BERLIM - O futuro chanceler da Alemanha Friedrich Merz conseguiu aprovar no Parlamento o plano que flexibiliza as regras fiscais para liberar investimentos em defesa e infraestrutura. A proposta avançou no Bundestag no momento de crescente preocupação com a segurança na Europa diante da aproximação entre Estados Unidos e Rússia.
O plano impulsionado pelo conservador Friedrich Merz foi aprovado por 513 deputados, com 207 abstenções, e pode abrir caminho para gastos em defesa de 1 trilhão de euros (R$ 6,2 trilhões) na próxima década. Na sexta-feira, o texto deve ser ratificado pelo Bundesrat, a câmara que representa as regiões da Alemanha.
A aprovação é considerada histórica em um país que durante décadas defendeu um controle orçamentário estrito e que contava com os Estados Unidos para protegê-lo militarmente. Mas os tempos mudaram e a Alemanha está preocupada com a guinada na política externa americana enquanto Donald Trump se aproxima da Rússia e se distancia dos aliados europeus.

Entre os deputados, Merz defendeu a neutralização do que chamou de guerra contra Europa liderada pela Rússia. “É uma guerra contra a Europa e não somente uma guerra contra a integridade territorial da Ucrânia”, disse. E definiu o plano como o primeiro grande passo para uma nova comunidade europeia de defesa, que inclua países fora da União Europeia, como Reino Unido e Noruega.
Com a imprevisibilidade dos Estados Unidos, o líder conservador defende uma mudança de rumo que aumente a independência da Europa com relação à própria segurança. Nesse cenário, a “bazuca” de investimentos, como tem sido chamada pela imprensa alemã, é fundamental para os planos do governo que Merz pretende deve com Partido Social-Democrata (SPD) após vencer as eleições do mês passado.
A proposta é retirar os gastos em defesa das restritas regras contra o endividamento, que só permitem novos empréstimos equivalentes a 0,35% do PIB. Com isso, o plano prevê o aumento dos gastos militares, além da criação do fundo de 500 bilhões de euros (R$ 3,1 trilhões) para modernizar a infraestrutura da Alemanha no próximo ano e impulsionar a economia. Como concessão aos Verdes para aprovação, a proposta também inclui recursos para o combate às mudanças climáticas.
O plano alemão deve permitir ainda a liberação de 3 bilhões de euros (R$ 18,6 bilhões) em apoio militar pendente para a Ucrânia. De acordo com o porta-voz do governo, Steffen Hebestreit, Kiev deve receber munições de artilharia e granadas nas próximas semanas.
“É bom para Alemanha, mas também é bom para a Europa”, reagiu a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen. Em movimento similar, ela propôs a flexibilização das regras fiscais do bloco para liberar 800 bilhões de euros em investimentos em defesa. O plano batizado de “Rearm Europe” foi aprovado no começo do mês, em Bruxelas.
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O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, escreveu nas redes sociais que aprovação da proposta alemã “envia uma mensagem poderosa de liderança e compromisso em nossa segurança compartilhada”.
Merz decidiu apresentar a proposta no fim do mandato da Bundestag, antes mesmo de assumir como primeiro-ministro. Isso porque a iniciativa poderia ser bloqueada por partidos da extrema esquerda e extrema direita, que terão poder de veto quando a nova legislatura assumir na próxima terça-feira, 25.
O plano enfrentou resistência dos Verdes, que atualmente tem a terceira maior bancada da Bundestag. Mas o conservador Friedrich Merz conseguiu chegar a um acordo com os deputados do partido na semana passada. As negociações envolveram o aumento dos recursos previstos para o meio ambiente, a ampliação do escopo de gastos em defesa isentos da regra fiscal e a promessa de que o fundo especial será usado para novos investimentos e não apenas para financiar projetos aprovados./COM AFP