Um áudio de autoria e origem não identificadas voltou a circular nas redes sociais sete anos após viralizar pela primeira vez e assusta mulheres que fazem uso de transporte por aplicativo.
Trata-se da narração feita por uma mulher alegando que um motorista da Uber chegou até ela acompanhado de outro homem e que este se identificou como “instrutor” da plataforma. A alegação feita nessa gravação nunca foi comprovada e não há registro de crime cometido a partir de dinâmica semelhante à narrada. O conteúdo não apresenta dados que permitam identificar cadastro do veículo ou dos indivíduos na plataforma.

A Uber disse que o mesmo relato já repercutiu em outros momentos, mas não há informações que sustentem sua veracidade. Não há na empresa a função de instrutor de motoristas. A Uber reforça que, por medida de segurança, apenas o motorista parceiro e os usuários que solicitam as viagens pelo aplicativo podem estar no veículo.
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Relato de golpe viralizou no TikTok
Uma produtora de conteúdo publicou recentemente um vídeo no TikTok questionando se os seguidores dela haviam visto outro post, no qual uma menina contava que solicitou um carro pelo aplicativo da Uber e que o veículo havia chegado com mais um homem além do motorista.
Ela acrescentou que as características do carro eram exatamente as mesmas informadas pelo aplicativo, como cor e placa. Quando a passageira estranhou a presença do segundo ocupante, ele teria afirmado ser um instrutor da plataforma que estava acompanhando o motorista, que seria novato.
A mulher relatou que a passageira achou melhor se afastar e cancelar a corrida. Ao solicitar um novo veículo e comentar sobre o ocorrido com o segundo motorista, ele teria afirmado se tratar de “um novo golpe”.
O vídeo viralizou e somou 490 mil curtidas até o dia 11 de março. O conteúdo foi também compartilhado 126,5 mil vezes e recebeu mais de 6 mil comentários no TikTok. Rapidamente, versões começaram a ser compartilhadas também em outras redes sociais, como Instagram e Facebook.
Nas caixas de comentários, muitas pessoas se mostram assustadas, principalmente mulheres. Uma usuária pede que a plataforma permita que as passageiras aceitem apenas corridas com motoristas mulheres. Outra diz que não entra mais em veículos acionados por aplicativo se estiver sozinha.
O Verifica entrou em contato com a autora do vídeo, questionando a origem das afirmações feitas no conteúdo. Ela informou não conhecer a mulher que fez o relato e compartilhou o link para um post de outra conta em que ela tomou conhecimento da história.
Essa segunda postagem é um áudio, em que uma mulher se identifica como Camila e faz o relato do golpe. Segundo a autora do vídeo que viralizou, ela produziu o conteúdo a partir desse áudio como um alerta para mulheres que utilizam o serviço.
A conta que compartilhou o áudio se apresenta como um canal de notícias e publica principalmente vídeos sobre casos criminais. A reportagem enviou uma mensagem privada, mas não teve resposta.
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Áudio circula há sete anos
O Verifica identificou em buscas online que o áudio circula na internet pelo menos desde 2018, quando apareceu em publicações no YouTube. Não foram encontradas notícias sobre casos concretos que tenham sido registrados e investigados pela polícia desde então. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou não ter dados relacionados ao assunto.
Em 2017, o Boatos.Org checou outros áudios com relatos sobre o golpe do instrutor. Em uma dessas gravações, um homem que se identifica como motorista de Uber relata ter ouvido de uma passageira que ela chamou um carro e que duas pessoas chegaram no veículo, uma delas se apresentando como instrutora da outra.
O site apontou que não havia ocorrências do tipo relatadas na mídia e nenhuma denúncia de pessoa vítima de crime em uma modalidade semelhante à narrada.

Quais são as medidas de segurança para usuários
A Uber mantém uma página informando sobre procedimentos de segurança para usuários do sistema. Conforme a empresa, todas as viagens são registradas por GPS e há uma equipe especialmente treinada para atender a qualquer necessidade, denúncia ou reclamação.
Dentre as ferramentas de segurança, há possibilidade de compartilhar as viagens com contatos de confiança e um canal direto no aplicativo para ligar para a polícia em uma situação de emergência.
Conforme a Uber, todos os motoristas parceiros passam por um processo de cadastro e por diferentes modalidades de verificações que ajudam a confirmar sua identidade antes de aceitar a primeira viagem. Uma delas é a checagem de apontamentos criminais, que é realizada por empresa especializada e refeita periodicamente com todos os motoristas ativos.
Além disso, para evitar fraudes, as fotos submetidas pelos motoristas são comparadas com as fotos arquivadas em documentos oficiais. De tempos em tempos, o aplicativo solicita, aleatoriamente, para que motoristas tirem uma selfie antes de aceitar uma viagem.
Usuários e motoristas também podem utilizar o próprio aplicativo para gravar o áudio da corrida, caso não se sintam confortáveis. O conteúdo pode ser enviado para Uber de forma criptografada por meio de um relato de segurança e, em caso de necessidade, utilizado para investigações ou compartilhado com autoridades.
Um dos recursos disponíveis identifica paradas longas inesperadas, mudanças de rota e viagens encerradas antes do previsto. Automaticamente, o motorista e o usuário recebem uma mensagem perguntando se algum suporte é necessário e são direcionados para as ferramentas de segurança disponíveis.
Há a possibilidade, ainda, de checagem via código, que consiste em uma senha que é mostrada no app do usuário e precisa ser fornecida por ele ao motorista para que este possa iniciar a viagem no aplicativo – confirmando assim que tanto um quanto o outro estão na viagem correta.
Em relação à proteção de mulheres, especificamente, a empresa mantém parcerias para desenvolvimento de projetos que enfrentam a violência de gênero.
Recentemente, a reportagem checou outros boatos envolvendo a Uber. Uma delas demonstrou que um boato infundado sobre “golpe do gás” circula nas redes. Outra informou que um vídeo de carro-forte usado em corridas de ‘Uber’ é humorístico.
Este texto foi produzido a partir de uma parceria entre Uber e Estadão Verifica para combater fake news no setor de mobilidade urbana e reforçar o papel do jornalismo profissional. A iniciativa visa desmentir informações falsas e conscientizar o público sobre os impactos negativos da desinformação.