No momento em que o presidente George W. Bush, em viagem à Europa, procura manter os aliados dos Estados Unidos mobilizados para a guerra contra o terrorismo, novas e embaraçosas revelações em Washington apontam as falhas dos serviços de segurança norte-americanos que, politicamente, operam no sentido oposto. De acordo com carta enviada, no início da semana, por Coleen Rowley, uma agente do Federal Bureau of Investigation (FBI) em Minneapolis, a seus superiores na capital ? e prontamente vazada à imprensa -, a alta hierarquia da polícia federal dos EUA não apenas ignorou informações produzidas em agosto do ano passado por sua delegacia em Minnesota sobre as atividades do franco-marroquino Zacarias Moussaoui e suas possíveis relações com o grupo Al Qaeda, de Osama bin Laden, como repreendeu seus agentes de Minnesota depois que eles, frustrados com a indiferença de seus superiores diante de seus alertas, passaram as informações para a Agência Central de Inteligência (CIA). O vazamento da carta é um claro sinal da insatisfação dos quadros do FBI com o comportamento de seus superiores. O diretor do FBI, Robert Mueller, que assumiu o cargo no dia 4 de setembro do ano passado, disse, nesta sexta-feira, que é improvável que as informações enviadas pelos agentes de Minnesota teriam levado à descoberta do complô que resultou nos devastadores ataques que destruíram as duas torres do World Trade Center e uma parte do Pentágono, matando três mil pessoas, no dia 11 de setembro do ano passado. Mas, num reconhecimento tácito de que as falhas do FBI facilitaram a ação dos terroristas, Mueller ordenou uma investigação interna. As comissões de inteligência da Câmara e do Senado, por sua vez, iniciaram nesta sexta inquéritos separados sobre o tema. Moussaoui - que chegou a ser detido e solto pelo FBI em agosto por violação de seu visto de permanência nos EUA, depois que sua atividade de estudante num curso de aviação despertou suspeitas - foi novamente preso depois do 11 de setembro e acusado de ter participado da conspiração que preparou e executou o maior ataque da história contra os EUA. Ele pode ser condenado à morte no julgamento, que começará em breve. Em sua carta, Rowley, que é a assessora jurídica do FBI em Minneapolis, criticou afirmação recente de Mueller, segundo a qual o FBI não dispunha de nenhuma informação que pudesse ter levado o FBI a evitar o ataque. Segundo ela, os esforços dos agentes em Minnesota foram frustrados em parte por causa da decisão de seus superiores em Washington de não obter ordem judicial para vasculhar o apartamento de Moussaoui. Uma ordem de busca emitida depois do 11 de setembro levou à descoberta, na memória do computador portátil de Moussaoui, de abundantes informações sobre aviões de pulverização agrícola e os boeings 575 e 676 usados nos ataques contra Washington e Nova York. Um mês antes da prisão de Moussaoui em Minneapolis, agentes do FBI em Phoenix, Arizona, alertaram seus superiores em Washington sobre o número incomum de jovens oriundos do Oriente Médio inscritos em cursos de instrução de vôo e suas possíveis ligações com o grupo de Osama bin Laden. Por causa de seu clima quente e seco, o Arizona atrai um grande número de imigrantes do Oriente Médio nos EUA. Nenhum dos estudantes mencionados no memorando de Phoenix participou dos atentados de 11 de setembro. Mas Hani Habjour, que pilotou o avião usado para o ataque contra o Pentágono, estudou numa escola de instrução de vôo na área de Phoenix. Os agentes do FBI que estão vazando as informações sobre os esforços que fizeram antes de 11 de setembro e pessoas que leram os dois memorandos concluíram que, uma análise conjunta de ambos, que nunca ocorreu, deveria ter despertado o comando do FBI para a possibilidade de que Bin Laden preparasse um grande ataque e o modo como este ocorreria. No início desta semana, o New York Times informou que o secretário da Justiça, John Ashcroft, e Mueller, foram informados sobre os frustrados esforços antiterroristas dos agentes do FBI em Phoenix e Minneapolis antes de 11 de setembro depois dos ataques. Mas só recentemente colocaram Bush e a Casa Branca a par dessas informações. E só o fizeram depois da revelação de que Bush foi alertado pela CIA, em 6 de agosto de 2001, sobre um possível atentado terrorista de grande escala contra os EUA.