Os olhos do agricultor Manoel Tomaz de Oliveira brilham. Ele abre um largo sorriso e mostra um radinho de pilha quando é incitado a falar sobre a troca do cultivo da uva itália pela niagara na plantação que toca, como meeiro, no Sítio Fazendinha, em Jales, noroeste paulista. Após 16 anos na viticultura, Oliveira consegue, enfim, guardar dinheiro para comprar uma casinha. Veja também: Sistema Y eleva produção Colheita é feita na entressafra da uva de Jundiaí ''Agora está dando para lucrar bem com a niagara de entressafra, o que não aconteceu durante os 16 anos em que toquei pomares de itália'', conta. O meeiro é apenas um dos 500 produtores que sobrevivem da atividade em Jales, cuja região encontrou no cultivo de uvas de variedades européias (benitaka, rubi e itália) a alternativa econômica para o fim dos cafezais atingidos por geadas e pela desvalorização. Agora, quase 40 anos depois, as uvas européias estão cedendo lugar à variedade americana niagara, mais resistente, com menor custo de produção e preço melhor. Estimativas As vantagens da niagara fizeram a região dobrar as áreas de plantio da variedade, que em 2005 mal passavam de 108 hectares e hoje ficam entre 200 e 400 hectares. Conforme estimativa da Casa da Agricultura, os 22 municípios da região possuem 700 hectares de uva, sendo 200 de niagara. ''São, porém, estimativas'', diz o agrônomo Tadeu Calvoso Paulon, da Casa da Agricultura. ''Pode ser que haja novas parreiras de niagara que surgiram e ainda não foram contabilizadas'', continua. ''Um número próximo da realidade vai sair quando o Projeto Lupa, da Secretaria de Agricultura, estiver concluído, em junho.'' Ainda segundo Paulon, a substituição ocorreu forte de uns três anos para cá, devido principalmente às dificuldades de comercialização e à queda dos preços da uva itália. Mas essa substituição só foi possível devido à tecnologia de cultivo criada pelo agrônomo Antonio Augusto Fracaro, que em 2004 apresentou uma tese de doutorado com o resultado de pesquisas feitas durante uma década. A metodologia propiciou o plantio da niagara, enxertada em cavalos IAC 576 e 766, e a colheita da fruta entre junho e novembro, justamente no período em que a região de Jundiaí, maior produtora do Estado, está na entressafra. Para colher a fruta na entressafra da niagara em Jundiaí, os produtores fazem duas podas, uma antes, e outra quatro meses após a colheita. O plantio e a colheita nesta época do ano são favorecidos pela aplicação de um regulador vegetal 15 dias antes da poda que antecede a colheita. ''Mas a metodologia engloba outros fatores, como adubação equilibrada, manejo de cultivo, controladores preventivos de doenças e orientação técnica, que são necessários para o sucesso do empreendimento'', explica Fracaro, que hoje dá assistência técnica a 22 produtores de niagara, cuja produtividade chega a 30 toneladas/hectare, 10 acima da média de 20 toneladas/hectare obtida pelos produtores da região com a itália. Medições Fracaro discorda das estimativas oficiais. Segundo ele, a região já possui entre 350 e 420 hectares de niagara. O próximo passo, diz, é estabelecer as medições mais apropriadas do plantio e parâmetros para a perfeita adaptação da espécie na região. Atualmente, as plantas são enxertadas em cavalos plantados no espaçamento de 2,5 metros entre ruas e 2 metros entre plantas, mas as novas parreiras começam a receber plantas em espaçamento de 2,3 metros entre ruas por 1 metro entre plantas. Para os viticultores ouvidos pela reportagem, a troca foi favorecida principalmente pelo preço - enquanto o quilo da uva itália chega no máximo a R$ 2,80 ao produtor, podendo cair a R$ 1,50 na safra, o da niagara atinge a média de R$ 3,30 -, custo de produção 50% menor e facilidade de manejo e manutenção do pomar.