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Audiências sobre invasão do Capitólio dos EUA vão colocar Trump no centro do motim

Integrantes do comitê do Congresso afirmam que série testemunhos vão mostrar que ex-presidente fez parte de um ‘esforço coordenado’ para anular o resultado das eleições de 2020

Por Luke Broadwater

O comitê da Câmara dos EUA que investiga o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio planeja abrir uma série de audiências públicas nesta quinta-feira, 9, exibindo vídeos inéditos com os testemunhos dos principais assessores e familiares do ex-presidente Donald Trump, bem como imagens revelando o papel dos Proud Boys, um grupo de extrema direita, no ataque.

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Integrantes do comitê dizem que as evidências mostrarão que Trump estava no centro de um “esforço coordenado e de várias etapas para anular os resultados das eleições de 2020″, o que resultou na invasão dos corredores do Congresso por uma multidão de seus apoiadores e interrompeu a contagem eleitoral, um passo fundamental na transferência pacífica do poder presidencial dos EUA.

A audiência em horário nobre, às 20h desta quinta (21h em Brasília), será a primeira de uma série de seis planejadas para este mês, durante as quais o painel apresentará aos americanos toda a magnitude e importância do esforço sistemático de Trump para invalidar a eleição de 2020 e permanecer no poder.

“Vamos demonstrar o esforço multifacetado para derrubar uma eleição presidencial, como uma estratégia para subverter a eleição levou a outra (estratégia), culminando em um ataque violento à nossa democracia”, disse o deputado Adam Schiff, democrata da Califórnia e membro do comitê. “É uma história importante e que deve ser contada para garantir que nunca mais aconteça”.

A audiência de abertura contará com o testemunho ao vivo de um documentarista, Nick Quested, que acompanhou o grupo Proud Boys durante a invasão do prédio, e uma policial do Capitólio, Caroline Edwards, que foi ferida quando os manifestantes atacaram barricadas e deram início ao ataque.

Apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 na tentativa de impedir a contagem de votos que confirmaria a eleição de Joe Biden. Foto: Jason Andrew/The New York Times

O comitê também planeja apresentar o que seus integrantes chamaram de “uma parte pequena, mas significativa” das gravações de entrevistas conduzidas por seus investigadores com mais de 1.000 testemunhas, incluindo altos funcionários da Casa Branca de Trump, funcionários de campanha e membros da própria família do ex-presidente.

A filha mais velha de Trump, Ivanka Trump, seu genro Jared Kushner e seu filho Donald Trump Jr. estão entre as testemunhas de alto perfil que depuseram perante o painel.

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Quested, um documentarista britânico que trabalhou em zonas de guerra, incluindo o Afeganistão, passou boa parte do período pós-eleitoral filmando membros dos Proud Boys, incluindo o ex-presidente do grupo, Enrique Tarrio, acusado de conspiração sediciosa em conexão com a rebelião. Quested acompanhou os Proud Boys em comícios pró-Trump em Washington em novembro e dezembro de 2020, e esteve com integrantes do grupo em 6 de janeiro, quando vários deles desempenharam um papel crucial na invasão do Capitólio.

Quested também estava presente com uma equipe de filmagem no dia anterior ao ataque, quando Tarrio se encontrou em uma garagem subterrânea perto do Capitólio com um pequeno grupo de ativistas pró-Trump, incluindo Stewart Rhodes, fundador e líder da milícia “Guardiões do Juramento”. No final do dia 6 de janeiro, Quested e sua equipe estavam com o Tarrio em Baltimore, filmando-o enquanto ele respondia em tempo real às notícias sobre o motim.

Caroline Edwards, uma respeitada policial do Capitólio, provavelmente foi a primeira agente da lei ferida durante o motim, quando sofreu uma concussão durante um ataque a uma barricada no Capitólio. Um homem que foi acusado de participar do ataque, Ryan Samsel, disse ao FBI durante uma entrevista há mais de um ano, que pouco antes de se aproximar da barricada, um membro de alto escalão dos Proud Boys, Joseph Biggs, o encorajou a confrontar a polícia.

