Modelos são essenciais para a biomedicina

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Por Redação
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“Antes tarde do que nunca”, diz a pesquisadora Lygia Pereira, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Doze anos atrás, recém-chegada de um doutorado nos Estados Unidos, ela foi a primeira a produzir um camundongo transgênico no Brasil, por uma técnica que envolve a injeção de células-tronco geneticamente modificadas em embriões. Hoje, professora titular da universidade, ela comemora a criação do Laboratório de Modificação do Genoma (LMG) e lamenta o fato de poucos cientistas no País fazerem uso dessa tecnologia.”Espero que as pessoas tomem consciência da importância dessa ferramenta e comecem a planejar suas pesquisas de forma mais ambiciosa”, diz Lygia. “Se esse serviço funcionar e os pesquisadores fizerem uso dele, poderemos dar um salto enorme de qualidade na ciência brasileira.””Alguém tinha de fazer isso. Esses modelos transgênicos são essenciais para reduzir o tempo e o custo do desenvolvimento de novos medicamentos”, aplaude, também, João Bosco Pesquero, do Departamento de Biofísica da Universidade Federal de São Paulo. O camundongo produzido por Lygia, em parceria com Jose Antonio Visintin, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, tinha um gene defeituoso introduzido em seu DNA para simular a síndrome de Marfan, doença genética que afeta 1 em cada 5 mil seres humanos. O animal original, batizado de Christian, já morreu faz tempo, mas seu genoma transgênico continua vivo em seus descendentes, que Lygia até hoje utiliza como modelos para estudar as bases moleculares da doença e testar drogas capazes de minimizar seus efeitos no organismo. Com resultados bastantes promissores.Seu próximo projeto é ir mais fundo ainda na biologia básica da doença, para entender como a fibrilina (a proteína que é produzida de maneira defeituosa nos portadores de Marfan) atua no desenvolvimento embrionário. Para isso, ela encomendou ao LMG a produção de um camundongo transgênico com os genes da fibrilina totalmente desligados. “A melhor maneira de entender o que um gene faz é retirá-lo do genoma e ver o que acontece”, explica o coordenador do LMG, José Xavier Neto. Imagine, por exemplo, que você queira entender o que faz uma peça de um carro. Uma boa estratégia para isso é retirá-la e ver como o carro funciona sem ela.Tanto Lygia quanto Pesquero tentaram estabelecer serviços próprios de produção de modelos transgênicos, mas ambos fracassaram, citando amarras administrativas do serviço público, dificuldades logísticas e falta de interesse da comunidade científica. “Fizemos algumas dezenas de modelos, mas ficou por isso mesmo. As dificuldades eram tantas que acabei desistindo”, conta Pesquero, que, em 2002, gerou o primeiro camundongo transgênico brasileiro pela técnica de microinjeção pró-nuclear. “Hoje você tem funcionário, amanhã não tem mais. Hoje tem dinheiro, amanhã não tem mais. Na academia é tudo muito amador.”Pesquero agora utiliza cinco modelos de ratos e camundongos transgênicos para estudar a ligação entre obesidade e diabetes - alguns produzidos por ele mesmo, outros importados. “Sem esses animais a pesquisa não existiria”, diz ele. “Ou até existiria, só que num nível de detalhamento muito menor.”

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