PUBLICIDADE

Ambigüidade da Arábia Saudita preocupa ocidentais

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Neste momento, dois caminhos prevalecem para os políticos ocidentais: o Paquistão, onde todos se postam à porta do general Mousharraf, e a Arábia Saudita. Em Riad, capital desse reino de areias e petróleo, de leis feudais, medieval e high tech, amigo, ao mesmo tempo, dos islamistas e dos americanos, ocorre um verdadeiro desfile de personalidades ilustres: sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Hubert Védrine, e o general Tommy Franks, comandante americano da operação "Liberdade Duradoura". Domingo, o enviado especial da ONU, Lakhdar Brahimi. E na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Todas essas eminências são recebidas pelo rei Fahd, num estado tal que mal pode ouvir o que lhe dizem, e depois pelo príncipe herdeiro Abdallah, que é o verdadeiro chefe do governo, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, o príncipe Saud, e pelo ministro da Defesa, o príncipe Sultan. Compreende-se a importância de Riad. Envolto em um mistério sombrio, o Reino Saudita é (da mesma forma que o Paquistão) uma das chaves do terrível jogo de xadrez disputado pelos americanos. Os diplomatas gostariam de saber o que se esconde atrás desse teatro de sombras. A Arábia é uma aliada fiel dos americanos (como já o é, por causa dos petrodólares) ou está ainda próxima do Taleban, como era até 11 de setembro, em virtude de um islamismo passional (sunita no Afeganistão, e Wahabita, ou seja puritano, na Arábia Saudita)? Oficialmente, a posição saudita é límpida, sem ambigüidades. O príncipe Abdallah repetiu isso veementemente a Védrine: a Arábia, ultrajada pela traição de seu antigo cliente Bin Laden, está decidida a permanecer na "Aliança". Não haverá comiseração, disse Abdallah. Os sauditas combaterão o terrorismo. Aliás, eles não compreendem por que o Ocidente desconfia de sua resolução. Riad proclama ainda seu desejo de lutar contra os financiamentos do terrorismo. Dispõe-se a bloquear os fundos suspeitos. Mas, ao mesmo tempo, os sauditas não esquecem seus vínculos com a esfera muçulmana. Desejam, portanto, que os bombardeios não continuem por muito tempo e que não massacrem inocentes. Insistem para que, no futuro, as injustiças escandalosas que reinam no mundo desapareçam. Declararam a Védrine que "os responsáveis pelos atentados de 11 de setembro devem ser punidos e julgados com a maior rapidez possível" (alusão a Bin Laden, antigo protegido da Arábia Saudita). E, no entanto, as dúvidas persistem. Por quê? Porque as populações da Arábia praticam um islamismo wahabita, o mais duro do mundo (chária etc...) e contribuíram para levar o Taleban ao poder. E como esquecer que entre os 19 camicases de setembro, 15 eram sauditas? Isso prova que a Arábia está infestada, há dez anos, pelas redes de Bin Laden. Bin Laden desfrutava há ainda pouco tempo do apoio do chefe da informação saudita, o príncipe Turki-Al-Faical ("demitido", é verdade, três semanas antes dos atentados, sem que se saiba, aliás, se as críticas feitas a ele estavam relacionadas ao fato de ele ser muito próximo de Bin Laden ou muito próximo dos americanos). Outro elemento preocupa os Ocidentais: é que os dirigentes reinam sobre um barril de pólvora. Esse regime faustuoso possui dois calcanhares de Aquiles. O primeiro é a corrupção das elites. Os serviços secretos americanos (NSA) provaram que os delírios sexuais e alcoólicos dessa miríade de príncipes (6.000) ameaçam a estabilidade do regime. Além disso, os príncipes se detestam. O príncipe Abdallah ofendeu muitos de seus "primos" ao impedir uma série de transações imobiliárias imorais. Os príncipes Sultan e Bandar se vingam denegrindo Abdallah aos americanos e denunciando suas posições muito incisivas contra Israel. A segunda fragilidade é a importância da pregação islamita. Houve manifestações a favor de Bin Laden. Chefes religiosos conclamam a guerra santa: o xeque Hmoud Okla al-Choueibi lançou uma fatwa contra os Estados Unidos. Essas ameaças são levadas a sério. Os islamistas de Riad nem precisam desafiar frontalmente o regime. Possuem uma arma assustadora: com alguns explosivos, poderiam destruir os poços e dutos de petróleo, interrompendo toda produção por dois anos. Leia o especial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.