Integrantes do grupo Proud Boys e manifestantes pró-Trump atacam policiais durante protesto do dia 6 de janeiro de 2021 que resultou na ocupação do Capitólio. Foto: Joseph Prezioso/ AFP

Outros policiais ao redor do prédio se lembram de ouvir a policial Edwards, pelo rádio, pedindo ajuda - um dos primeiros sinais de que a violência da multidão estava começando a se direcionar contra a polícia. Meses após o ataque, ela continuou a ter desmaios que se acredita estarem ligados aos ferimentos.

Um integrante do comitê disse que Quest e a oficial Edwards descreveriam suas experiências, incluindo “o que viram e ouviram dos desordeiros que tentaram ocupar o Capitólio e tentaram impedir a transferência de poder”.

Os investigadores do comitê acreditam que Quested ouviu conversas entre os Proud Boys durante o planejamento para 6 de janeiro.

A deputada Bennie Thompson, democrata do Mississippi e presidente do comitê, e a deputada Liz Cheney, republicana de Wyoming e vice-presidente, devem liderar a apresentação das provas e interrogar as testemunhas.

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A sessão dará início a um esforço ambicioso do comitê, formado em julho do ano passado, depois que os republicanos bloquearam a criação de uma comissão apartidária para investigar o ataque, para expor aos americanos a história completa de um ataque sem precedentes à democracia dos EUA que levou a um motim mortal, um pedido de impeachment e uma crise de confiança no sistema político que continua repercutindo.

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As audiências acontecem cinco meses antes das eleições de meio de mandato, as midterms, em que a maioria democrata no Congresso está em jogo. Os aliados de Joe Biden tentam traçar um forte contraste entre eles e os republicanos, que permitiram e abraçaram Trump, incluindo representantes do Congresso que estimularam esforços para derrubar a eleição.

Espera-se que outras audiências se concentrem em vários aspectos da investigação do comitê, incluindo o papel de Trump em promover a tese da “Grande Mentira”, de que a eleição foi roubada, apesar de ter sido informado que suas alegações eram falsas; suas tentativas de abusar do Departamento de Justiça para ajudá-lo a se manter no poder; uma campanha de pressão sobre o vice-presidente Mike Pence para descartar votos eleitorais legítimos para Joe Biden; a forma como a multidão foi reunida e como ela agiu em Washington em 6 de janeiro; e o fato de que Trump não fez nada para parar a violência por mais de três horas enquanto o ataque estava em andamento.

O presidente Donald Trump discursa durante protesto contra a certificação eleitoral da vitória de Joe Biden, em 6 de janeiro de 2021, em Washington. Foto: Evan Vucci/ AP

O comitê ainda não definiu a lista completa de testemunhas para as seis audiências televisionadas e ainda está discutindo a possibilidade de depoimento público com vários funcionários proeminentes da era Trump.

Entre as testemunhas que o comitê abordou formalmente para depor na próxima semana estão Jeffrey Rosen, ex-procurador-geral interino, e Richard Donoghue, ex-vice-procurador-geral interino, de acordo com duas pessoas informadas sobre o assunto.

Tanto Rosen quanto Donoghue disseram a vários comitês do Congresso que Trump e seus aliados pressionaram o departamento a dizer falsamente que havia encontrado fraude eleitoral e a usar seu poder para desfazer os resultados das eleições. Em maio passado, Rosen participou de uma audiência pública do Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara sobre os eventos que levaram ao ataque ao Capitólio.

O comitê ainda está em conversas informais com Pat Cipollone, ex-conselheiro da Casa Branca, bem como Byung Pak, ex-procurador dos EUA em Atlanta, que renunciou abruptamente em 4 de janeiro de 2021, depois de saber que Trump planejava demiti-lo por não encontrar indícios de fraude eleitoral, de acordo com pessoas familiarizadas com as discussões.

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Cipollone poderia falar sobre uma série de questões, incluindo os esforços de Trump para pressionar o Departamento de Justiça e sua relutância em aceitar os resultados da eleição, apesar do fato de que as autoridades repetidamente falharam em descobrir fraudes.

Pak poderia ter informações sobre a Geórgia, um ‘swing state’ nas eleições de 2020 no qual Trump estava particularmente obcecado.

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