TEL-AVIV - Após 27 anos sem se envolver em discussões sobre quem deveria liderar Israel, parlamentares árabes recomendaram ontem que Benny Gantz, um centrista ex-comandante do Exército, tenha a chance de formar um governo no lugar do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. A iniciativa provocaria uma enorme mudança no poder político.
Ayman Odeh, líder da Lista Unida árabe, escreveu ontem em artigo no The New York Times que a aliança de 13 novos parlamentares - a terceira maior bancada no recém-eleito Parlamento - decidiu recomendar Gantz porque ele “faria a maioria necessária para impedir outro mandato de Netanyahu”.
A recomendação foi entregue por Odeh e outros membros da Lista Unida ao presidente Reuven Rivlin numa reunião. “Há sem dúvida uma importância histórica no que estamos fazendo agora”, disse Odeh.
Antes da eleição do dia 17, Netanyahu acusou políticos árabes de tentar roubar a eleição e, em determinado ponto, chegou a acusar os árabes de “tentar destruir todos os israelenses”.
Odeh disse que a Lista Conjunta não participará de um governo liderado por Gantz porque ele não abraçou a “agenda de igualdade”.
Algumas demandas são combater mais os crimes violentos nas cidades árabes de Israel, mudar a política de moradia, criar leis para que bairros judeus e árabes sejam tratados do mesmo modo e melhorar o acesso dos árabes aos hospitais.
Outras incluem aumentar as aposentadorias dos árabes, impedir a violência contra mulheres, incorporar vilas árabes nas quais faltam água e eletricidade, reassumir as conversações de paz com os palestinos e rejeitar lei aprovada no ano passado que declara Israel como o Estado-nação do povo judeu.
A última vez que parlamentares árabes recomendaram o nome de um primeiro-ministro foi em 1992, quando dois partidos árabes com um total de cinco cadeiras no Parlamento recomendaram Yitzhak Rabin, embora sem se juntar a seu governo.
Na eleição de 1992, Rabin inicialmente conquistou uma estreita maioria na Knesset, de 120 cadeiras, mesmo sem o apoio de partidos árabes, mas teve de contar com eles um ano depois quando o Shas, um partido ultraortodoxo, deixou o governo porque Rabin assinou os acordos de paz de Oslo.
Odeh escreveu que a decisão de apoiar Gantz é “uma clara mensagem de que o único futuro para este país é um futuro compartilhado, e não haverá futuro compartilhado sem a total e igual participação dos cidadãos palestinos”.
Ganz derrotou por estreita margem o primeiro-ministro na eleição de terça-feira. No fim, os dois candidatos propuseram unidade, mas diferiram no modo de consegui-la.
O ex-comandante do Exército não conquistaria a maioria de 61 cadeiras, mesmo com o apoio da Lista Unida. Ele saiu da eleição com 57 cadeiras, incluindo aquelas dos aliados de esquerda e da Lista Conjunta, comparadas às 55 cadeiras de Netanyahu e seus adeptos de direita.
Avigdor Liberman, líder do partido secular de direita Beiteinu, que conquistou oito cadeiras, está em posição de ser o fiel da balança, mas ele disse que não recomendará nenhum candidato. Lieberman disse que Odeh e a Lista Unida não são meros adversários políticos, mas “inimigos” e pertencem ao Parlamento de Ramallah, não ao Parlamento israelense.
Rivlin começou a ouvir as recomendações de cada grande partido na noite de domingo e deverá concluir as consultas na segunda-feira, antes de confiar o governo ao candidato que ele acreditar ter mais chance de sucesso.
Rivlin disseque a população israelense quer um governo de unidade que inclua tanto o Partido Azul e Branco, de Gantz, quanto o Likud, de Netanyahu.
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