''Voltei por amor à Fórmula 1''

O fenômeno alemão conta por que abandonou a aposentadoria e decidiu reviver a rotina das pistas

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Por Redação
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Voltei a fazer neste fim de semana uma das coisas de que mais gosto na vida: disputar um GP de Fórmula 1. E confesso que sentia muita falta. Depois que deixei o Mundial, após o GP do Brasil de 2006, vivi um período de grande satisfação, por poder me dedicar mais à família, o que sempre desejei. Mas, com o tempo, passei a sentir saudade da competição. Ao mesmo tempo, a F-1 mudou bastante com a proibição dos testes. Isso fez com que eu passasse a pensar na possibilidade de regressar ao Mundial. O que vou contar é essa história, entre a decisão de deixar a F-1 e a de aceitar o desafio de enfrentar uma nova geração de pilotos jovens, cheios de vontade de ser campeões ou de aumentar seus títulos. Durante o campeonato de 2006, compreendi que estava cansado das muitas atividades exigidas de um piloto. Nossos compromissos se estendem para bem além de sentar no carro e acelerar. Essa é, aliás, a parte mais gostosa da profissão. Temos extensa agenda de ações promocionais e, na época, infinitos testes. No exemplo de 2006, quase não havia restrição de treinamentos particulares. E, como a luta com Fernando Alonso estava dura, não havia semana em que não estávamos na pista. Então, se juntamos o fim de semana de corrida a esses dias de testes e a agenda promocional, algumas vezes em países distantes, veremos que não sobrava tempo para vida pessoal. Mal via a família.Àquela altura, eu já tinha conquistado vários títulos, me divertido, e minha condição profissional me permitia pensar em parar. Eu precisava dar um tempo, voltar minha atenção para mim mesmo. Sentia falta de participar mais da vida como pai.Essa combinação de razões me fez procurar nosso presidente na Ferrari, Luca di Montezemolo, para lhe dizer que não renovaria meu contrato. Continuava adorando pilotar, me sentia em condições de lutar pelas vitórias, títulos, mas estava pagando um preço alto, que era renunciar a tudo na minha vida. Sabia exatamente o que queria. Em 2007, realmente vivi alguns dos melhores momentos de minha existência, pois pude fazer o que todo pai normal gosta de fazer. Compreendi que deixar a F-1 foi a decisão mais acertada da minha vida.Claro que vez por outra dava um jeito de realizar umas corridas de kart e de moto, o que gosto bastante. Tudo bem, é verdade, ganhei uns quilos, mas não me senti culpado. A sensação era de que eu podia me permitir alguns excessos, afinal, as severas restrições que a profissão de piloto de F-1 exige cobraram de mim anos e anos de dedicação total. Em 2008, não foi diferente.Comecei 2009 interessado em correr, mas nem de longe aceitaria aquela enxurrada de compromissos que mal me permitiam respirar fora do mundo do automobilismo. As motos me divertiam. Mas aí sofri aquela queda num treino que todos sabem (dia 2 de fevereiro, em Cartagena), na Espanha, e precisei fazer uma pausa e parar. Algum tempo depois, Montezemolo me telefonou e pediu que eu fosse a Maranello.Ele me propôs substituir Felipe, ou meu irmão mais novo, como o sinto, que havia se acidentado na Hungria, e vi a chance de voltar a fazer o que desejava na medida certa para mim, sem as imensas obrigações de ser piloto regular de F-1. Tudo caminhava bem para voltar em Valência. Quando fui treinar em Mugello com um carro de F-1 da Ferrari (modelo 2007), no entanto, comecei a sentir uma dor intensa na musculatura do pescoço. Contra todos os meus interesses, procurei Montezemolo para lhe dizer que, infelizmente, eu não poderia correr, não havia me recuperado ainda.Minha relação com a Mercedes é antiga. Corri por ela com os protótipos, em 1990 e parte de 1991, e ela me ajudou a estrear na Fórmula 1, pela Jordan. Sou muito grato. Alguns meses depois do teste em Mugello, eu me sentia normal, sem os problemas no pescoço, quando fui procurado pelo pessoal da Mercedes.Não tenho como negar que me sentia atraído por uma volta à F-1. O Mundial não era mais como eu o havia deixado. Comecei a pensar: não existe mais treino durante o campeonato. Dessa forma, regressar à F-1 seria, basicamente, me apresentar para as corridas nos fins de semana. Faria o que amo: pilotar os carros, ir a reuniões da equipe, atender aos compromissos promocionais... Mas nem de longe seria como em 2006. Disse ao Felipe que estava bastante inclinado a voltar à F-1 em Florianópolis, no seu evento de kart, e ele me deu apoio. Dentro de casa não foi diferente. Corinna (a mulher) me viu tão entusiasmado com a possibilidade da volta que me disse para ir adiante. Ela cresceu nesse meio e, como eu, não tem receios. Ela me respeita, assim como admiro sua dedicação ao hipismo. Ela montou um centro de treinamento, usado também para competições, extraordinário. Receberá o Campeonato Europeu de Hipismo. Fica em Givrins, não distante de onde residimos, na Suíça.Estou voltando não para satisfazer a saudade de pilotar. Não assinei um contrato de três anos para me divertir apenas, muito menos tentar provar algo. Voltei para conquistar meu oitavo título e levar a minha equipe a ser campeã. E por que três anos? Porque aprendi na F-1 que os objetivos não são atingidos imediatamente. Se não for campeão neste ano, crescerei com o time para poder ser nos seguintes, como foi no tempo de Benetton e Ferrari. Meu projeto é vencer o campeonato dentro desse prazo. E o prazo foi imposição minha.Não há nenhuma razão financeira. Se existisse, jamais funcionaria. Todo esportista de alto nível que regressa a suas atividades por essa razão, depois de um tempo parado, não faz sucesso.Ficou tudo claro com a Mercedes e assim assinei o contrato. Eu me sentia bem. Quando pilotei o carro da Mercedes, em Valência, pela primeira vez, falei que estava me lembrando de meu primeiro dia na F-1, num teste que fiz em Silverstone com a Jordan. Depois da primeira, da segunda volta, em 91, questionei se eu seria capaz de conduzir aquele carro, de tão rápido que tudo se processava. As voltas foram passando e compreendi que eu poderia, sim, ser piloto de F-1. Em Valência, no mês passado, ocorreu exatamente a mesma coisa. As reações do carro pareciam mais rápidas que as minhas. De novo fui pegando a mão da pilotagem e não demorou para me sentir confortável e tirar prazer no cockpit.Já compreendi, agora, que muitos me consideram o piloto a ser batido nessa minha volta, apesar de considerar que nossa equipe não será muito competitiva nas primeiras provas. Sinto-me cercado pelos sete pilotos das quatro equipes que devem disputar o título (Mercedes, Ferrari, McLaren e Red Bull). Mas eu gosto de desafios. E esse é dos maiores. Estou falando de enfrentar pilotos de grande talento. Está aceito. Vamos ver quem ganha no final.

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