É falso que a revista Veja tenha publicado uma capa sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) com a manchete "A chance de reeleição é zero!". O conteúdo manipulado circula em grupos de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Facebook e também entre simpatizantes do atual governo para atacar a imprensa, mas se trata de uma montagem.
A capa original é a da edição nº. 2757, que circulou em 29 de setembro de 2021, e trazia a frase "A chance de um golpe é zero", dita por Bolsonaro em uma entrevista. Bolsonaro conversou com a Veja quando estava prestes a completar 1.000 dias na Presidência, poucas semanas depois das manifestações de 7 de setembro, do desfile de blindados no Planalto e da pressão pela aprovação do voto impresso.
Na entrevista, ele não afirma em nenhum momento que não teria chance de reeleição. Questionado se pretende concorrer ao cargo novamente, ele responde: "Se não for crime eleitoral, eu respondo: pretendo disputar". Na sequência, há uma pergunta sobre as pesquisas eleitorais que o colocam em segundo lugar, a que retruca duvidando dos resultados: "Pesquisa é uma coisa, realidade é outra."
A mesma capa da Veja já havia sido alterada em outubro do ano passado, com uma falsa manchete em que Bolsonaro teria dito que "O QI dos meus eleitores é muito próximo de zero" -- ele também não diz isso na entrevista. O material surgiu como piada, mas logo passou a enganar pessoas na internet.
O mesmo ocorre com o conteúdo checado agora pelo Estadão Verifica -- mesmo que a montagem tenha sido mais grosseira, apenas cortando a manchete verdadeira e inserindo outra acima, em uma imagem de capa incompleta. "Que assim seja", comentam apoiadores de Lula no Facebook. "Se foi noticiado pela Veja, bem provável que Bolsonaro ganhe no 1º turno", escreveu um perfil bolsonarista em um post mais antigo.
De acordo com o levantamento mais recente do Datafolha, divulgado em 24 de março, Lula aparece com 43% das intenções de voto e Bolsonaro, com 26%, seguido de Sergio Moro (PODEMOS), com 8%, e Ciro Gomes (PDT), com 6%. A pesquisa ouviu 2.556 pessoas em 181 cidades brasileiras, e a margem de erro é de dois pontos percentuais (veja mais informações nesta reportagem do Estadão).
Esse boato também foi desmentido pela agência Aos Fatos.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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