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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A Otan entra em uma nova era; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

As decisões tomadas pela Otan na cúpula dessa semana em Madri terão vastas consequências sobre a segurança mundial

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As decisões tomadas pela Otan na cúpula dessa semana em Madri terão vastas consequências sobre a segurança mundial. Suécia e Finlândia abandonaram a neutralidade e entraram na aliança. Os gastos militares vão subir substancialmente. O efetivo da Força de Resposta Rápida contra a Rússia será multiplicado quase por oito. A China se torna uma prioridade estratégica, numa ampliação drástica do alcance geográfico de suas atribuições.

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A Suécia detém uma pujante indústria armamentista, da qual são uma amostra os caças F-39 Gripen adquiridos pela Força Aérea Brasileira ou os foguetes antitanque AT4 enviados à Ucrânia. E ainda domina o acesso ao estratégico Mar Báltico, a hipótese mais plausível de agressão russa. A Finlândia, igualmente rica e avançada, compartilha 1.300 km de fronteira com a Rússia.

Em 2014, quando a Rússia invadiu a Ucrânia para impedi-la de ingressar na União Europeia, a Otan reforçou uma diretriz já estabelecida — e amplamente ignorada — para que os seus então 28 membros gastassem no mínimo 2% dos respectivos PIBs com defesa. Na época, apenas três cumpriam essa meta: Estados Unidos, Reino Unido e Grécia.

O secretário da Otan, Jens Stoltenberg, participa de cerimônia que marcou a candidatura oficial de Finlândia e Suécia à aliança  Foto: Johanna Geron / EFE/EPA

De lá para cá, países europeus e o Canadá aumentaram em US$ 350 bilhões seus gastos. Hoje, 9 já alcançam esse patamar, e outros 19 têm planos para chegar lá em 2024. Entre os novatos, a Finlândia deve chegar a 2,2% no ano que vem e a Suécia planeja atingir 2% até 2028. Outros falam em bater em 2,5% ou 3% em breve. De acordo com o secretário-geral Jens Stoltenberg, “2% é cada vez mais visto como o piso, não o teto”.

Depois da invasão de 2014, a Otan deslocou grupos de batalhões para os países bálticos e a Polônia. Cada um desses grupos tem cerca de mil soldados. Essa tática ficou conhecida em inglês como “tripwire defense”, algo como “defesa para tropeçar no cordão”. É um dispositivo destinado não a conter forças terrestres russas, mas a desencadear uma reposta da Otan a um ataque a seus soldados.

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A primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, lançou um dramático apelo antes da cúpula: “Se você compara o tamanho da Ucrânia e dos países bálticos, significa uma completa destruição de nossos países, de nossa cultura”. Agora, o efetivo da Força de Resposta Rápida salta de 40 mil para 300 mil.

Desde o fim da guerra fria no início dos anos 90, a Otan revê a cada dez anos o seu Conceito Estratégico. A última versão era de 2010. O novo Conceito afirma que enfrentar “os desafios sistêmicos colocados pela China à segurança euro-atlântica” e o “aprofundamento da parceria estratégica” entre a China e a Rússia estão agora entre suas principais prioridades.

É a primeira vez que a China é citada nesses documentos. Significa que venceu a tese do presidente Joe Biden, de que a disputa em curso é entre democracias e autocracias. Uma outra cúpula, a dos Brics, no dia 23, pode dar a impressão de que o Brasil escolheu o segundo grupo: Índia, China e África do Sul apoiam a Rússia, e o presidente brasileiro simpatiza com seu colega russo.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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