Anton García Abril tem 41 anos, mas não perdeu o impulso para a experimentação que tinha quando criança. Hoje arquiteto, ele define esse impulso como sua "necessidade louca de descobrir" se certas coisas podem ser feitas. É assim que explica a urgência que o levou a projetar uma casa feita de partes de infraestrutura pré-fabricada.
"Os componentes de concreto não são caros, são eficientes do ponto de vista estrutural e podem ser montados rapidamente", afirma García. Tanto que a estrutura da construção de dois andares, onde ele vive com Debora Mesa, de 29 anos, arquiteta de sua firma Ensamble Studio, em Madri, foi concluída em apenas sete dias, durante o verão de 2008.
Com um guindaste, a equipe de García montou as peças maiores - três gigantescas vigas de concreto que originalmente deveriam fazer parte de uma ponte, dois segmentos de concreto de um canal de irrigação e duas vigas mestras de aço, todas presas a uma placa de granito de 20 toneladas.
Depois de instaladas as partes pré-fabricadas, a estrutura foi fechada com 35 placas retangulares de vidro espesso. As poucas paredes internas foram construídas com placas de gesso. O trabalho restante da construção, na maior parte instalação elétrica e hidráulica, terminou poucas semanas mais tarde.
No entanto, o projeto levou quase dois anos para ser concluído. A dificuldade se deveu em parte pela preocupação em garantir que as partes pré-fabricadas fossem devidamente equilibradas, um processo cuidadoso que envolveu vários testes com maquetes em escala.
A habitação de 203,5 m² custou US$ 350 mil (equivalente a R$ 600 mil), no terreno que García comprou há dez anos, por US$ 280 mil (cerca de R$ 480 mil), em um condomínio fechado de Las Matas, a 32 quilômetros de Madri. A casa tem duas piscinas: uma no pátio, no nível do chão, e outra suspensa em um segmento do canal de irrigação de concreto que se projeta ousadamente do primeiro andar.
Como há muita luz natural, o casal decidiu não instalar lâmpadas centrais. Há focos no chão, mas poucos. Porém, como notou Debora,"o que economizamos em eletricidade estamos pagando em limpeza dos vidros".
Em um lado do térreo, em formato de L, há duas áreas de estar; no outro, cozinha, lavanderia e despensa. No segundo andar estão a suíte, onde Alejandro, o filho de 1 ano do casal, dorme com os pais,e o quarto de Anton, filho de 8 anos de um casamento anterior de García, que frequentemente fica com eles e adora nadar na piscina suspensa, a "piscina voadora".
Segundo o arquiteto, a casa representa a culminação de um processo que começou há sete anos, quando ele e Debora estavam pensando em começar uma nova vida juntos. "Foi o começo de muitas outras coisas", diz ele. Não só da vida familiar, mas também de novos trabalhos. A casa vem chamando muita atenção, inclusive de novos clientes interessados em construir com partes de infraestrutura de concreto. Além disso, o Berklee College of Music selecionou a firma de García para projetar um prédio de 24 andares em Valência e, recentemente, ele foi contratado para fazer um teatro de ópera em Zaragoza.
O arquiteto também recebeu pedidos para construir uma réplica de sua casa, mas, com Debora, recusou a proposta, que agora está reconsiderando. Inicialmente, para o casal, parecia que outras pessoas iriam viver em sua própria casa - uma construção que foi antes de tudo uma experiência pessoal. "Mas, se artistas como Andy Warhol puderam criar múltiplos originais a partir de um protótipo, certamente arquitetos podem fazer o mesmo. Cada casa ficará em um lugar diferente, portanto sempre será uma coisa diferente", argumenta ele.
Tradução Anna Capovilla