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Consumo impõe novos desafios ambientais ao País

Desmatamento total cai, mas aumenta produção de lixo e esgoto; questões urbanas devem ganhar relevância nos próximos anos

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Por AMANDA ROSSI

Da Eco-92 para a Rio+20, o Brasil avançou em indicadores ambientais ligados à manutenção da floresta. O desmatamento caiu pela metade e as áreas de conservação triplicaram. Por outro lado, o aumento do consumo gerou novos desafios ambientais. Em 20 anos, os brasileiros produziram três vezes mais lixo e quase o dobro de esgoto, segundo os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável divulgados ontem pelo IBGE."Nos últimos 20 anos, nós avançamos significativamente. Mas a situação de que partimos era tão grave que o Brasil continua em uma situação bastante precária", avalia João Paulo Capobianco, presidente do conselho do Instituto de Desenvolvimento Sustentável.Água. Os dados de saneamento exemplificam a declaração de Capobianco. Enquanto em 1992 menos de 10% do esgoto era tratado, em 2008 este porcentual era de quase 70%. Mas, por causa do aumento na produção de esgoto, o total de dejetos não tratados continua muito alto: cerca de 1,5 bilhões de m³ por ano.Com relação à produção de lixo, a situação é parecida. Em 1989, três quartos não recebiam destinação adequada; em 2008, o valor caiu para um terço. Apesar da melhoria dos indicadores relativos, a quantidade de lixo não tratado em 2008, ano dos últimos indicadores disponíveis, era praticamente igual à de 1989: cerca de 90 mil toneladas por dia. "O Brasil enfrenta novos desafios ambientais. O caso do saneamento é muito grave. Nessa área, o Brasil tem progredido pouco e falta investimento em infraestrutura", considera José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo e ex-ministro do Meio Ambiente. Há dois anos, Maria José da Silva, 42 anos, testemunhou as dificuldades provocadas pela falta de saneamento adequado. No bairro do Campo Grande, em Recife, sua casa foi inundada pelo esgoto devido ao transbordo de um canal. "Era cocô para todo lado", lembra. Energia. O aumento do consumo também fez dobrar o uso de energia de 1992 a 2010. No período, o espaço ocupado pelas fontes renováveis praticamente não se alterou: pouco menos da metade da matriz energética do País."A matriz não melhorou, mas também não piorou, apesar de terem havido muitas tentativas no sentido de piorá-la", comenta Goldemberg, que não está otimista. Segundo ele, o pouco apoio ao etanol e o subsídio governamental à gasolina podem aumentar o uso de energia suja.O incentivo ao uso de meios de transporte individuais, com redução tributária para a compra de automóveis, e o baixo investimento em transporte público também colocam novos desafios ambientais para o Brasil, segundo Capobianco. "A questão metropolitana é, ao lado do saneamento, o maior problema ambiental brasileiro", diz ele.Já os dados referentes à preservação das floretas são mais positivos. Na Amazônia Legal, a área desmatada caiu 7,5 mil km² - ou seja, deixaram de ser desmatados 1 milhão campos de futebol por ano. A criação intensiva de unidades de conservação foi um dos fatores que ajudaram a conter o desmate. Desde 1992, foram 480 mil km² a mais, uma área maior que os Estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina somados. Porém, por causa da continuidade da destruição florestal, o total desmatado desde a Eco-92 é de 315 mil km², maior que os Estados de São Paulo e Rio juntos. / COLABOROU ANGELA LACERDA

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