Analistas nos EUA se dividem sobre discurso de presidente

Democratas e republicanos fazem leituras diferentes de temas tratados por Obama

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Por Gustavo Chacra e CAIRO
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O discurso do presidente americano, Barack Obama, recebeu elogios de analistas de esquerda, ligados ao Partido Democrata, por ter sido claro na questão palestina e pelo respeito demonstrado em relação ao mundo islâmico, e críticas, sobre os mesmos temas, de acadêmicos conservadores e republicanos, sinal de que não conseguiu unanimidade nos EUA. "De todos os tópicos, o que Obama foi mais específico foi a questão palestina. Ele se comprometeu pessoalmente com a criação de um Estado palestino. Isso é muito encorajador", disse ao Estado Thomas Mattair, consultor de política externa que tem uma visão à esquerda do espectro político americano. Mattair acrescentou que "Obama precisará muito da ajuda dos países árabes a partir de agora". Segundo Hady Amr, diretor do Brookings Institute no Catar, as palavras de Obama "tornarão mais difícil a vida de Osama bin Laden na hora de recrutar militantes". Martin Indyk, também do Brookings Institute, escreveu que agora há "duas narrativas no mundo muçulmano". Uma de Bin Laden e de Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, que prega a violência e a destruição de Israel. A outra seria a via americana, que prega a tolerância, o compromisso e o respeito aos direitos humanos. "Hoje, Obama renovou a credibilidade dos EUA entre árabes e muçulmanos", disse Indyk. Entre os conservadores, Danielle Pletka, do American Enterprise Institute (AEI), publicou artigo dizendo que Obama, ao discursar para o mundo islâmico, situou seu governo "firmemente no terreno árabe, usando o pensamento dos líderes regionais e aceitando a retórica de nossos adversários, enquanto fracassou ao tentar demonstrar a importância simbólica dos EUA ou avançar nossos interesses nacionais". "Quando os americanos não se posicionam sobre algo, não se posicionam sobre nada. E nossos inimigos sabem disso", afirmou Danielle. Citando um discurso de George W. Bush em 2002, no qual o ex-presidente americano defende a criação de um Estado palestino, Michael Rubin, também do AEI, afirmou que a causa palestina continua estagnada mesmo depois dos bilhões em ajuda americana e dos compromissos de Bush por duas razões: a rejeição por parte dos palestinos e o terrorismo. No Oriente Médio, o jornal israelense Haaretz ressaltou que o discurso de Obama chegou a comparar "os palestinos aos escravos negros nos EUA e, efetivamente, indicou que eles deveriam seguir os passos de Martin Luther King para conquistar seus direitos sem apelar para a violência". Daniel Horowitz, analista do Jerusalem Post, ressaltou ter sido emocionante ver o presidente dizer para o mundo muçulmano que "as relações dos EUA com Israel são inabaláveis". Marwan Bishara, analista da rede de TV Al-Jazira, do Catar, elogiou Obama e disse que "o Império benevolente está de volta".

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