.”Todos tentamos obter o melhor e não se pode escolher uma configuração mais adequada à classificação ou à corrida. Hoje foi mais o caso de gestão dos pneus na volta de lançamento do que qualquer outra coisa. Por esta razão, há por vezes uma variação significativa do desempenho entre os pilotos e equipes”, explicou o francês.

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A escuderia ainda está na briga com a McLaren pelo Mundial de Construtores e, para levar a disputa a Abu Dhabi, é preciso somar 15 ou mais pontos em relação à rival, que larga à frente. “Vamos lutar até a última curva, da última volta. Não podemos correr riscos desnecessários e nem nada estúpido. A corrida será longa e diferente da sprint. Teremos de explorar tudo e tirar o máximo do nosso pacote”, reforçou Vassuer.

A bem da verdade é que há um equilíbrio geral em termos de ritmo de corrida, mas nem tanto no que diz respeito aos pneus. É importante dizer que a tendência, diante da previsão de temperaturas mais baixas no Catar, é de uma estratégia de apenas uma parada, mas, como se viu na semana passada, nem sempre a pista concorda. E é aqui que a F1 coloca as quatro primeiras equipes frente a frente.

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