O Ministério da Educação (MEC) alterou, pelo segundo ano consecutivo, a forma de divulgação dos resultados por escola do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos dados de 2011, anunciados ontem, só aparecem na lista as escolas em que mais da metade dos alunos do 3.º ano fizeram o exame. Com isso, 55% das escolas públicas e particulares que participaram do Enem "sumiram" da relação. Em São Paulo, a mudança atingiu em cheio os colégios tradicionais paulistanos. Doze das escolas particulares da capital que figuravam entre as 50 melhores no ranking do Enem nos dois anos anteriores não aparecem na lista divulgada ontem. É o caso, por exemplo, do Colégio Santa Cruz. Na capital paulista, a escola teve a quarta melhor pontuação média em 2009 (715,17 pontos) e subiu para a terceira em 2010 (714,14). No entanto, como menos da metade dos alunos do 3.º ano do ensino médio fez o teste, o resultado de 2011 não foi informado pelo MEC.Em 2009, apenas 36,9% dos formandos participaram do Enem. Em 2010, a participação foi ligeiramente superior: 44,4%. Ainda não há como saber sobre o desempenho da escola em 2011, porque os dados serão enviados apenas à direção do Santa Cruz (veja a relação de outras escolas na mesma situação no quadro). Uma das explicações para a baixa participação de escolas paulistanas é que o Enem não é o principal processo de seleção das universidades estaduais de São Paulo: USP, Unesp e Unicamp. Nas duas últimas, pode-se apenas compor a nota final. Por isso, alunos preferem se dedicar a outras provas. O coordenador pedagógico do Colégio Santo Américo, Miguel Arruda, decidiu enviar um comunicado aos pais para explicar o porquê de o colégio, depois de ter sido o 17.º colocado em 2010, desta vez nem constar da lista. "Fizemos uma carta aos pais, antes de eles acharem que estávamos mal. Não estamos. Só não conseguimos convencer nossos alunos a fazer a prova." Por lá, diz Arruda, mesmo com os pais "vacinados", a exclusão da lista deve ter consequências. "Quem está escolhendo colégio pode nem considerar o Santo Américo porque não estamos no ranking." No ano que vem, Arruda pretende fazer uma cruzada na sala dos alunos. Em 2010, 48,3% deles fizeram o exame. "Vou pedir que, por amor ao colégio, eles façam o Enem", diz o coordenador.Médias. Outra alteração na divulgação de ontem diz respeito à média geral - que considera apenas as provas objetivas, sem levar em conta a redação.No ano passado, a composição da média incluía a redação e todas as escolas tinham a nota divulgada, com o respectivo porcentual de participação. Segundo o MEC, o critério de correção das redações é subjetivo e não pode ser comparado com as provas objetivas, baseadas na Teoria de Resposta ao Item (TRI), um modelo que permite a comparação das provas de um ano com o outro. "A correção da redação é muito subjetiva. Nós tentamos fazer algo o mais objetivo possível", afirmou o ministro Aloizio Mercadante. As mudanças dividem especialistas e escolas. Para a consultora Ilona Becskehásy, a decisão do governo de não divulgar as notas de escolas com menos da metade de participação contraria o princípio da transparência."Tem de divulgar e deixar a sociedade ponderar se poucos alunos podem representar toda uma escola", diz. Sem a divulgação massiva, os microdados ficam restritos aos pesquisadores e não chegam à sociedade interessada. "Se sou pai, quero saber tudo o que puder sobre o colégio do meu filho."O pesquisador Chico Soares, especialista em avaliação e consultor do Inep, afirma que o sistema ainda não está estável e que a forma de divulgação ainda é um processo em construção. Mas, segundo ele, que participou do processo de mudança, as regras implementadas neste ano foram salutares. "O Enem mostra quem é a escola. Se alguém decide deixar os 50% piores de fora, vai ter um retrato que não corresponde à realidade." No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, apesar de a maioria dos alunos ter como meta os exames da USP, Unicamp e FGV, que não consideram o Enem, a direção incentivou a participação. "Tentamos mostrar a eles que é um exame nacional que avalia o currículo. Não podem ser tão imediatistas e só pensarem no vestibular", diz Mauro. A escola teve 72% de participação. / OCIMARA BALMANT, DAVI LIRA, PAULO SALDAÑA, FELIPE FRAZÃO, CARLOS LORDELO, CRISTIANE NASCIMENTO E LISANDRA PARAGUASSU
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