CAIRO - Manifestantes contrários ao presidente Hosni Mubarak no Egito começaram a erguer barricadas no centro da capital, Cairo, na manhã desta quinta-feira, reforçando sua posições após os confrontos com manifestantes pró-Mubarak que mataram ao menos cinco pessoas.
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Os confrontos violentos na quarta-feira e na madrugada desta quinta, na Praça Tahrir, no centro do Cairo, entre milhares de manifestantes pró e contra Mubarak, também deixaram 836 feridos, segundo informações do Ministério da Saúde do Egito. Os choques que eclodiram na quarta-feira foram os mais violentos desde o início dos protestos, no dia 25 de janeiro. Segundo um dos enviados da BBC ao Cairo, Ian Pannell, manifestantes arremessaram coquetéis molotov durante a madrugada e soldados deram tiros ao alto para tentar conter a multidão. Manifestantes também aetaram fogo em diversos pontos da praça Tahrir. ''A maior parte dos feridos foi vítima de pedras arremessadas e de ataques com barras de ferro e de porretes. Na madrugada houve tiros'', afirmou o ministro da Saúde do país, Ahmed Samih Farid, em entrevista à TV egípcia. ''As vítimas levadas para os hospitais foram 836, das quais 86 permanecem hospitalizadas e cinco morreram'', acrescentou. A ocupação da praça Tahrir na manhã por manifestantes prosseguiu nesta quinta-feira, mesmo com o toque de recolher decretado pelo governo. O protesto, que até então vinha sendo realizado em clima relativamente pacífico, se tornou violento na quarta-feira, quando centenas de partidários de Mubarak chegaram ao local da manifestação, que era dominado pelos opositores. Soldados do Exército se limitaram a dar tiros ao ar para tentar dispersar a multidão. A ONU afirma que desde o início dos protestos, na semana passada, mais de 300 pessoas morreram. ''Provocação'' Um manifestante antigovernista, que se identificou apenas como Zaccaria, afirmou que os ativistas pró-Mubarak provocaram os conflitos. ''Eles começaram a atirar pedras contra nós. Então, alguns de nós começamos a jogar pedras de volta e a tentar forçá-los a abandonar a praça. Eles voltaram mais uma voz com cavalos, chicotes e com capangas'', afirmou. Um general aposentado que conversou com soldados acampados na Praça Tahrir com seus tanques disse à BBC que o Exército já está perdendo a paciência e que deverá reagir com disparos contra manifestantes pró-governo que usarem armas de fogo. Oposicionistas dizem que manifestantes pró-Mubarak estão sendo pagos para participar dos protestos e que as tropas que cercavam a praça permitiram seu acesso. De acordo com um dos enviados da BBC ao Egito, Jon Leyne, entre os manifestantes pró-governo estão policiais à paisana ou desordeiros. Em uma entrevista à BBC, a manifestante Mona Seif descreveu a atmosfera como sendo ''muito tensa''. ''A cada dois minutos nós ouvimos uma sequência de disparos e eles estão vindo de apenas um lado da praça, perto do Museu do Cairo. É lá que os confrontos estão ocorrendo, há mais de cinco horas, completamente sem parar'', afirmou. Toque de recolher Em pronunciamento à TV estatal do país, o recém-indicado vice-presidente do país, Omar Suleiman, disse ainda que só iniciará negociações com a oposição quando os protestos conta o governo terminarem. "(Para o) diálogo com as forças políticas da oposição é necessário que as demonstrações acabam e as ruas egípcias voltem ao normal", disse ele. Suleiman, que ocupava o posto de chefe da segurança, foi nomeado vice-presidente na semana passada, no que analistas dizem ter sido uma medida adotada pelo governo de Hosni Mubarak para apaziguar os ânimos dos opositores. O vice-presidente pediu para que os manifestantes "voltem para suas casas e obedeçam ao toque de recolher". "Os participantes nas manifestações já transmitiram suas mensagens, tanto pedindo reformas ou dando apoio ao presidente Hosni Mubarak." Manifestantes pró-Mubarak invadiram a praça com cavalos Os milhares de manifestantes anti-Mubarak afirmam que as declarações feitas pelo presidente na terça-feira, de que não tentará a reeleição mas seguirá no poder até setembro, seriam insuficientes. Eles pedem a saída imediata do presidente.
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