WASHINGTON - O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, disse não acreditar que relatos de agências de inteligência concluíram que a Rússia interveio na eleição presidencial a seu favor, segundo entrevista ao programa Fox News Sunday veiculada neste domingo, 11. Para ele, as acusações da CIA são “ridículas” e não passam de invenções do Partido Democrata para justificar a derrota de Hillary Clinton.
O repúdio do magnata ao enorme e sofisticado aparato de inteligência americano ocorre ao mesmo tempo em que vários republicanos no Congresso se uniram aos democratas e ao presidente Barack Obama para exigir uma investigação sobre as atividades do Kremlin durante a eleição.
A situação levanta dúvidas sobre a possibilidade de Trump nomear o diretor-geral da Exxon Mobil, Rex Tillerson, como seu secretário de Estado, já que o executivo tem vínculos comerciais estreitos com Moscou. “Acho que é ridículo. Acho que é apenas outra desculpa. Não acredito (nas acusações)”, disse Trump, na entrevista que foi gravada no sábado. Ele culpou os democratas pelas notícias e disse não acreditar que elas tenham vindo da CIA.
Um analista dos EUA disse hoje à Reuters que os serviços de inteligência concluíram com “muita confiança” que seus correspondentes russos não apenas direcionaram o ataque online contra organizações e líderes do Partido Democrata, mas fizeram isso para prejudicar a candidata de Hillary.
O presidente eleito não acreditou na história. “Acho que os democratas é que estão colocando-as em público.” Na entrevista, Trump foi questionado se estaria rejeitando informações valiosas da CIA. “Vejo os relatórios quando preciso”, respondeu o republicano, sobre os briefings secretos que teria direito de participar.
Trump explicou que prefere delegar aos diretores das agências a função de decidir quando algo representa uma “mudança” suficientemente grande para notificá-lo. “Sou uma pessoa inteligente. Não é preciso que me digam a mesma coisa com as mesmas palavras todos os dias durante os próximos oito anos”, afirmou.
No entanto, pelo menos duas vozes importantes do Partido Republicano no Senado, John McCain e Lindsey Graham, juntaram-se a dois senadores democratas ontem para pedir uma investigação sobre a suposta interferência da Rússia. Eles disseram que o tema não pode ser uma questão partidária.
McCain manifestou ainda dúvidas sobre a relação comercial de Tillerson com o presidente russo, Vladimir Putin, ainda que não estivesse claro se Tillerson será mesmo escolhido como secretário de Estado. Até ontem à noite, seu nome não havia sido anunciado oficialmente.
“Durante anos, adversários estrangeiros direcionaram ataques cibernéticos às infraestruturas físicas, econômicas e militares dos EUA, enquanto roubavam nossa propriedade intelectual. Agora, nossas instituições democráticas foram alvo”, disseram os senadores, incluindo os democratas Chuck Schumer e Jack Reed, em comunicado conjunto. “Notícias recentes sobre a interferência da Rússia em nossa eleição deveriam deixar todo americano alarmado.”
Agências de inteligência americanas disseram ao Congresso e ao governo Obama que a Rússia está cada vez mais agressiva na Síria e na Ucrânia e reforçou suas atividades no ciberespaço, até mesmo interferindo, por vezes secretamente, nas eleições americanas e europeias. “Isso não pode ser uma questão partidária. Os riscos são grandes demais para nosso país”, afirmaram os senadores no mesmo comunicado. / REUTERS e AP
Para lembrar: Os primeiros vínculos de Donald Trump com a Rússia surgiram com a denúncia de que o chefe de sua campanha, Paul Manafort, foi consultor de Viktor Yanukovich, ex-presidente da Ucrânia deposto por um levante popular em 2014, depois de ter aprovado acordos que estreitavam os laços do país com Moscou. Manafort pediu demissão em agosto. Durante a convenção republicana, representantes da campanha de Trump atuaram para retirar do programa do partido a previsão de entrega de armas à Ucrânia para a defesa contra grupos de oposição apoiados pela Rússia. Trump também deu declarações que se alinham com posições de Vladimir Putin. Entre elas, a de que poderia reconhecer a anexação russa da Crimeia, algo rejeitado pelo atual governo dos EUA.