Os ditadores de Venezuela, Cuba e Nicarágua devem estar comemorando o plano do presidente Donald Trump de fechar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que há décadas vem ajudando grupos defensores da democracia e dos direitos humanos na América Latina e em todo o mundo.
A decisão de Trump forçará muitas organizações da sociedade civil na Venezuela, em Cuba, na Nicarágua, em El Salvador e em outros países latino-americanos a encerrar ou reduzir drasticamente suas operações, disseram-me líderes de vários desses grupos.
“A suspensão da cooperação internacional dos EUA fez um grande favor aos líderes autoritários da América Latina”, diz Tamara Taraciuk, especialista em direitos civis do instituto de análise Diálogo Interamericano, em Washington, DC. “Em vários países, esses grupos da sociedade civil têm sido o último bastião contra abusos de poder dos governos.”

A ‘mão do império’
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e seus aliados na região atacam há muito tempo a USAID, acusando a agência de ser uma suposta ferramenta americana para desestabilizar seus regimes. Na realidade, o financiamento da USAID para esses grupos pró-democracia tem sido minúsculo em comparação ao que Venezuela, Cuba, Rússia e Irã gastam em ajuda externa e propaganda política na região.
Embora a maior parte do orçamento da USAID tenha sido destinada a tarefas humanitárias, como o combate à malária ou à desnutrição infantil em 160 países, parte do dinheiro foi usada para ajudar organizações não governamentais que defendem a democracia, os direitos humanos e a luta contra a corrupção.
No ano passado, a USAID destinou US$ 211 milhões à Venezuela e à comunidade venezuelana no exílio, incluindo US$ 33,1 milhões pela defesa de “democracia, direitos humanos e governança”, de acordo com uma reportagem de 5 de fevereiro do site Voz da América.
Vários grupos da sociedade civil venezuelana usaram parte desses fundos para monitorar as eleições de 2024, organizar uma recontagem de votos independente e coletar atas da votação. Isso permitiu que a comunidade internacional verificasse que o candidato da oposição Edmundo González Urrutia venceu as eleições, embora Maduro posteriormente tenha manipulado os resultados e se declarado vencedor, sem jamais mostrar as atas da votação.
O líder de uma importante organização da sociedade civil venezuelana, que pediu para não ser identificado por razões de segurança, disse-me que 75% do financiamento de seu grupo vinha da USAID.
Muy amigo
“Trump está fazendo o que Maduro não conseguiu: sufocar a sociedade civil”, disse-me o líder do grupo de ONGs venezuelanas. “Isso está abrindo caminho para que a América Latina se encha de Institutos Confúcio (chineses) e outros grupos de cooperação internacional da China e da Rússia.”
A USAID foi criada em 1961 pelo então presidente, John Kennedy, para combater a influência da antiga União Soviética durante a Guerra Fria. Desde então, tem sido uma ferramenta importante para projetar o “poder brando” dos EUA diante da crescente influência da China na Ásia, na África e na América Latina.
Trump disse que a USAID é administrada por esquerdistas radicais “lunáticos” e é um enorme desperdício de dinheiro. Elon Musk, o bilionário que chefia o Departamento de Eficiência Governamental, chamou a USAID de “organização criminosa”.
A USAID será agora absorvida, em versão minúscula, pelo Departamento de Estado. Dos 14 mil funcionários da USAID, apenas cerca de 300 permanecerão, afirmaram autoridades do governo Trump.

Em 2022, o atual secretário de Estado, Marco Rubio, escreveu que a USAID era uma ferramenta fundamental para “combater a crescente influência global do Partido Comunista Chinês”, informou a CNN.
O que vai acontecer agora? Grupos pró-democracia na Venezuela, em Cuba, na Nicarágua e em El Salvador dizem que ainda têm esperança de que Rubio restabeleça sua ajuda.
Mas os líderes desses grupos dizem que o dano já foi feito, porque toda a ajuda externa da USAID foi suspensa por 90 dias e — com os cortes de pessoal e orçamento que foram anunciados — restaurá-la pode levar muitos meses, até anos. Maduro e seus aliados devem estar felizes! / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO