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Montagem em vídeo simula 'confissão' de Lula de que PT seria 'organização criminosa'

Publicação edita, retira de contexto e coloca fora de ordem vários trechos de entrevista concedida pelo petista em 2017

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

 

O vídeo de suposta "confissão" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o PT seria uma "organização criminosa" é uma montagem feita a partir da edição de respostas do petista a uma entrevista realizada em Minas Gerais, em 2017. A publicação circula desde o ano passado pelas redes sociais e acumula mais de 20 mil compartilhamentos.

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A legenda que acompanha a montagem afirma que Lula revela a "verdade oculta" sobre o PT. O vídeo insere trechos nos quais o ex-presidente afirma ter mentido durante o governo, admite que o PT foi criado para ser uma organização criminosa e que sua sucessora, Dilma Rousseff (2011-2016), seria uma "cretina", "malvada" e o "mal do Brasil".

O vídeo em questão foi editado a partir de uma entrevista concedida por Lula à Rádio Teófilo Otoni, em Minas Gerais, durante a visita de sua caravana "Lula Pelo Brasil" ao município mineiro, em 25 de outubro de 2017. O jornalista que conduz a entrevista é Edson Martis e, ao lado de Lula, está o prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira (PT).

A entrevista foi gravada ao vivo pelo perfil do próprio Lula em suas redes sociais. É possível conferir a íntegra aqui.

Organização criminosa. Lula não confessou na entrevista que o PT foi criado para ser uma organização criminosa. O trecho foi retirado da resposta do petista a uma pergunta sobre como encarava a forma com que o Supremo Tribunal Federal lidou com as acusações de pedalada fiscal contra Dilma e as denúncias feitas por Rodrigo Janot contra Michel Temer (assista a partir de 00:29:57).

Em sua resposta, Lula diz que sempre achou que houve "dois pesos e duas medidas em relação ao PT" e cita seus processos, falando especificamente sobre o apresentado pelo procurador da República Deltan Dallagnol, em setembro de 2016 por meio de um PowerPoint (00:34:16).

"Aquele PowerPoint que aquele tal de Dallagnol apresentou há dois anos atrás, um ano e meio atrás, que 'o PT foi criado para ser uma organização criminosa e que o Lula precisava ganhar as eleições para a organização roubar' e eu era 'o chefe por ser o mais importante', ele pode ter pensado isso da família dele, não da minha", disse Lula. "Como vem um procurador dizer uma insensatez dessa, uma blasfêmia dessa?".

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Dilma. Outro trecho retirado de contexto é o que relaciona Dilma Rousseff aos adjetivos "cretina" e "malvada". A resposta do petista, na verdade, era a uma pergunta sobre como enxergava o "ódio ao PT" (00:18:50). O petista disse que encarava como uma reação à possibilidade de ele disputar a Presidência, visto que, à época, ele se colocava como pré-candidato às eleições de 2018.

"Com a possibilidade de eu voltar a ser candidato a presidente seriam mais quatro [anos], seriam 20 [anos de governo petista]. E sempre com a possibilidade de se reeleger, e seriam 24. E eles entraram em pânico. E fizeram essa guerra cretina, maldosa, mentirosa, safada contra a Dilma", afirmou Lula.

O presidente afirma que as acusações que motivaram o impeachment contra Dilma seriam "mentiras" transformadas em verdade "engolida pela imprensa". "Porque a Dilma era o 'mal do Brasil' e o PT 'era o mal do Brasil'. E colocaram o Temer, e nós estamos vendo o que tá acontecendo no Brasil hoje", disse.

Mentiras. Uma das respostas editadas de Lula coloca diversas frases do petista fora de ordem para induzir o espectador a concluir que o ex-presidente mentiu durante viagens ao Brasil. No original, Lula respondia a uma pergunta sobre a linha da miséria (00:12:30) quando narrou uma história que presenciou em Itinga, no Vale do Jequitinhonha (00:15:04), e como considerava importantes as viagens que fazia após ser eleito.

"Quando um presidente, um governador, viaja o país, viaja o Brasil, ele vai conhecendo coisas que não chegam aos ouvidos deles quando ficam dentro do Palácio", disse Lula. "Pois os puxa-sacos só levam aquilo que interessa, puxa-saco não tá a fim de falar de notícia ruim, puxa-saco às vezes mente, às vezes diz 'olha o que tá acontecendo' e não está acontecendo".

Este vídeo foi sinalizado para checagem por meio da parceria entre o Estadão Verifica e o Facebook. A Agence France-Presse (AFP) também desmentiu esta montagem. Ouviu algum boato? Encaminhe para o WhatsApp do Estadão Verifica pelo número (11) 99263-7900.

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