TSE contratou descarte de 195 mil urnas em 2023; vídeo engana ao forçar relação com eleição de Trump

Justiça Eleitoral destrói aparelhos ultrapassados e prevê destinação ecologicamente correta; ação já foi feita ao menos cinco vezes desde 2009

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Foto do author Bernardo Costa
Foto do author Pedro Prata
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo em que uma mulher diz ser “muito estranho” que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esteja “descartando 195 mil urnas” e que a decisão teria sido tomada “depois das denúncias de Mike Benz”. Ela refere-se à declaração de um ex-funcionário do Departamento de Estado Americano, que disse que teria havido interferência do governo de Joe Biden nas eleições brasileiras de 2022.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A determinação para o descarte mencionado no boato foi assinada em 2023, mais de um ano antes das declarações de Mike Benz. A Justiça Eleitoral diz que as urnas eletrônicas são usadas por cerca de dez anos. O Estadão Verifica encontrou cinco contratos de descarte desde 2009.

Mike Benz não apresentou qualquer prova de interferência eleitoral no Brasil. As declarações dele motivaram a publicação nas redes sociais de uma série de postagens infundadas, que foram desmentidas pelo Estadão Verifica. Clique aqui para conferir tudo o que já checamos sobre o assunto.

Técnicas do TRE-SP preparam urnas eletrônicas na zona leste de São Paulo, em preparação para as eleições de 2024. Foto: Júlia Pereira/Estadão

Descarte de 195 mil urnas foi firmado em 2023

O vídeo checado cita o descarte de 195 mil urnas eletrônicas, modelo 2009, pela Justiça Eleitoral. Os equipamentos foram recolhidos e transportados para a empresa NGB Recuperação e Comércio de Metais, localizada em Guarulhos (SP). As urnas serão desmontadas e suas partes, recicladas. A medida foi divulgada no portal da Justiça Eleitoral (leia aqui).

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Ao contrário do que diz o boato, a medida não é deste ano. O contrato com a empresa foi firmado em 2023 e publicado no Diário Oficial da União, em 22 de dezembro (acesse aqui). As informações estão disponíveis no portal de transparência de licitações e contratos do TSE (acesse aqui).

Contrato de descarte de urnas foi firmado mais de um ano antes de Trump ser reeleito presidente dos Estados Unidos. Foto: DOU/Reprodução

Urnas já foram descartadas outras vezes

Não é a primeira vez que urnas eletrônicas são descartadas. O TSE informa que os aparelhos têm vida útil de cerca de dez anos. Após o período, uma licitação é aberta para encontrar empresas interessadas no descarte adequado. As peças devem ser desmontadas, picadas e destinadas para a reciclagem.

No caso dos primeiros aparelhos utilizados pela Justiça Eleitoral, por exemplo, os cabos foram reutilizados na produção de correias de sandálias, e as espumas das caixas das urnas, para confecção de pufes.

O Estadão Verifica consultou o portal de licitações e contratos do TSE (aqui e aqui) para confirmar que urnas eletrônicas foram descartadas anteriormente. Foi possível encontrar contratos em 2009 (para urnas modelo 1996), 2012 (modelos 2000 e 2002), 2018 (modelos 2004 e 1996), 2021 (modelos 2006 e 2008) e 2023 (modelos 2009).

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TSE já realizou operação de descarte de urnas ao menos cinco vezes desde 2009. Foto: Justiça eleitoral/Reprodução

Declaração infundada de ex-funcionário gerou onda de desinformação

Mike Benz declarou que a atuação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no combate à desinformação teria resultado na censura de figuras populistas de direita ao redor do mundo. Ele ainda disse que isso seria uma intervenção na tentativa de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

As alegações de Benz são infundadas e ele não apresentou provas de suas acusações. Apesar disso, suas palavras levaram a uma onda de desinformação com acusações de ingerência e fraude no processo eleitoral brasileiro.

Como lidar com este conteúdo: desconfie de mensagens com teor conspiracionista como “isso está muito mal explicado” ou “achei isso muito estranho”. Elas passam a ideia de que o que está sendo dito vai revelar algo que estava escondido. Na verdade, muitas informações ligadas à administração pública são de acesso a qualquer cidadão.

O boato ainda se contradiz ao falar que “você não ouve nada disso na mídia”, mas traz uma reprodução da revista Veja (leia aqui) -- uma das principais publicações da mídia profissional. Fique atento: a reprodução de manchetes jornalísticas pode ser tirada de contexto. Por isso, é importante consultar a reportagem completa no portal do veículo de comunicação para saber todos os detalhes de uma notícia.

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