Um juiz italiano começou a ouvir nesta sexta-feira os argumentos dos advogados num caso que pode levar a julgamento um padre de uma pequena paróquia por ter garantido que Jesus Cristo existiu. Advogados do clérigo, o reverendo Enrico Righi, e de seu acusador, Luigi Cascioli, apresentaram seus argumentos perante o juiz Gaetano Mautone, numa audiência a portas fechadas em Viterbo, ao norte de Roma. A expectativa é de que o juiz anuncie seu veredicto na segunda-feira. O acusador Luigi Cascioli, um ateu, diz que a Igreja católica está enganando as pessoas há 2.000 anos com a fábula de que Jesus existiu e acusou o padre de violar duas leis ao transmitir a notícia. Cascioli entrou com uma ação criminal contra Righi, seu antigo colega de escola, em 2002 depois que o reverendo escreveu num boletim da paróquia que Jesus verdadeiramente existiu, e que nasceu do casal Maria e José em Belém, e que viveu em Nazaré. O ateu alega que a afirmação de Righi viola duas leis: a chamada "abuso de crença popular" na qual alguém engana fraudulentamente as pessoas; e "personificação", quando alguém obtém ganhos atribuindo um falso nome a alguém. Para Cascioli, a Igreja tem tido ganhos financeiros por "personificar" como Jesus um homem com o nome de João de Gamala, filho de Judas de Gamala. Ele disse que não acredita que obterá sucesso numa Itália de imensa maioria católica, mas que está apenas dando um passo necessário para levar o caso à Corte Européia dos Direitos Humanos, onde pretende acusar a Igreja de "racismo religioso". Um dos advogados do clérigo relatou ter dito ao juiz durante a audiência que Righi não estava atestando um fato histórico quando escreveu sobre a existência de Jesus, mas apenas "expressando princípios teológicos". "Quando Don Righi falou sobre a humanidade de Cristo... Ele estava afirmando que ele precisava ser considerado como um homem. Qual é seu nome, de onde veio e quem são seus pais é secundário", acrescentou. O irmão de Enrico Righi, Luigi, compareceu à audiência e relatou que seu irmão estava "sereno mas amargurado". Se condenado, o padre pode ser sentenciado a um ano de prisão.
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