O que estão compartilhando: vídeo cujo título afirma que teriam sido anunciadas as prisões do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro após a divulgação de trechos da delação premiada de Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Na delação revelada nesta semana, o Cid afirma que Eduardo e Michelle faziam parte de uma ala “mais radical”, que instigava Bolsonaro a dar um golpe de Estado. No entanto, nem o deputado nem a ex-primeira-dama foram indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga a tentativa de golpe. Em entrevista nesta segunda-feira, 27, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que não foram encontradas provas suficientes para indiciar os dois. Não há qualquer notícia recente sobre um pedido de prisão para a dupla. O próprio vídeo investigado aqui não confirma a afirmação feita no título de que teria havido um anúncio de prisão.
O Verifica entrou em contato com o autor do vídeo, o influenciador Thiago dos Reis, mas não obteve retorno.

Saiba mais: O vídeo investigado aqui tem mais de 170 mil visualizações no YouTube. Ao longo do conteúdo, o influenciador Thiago dos Reis não confirma a informação destacada no título, de que as prisões de Eduardo e Michelle Bolsonaro teriam sido anunciadas. Trata-se de um clickbait, ou caça-cliques, uma estratégia de usar títulos sensacionalistas e falsos para atrair engajamento.
O Verifica checou outro vídeo de Thiago que usava estratégia semelhante, no qual ele fazia parecer que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, teria fechado acordo de delação com a PF. Como já mostrou o Estadão, alegações sensacionalistas são frequentemente usadas nos conteúdos de Thiago. Há títulos como “Foto de Michelle (Bolsonaro) beijando outro homem causa alvoroço”, “Acabou pra ele - Anunciada a morte de Bolsonaro!!”, “Revelada ligação de Bolsonaro com caso Marielle e provas aparecem!”, dentre outras.
No vídeo analisado aqui, o influenciador afirma que Bolsonaro e o filho Eduardo temem ser presos a qualquer momento e que é possível que ocorram operações da Polícia Federal ainda nesta semana, após o vazamento da delação.
“Há muita gente, inclusive da extrema-direita, dizendo que Bolsonaro pode ser preso a qualquer momento. E Eduardo Bolsonaro disse que quem deve ser preso é ele, ele tá apavorado, com medo de uma prisão em flagrante”, comentou o influenciador.
PF não encontrou provas suficientes sobre Michelle e Eduardo, segundo Andrei Rodrigues
Em entrevista ao Roda Viva nesta segunda, o diretor-geral da PF disse que, embora Cid tenha mencionado Eduardo e Michelle em delação premiada, não foram obtidos elementos adicionais que comprovassem envolvimento direto deles no caso.
“A investigação apontou elementos relacionados a outras pessoas, mas, no caso concreto, não encontramos provas que confirmassem participação dessas duas pessoas”, explicou.
Em relação ao ex-presidente, Rodrigues não descartou a possibilidade de determinação de uma medida cautelar. Bolsonaro foi indiciado com outras 39 no inquérito que investiga o planejamento de uma tentativa de golpe de Estado. A investigação aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se oferecerá denúncia, pedirá novas diligências ou arquivará os casos.
“Qualquer investigado pode ser sujeito de alguma medida cautelar, pode ser sujeito de uma decisão judicial que a Polícia Federal cumprirá”, afirmou o diretor-geral da PF.
O que diz a delação de Mauro Cid
O ex-ajudante de ordens é um dos principais personagens das investigações sobre uma possível tentativa de golpe de Estado motivada pela insatisfação com o resultado das urnas das eleições de 2022. Em agosto de 2023, o tenente-coronel prestou depoimento à PF revelando informações sobre os bastidores do governo Bolsonaro após a derrota na disputa presidencial.
Em troca das informações, Cid fechou acordo de delação premiada, uma prática legal que permite ao delator reduzir sua pena em troca de dados importantes para a investigação de crimes. A delação, no entanto, não implica automaticamente em culpabilidade, sendo necessária a validação judicial para qualquer ação concreta, como prisões ou acusações formais.
No depoimento, Cid afirmou que Bolsonaro trabalhava com duas hipóteses para contestar o resultado das eleições. A primeira seria a busca por uma fraude nas urnas, enquanto a segunda envolvia uma tentativa de convencer as Forças Armadas a apoiar um golpe de Estado, utilizando o apoio de uma ala radical dentro de sua base política.
Cid apontou que, dentro desse grupo radical, estavam figuras como Eduardo e Michelle Bolsonaro. De acordo com ele, ambos compartilhavam a ideia de mobilizar a população e os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) para dar força a um movimento golpista.
Na segunda-feira, 27, Michelle Bolsonaro usou as redes sociais para ironizar a delação premiada de Mauro Cid. Em um “stories” no Instagram, a ex-primeira-dama compartilhou uma reportagem com o título “Delação de Mauro Cid revela papel de Michelle e Eduardo em plano golpista” com um áudio de risadas e uma figurinha em que chora até encher duas xícaras.