Momento de apostar

Era digital. Com a explosão da internet, cada ambiente de informação passou a ter seu atrativo: se na web o usuário navega e busca exatamente o que quer, aos jornais cabe selecionar, analisar, oferecer o inesperado e pautar os grandes assuntos de um país

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Por Redação
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O jornalismo impresso começa a se redesenhar para um futuro promissor. Em que a chave está na convergência cada vez maior com o mundo digital. Apesar de nos últimos anos ter virado moda prever o fim dos jornais, especialistas são uníssonos: com um produto mais analítico e sofisticado, o prognóstico é de vida longa e saudável. "Os jornais são detentores do conteúdo de alta qualidade", justifica Christoph Riess, chefe do grupo executivo da Associação Mundial de Jornais (WAN-Ifra). "Não podemos subestimar sua força."Os temores não surgiram do nada. A circulação dos diários nos Estados Unidos e na Europa está em declínio. A pressão exercida pelo crescimento da internet aumentou e as grandes empresas ainda não encontraram fórmula de lucrar com seus sites. Mas, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, o cenário é diferente. "Se um país cresce, as pessoas também querem crescer", diz Riess. "Por isso, há muito espaço para que os jornais aumentem sua circulação, se fizerem movimentos para isso." Esses ajustes incluem a coragem de mudar um dos princípios mais antigos do jornalismo impresso: o de apenas dar notícias do dia anterior. "Os jornais deixam de ser a fonte do que ocorreu para também antecipar fenômenos e analisar fatos", explica Marcelo Rech, integrante do conselho do Fórum Mundial de Editores, ligado à WAN.Nesse sentido, o território online seria mais apropriado ao noticiário e o papel, para a interpretação e para surpreender o leitor com conteúdos diferenciados. "O tempo simbólico de 24 horas que o jornal tem para ser publicado é ideal para a decantação dos acontecimentos", explica.Por isso, ao contrário do que se tem alardeado, as duas plataformas são complementares, não concorrentes. "Nunca se leu tanto jornal", crava o jornalista Matías Molina, autor de Os Melhores Jornais do Mundo, que prepara um livro sobre periódicos brasileiros . "Só que no online." Repercussão. Para Molina, o jornal impresso é que pauta os grandes assuntos de um país e sua influência só aumenta com a repercussão gerada na internet. "Por isso, o papel tem de andar de mãos dadas com o digital." Cada ambiente de informação com seu atrativo: se na web o usuário navega e busca exatamente o que quer, aos jornais cabe surpreender, fazer apostas, oferecer o inesperado. "Quem faz jornal deve encarar o trabalho feito na internet como um grande alívio de tarefas", avalia Molina. "Com a web dando notícias minuto a minuto, sobra tempo para os jornalistas aprofundarem as discussões no papel."Concorda com isso o professor de História da Cultura na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Peter Burke. "É difícil dizer se daqui a cem anos o papel ainda vai existir. Mas, no curto prazo, ele conviverá com a internet." Autor do livro História Social da Mídia, Burke aposta na "diferenciação de produto" para que as duas versões de um jornal não sejam idênticas e possam ser oferecidas ao mesmo leitor. Outra tendência apontada pelo historiador é a de os veículos atenderem a demandas específicas. "Na Inglaterra, temos diários voltados para grupos sociais distintos. Na Itália, há seções de jornais direcionadas a diferentes regiões", exemplifica.O oxigênio para os avanços dos diários vem de um design mais funcional, que facilite a navegação do leitor pelo jornal e lhe ofereça a maior quantidade possível de conteúdo por página ou peça informativa. "As pessoas têm cada vez menos tempo. O que não quer dizer que elas não estejam interessadas em informação", diz Mark Porter, jornalista inglês responsável pelo redesenho em 2005 do diário The Guardian, que se transformou em um modelo para jornais do mundo todo. Porter aponta ainda a exigência cada vez maior dos leitores por um projeto gráfico mais bem acabado. "Especialmente os jovens, que têm acesso a um design fantástico em tudo que usam, de seus carros a seus blogs."Sofisticação. Com um produto tão sofisticado nas mãos, é natural que se presuma que o jornal seja cada vez mais um produto valorizado. "Talvez vejamos um cenário parecido com o do século 19, quando os jornais eram para leitores classificadíssimos e muito exigentes", analisa Molina. Marcelo Rech concorda: "Os jornais só têm a crescer em relevância, porque oferecem um conteúdo premium, com a credibilidade e o trabalho de edição que sabem fazer."

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