Aumento de confrontos em Jerusalém pressiona governo de coalizão de Israel

Primeiro-ministro tenta manter unidade da coalizão enquanto partido árabe-israelense suspende participação na aliança

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Por Redação

JERUSALÉM - Confrontos em torno da Cidade Antiga de Jerusalém durante os feriados do Ramadã (feriado islâmico), Páscoa Judaica (feriado judaico) e Páscoa (feriado cristão) aumentaram o temor de uma onda de violência mais generalizada e ameaçaram fraturar a frágil coalizão governamental de Israel nesta segunda-feira, 18. O primeiro-ministro Naftali Bennett enfrenta uma rebelião de deputados conservadores e vê o único partido árabe-israelense da coalizão, Raam, suspendendo temporariamente sua participação na aliança em protesto contra as ações policiais contra manifestantes na mesquita de Al-Aqsa nos últimos dias e escoltar fiéis judeus ao local.

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A ação do partido é amplamente simbólica porque o Knesset, o Parlamento de Israel, não está em sessão. Mas a coalizão, que inclui membros das alas de direita e de esquerda da política israelense, já estava à beira do colapso depois que um legislador conservador desertou este mês, deixando-a sem uma maioria absoluta.

“Se o governo continuar com suas medidas arbitrárias na Esplanada das Mesquitas, submeteremos uma demissão coletiva”, ameaçou o partido dirigido por Mansur Abas que tem quatro de seus deputados na coalizão.

Palestinos muçulmanos no complexo da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Foto: AHMAD GHARABLI

Observadores políticos disseram que o governo permanecerá em uma posição frágil enquanto se esforça para manter a calma em meio às massas de peregrinos muçulmanos, judeus e cristãos que chegam ao centro antigo da cidade.

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Confrontos tem marcado os feriados desde que a polícia israelense entrou na mesquita na manhã da sexta-feira 15 em busca de homens palestinos que atiraram pedras e fogos de artifício em fiéis judeus próximos ao local.

Médicos palestinos disseram que a polícia feriu mais de 150 pessoas com balas de borracha e gás lacrimogêneo na confusão. As forças de segurança detiveram temporariamente mais de 400 pessoas e acalmaram a situação antes de milhares de palestinos retornarem para as orações da tarde sem intercorrências.

Mas no domingo 17, jovens tentaram bloquear vários ônibus que traziam visitantes judeus ao local, jogando pedras nas janelas e causando ferimentos leves em cinco passageiros, segundo relatórios da polícia. A polícia reagiu, ferindo 17, disse o Crescente Vermelho Palestino.

Mais tarde, as forças de segurança escoltaram grupos que celebravam a Páscoa Judaica até a praça ao redor da mesquita conhecida como o Monte do Templo para os judeus. O local, administrado por um truste islâmico jordaniano, mas com acesso rigidamente controlado por Israel, é sagrado para ambas as religiões e muitas vezes é um foco de violência.

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Tensões recentes

Os confrontos nessa praça no ano passado foram precursores de uma guerra de 11 dias entre Israel e o grupo radical palestino Hamas na vizinha Faixa de Gaza. O Hamas alertou que as ações policiais no local nos últimos dias podem levar a novos ataques do enclave.

As autoridades estão tentando superar as tensões do feriado sem aumentar a violência. Pequenos confrontos entre a polícia e manifestantes palestinos foram relatados no fim de semana em várias cidades mistas, incluindo Nazaré.

Dois homens foram presos por atirar pedras contra veículos da polícia no domingo na aldeia árabe-israelense de Umm al-Fahm. Autoridades israelenses estão tentando ajustar suas ações de segurança para manter a ordem sem provocar protestos mais amplos em Jerusalém e na Cisjordânia.

Eles estabeleceram novos postos de controle para pontos de entrada na Cidade Antiga, verificando as identidades dos palestinos que entram na área. No entanto, Israel se absteve de fechar completamente os pontos de passagem da Cisjordânia, permitindo que palestinos autorizados a entrar em Israel para trabalho e culto.

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Governo frágil

Bennett disse no domingo que as forças de segurança teriam “liberdade” para manter a ordem. Mas também enfatizou a necessidade de permitir que os fiéis de todas as religiões orem em Jerusalém durante o feriado.

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Autoridades policiais disseram que estão trabalhando em estreita colaboração com o Waqf jordaniano, o fundo que administra a Al-Aqsa, para mantê-la aberta para as orações do Ramadã. Mas o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia acusou Israel de violar acordos de longa data ao permitir que fiéis judeus entrassem na praça ao redor sob escolta armada. “As medidas de Israel para mudar o status quo no Monte são uma escalada perigosa”, disse o ministério em comunicado. “Israel tem total responsabilidade pelas consequências da atual escalada que está frustrando os esforços investidos para trazer a calma.”

Ex-empresário do setor de tecnologia e um firme defensor do movimento de colonos, Bennett encerrou o governo ininterrupto de 12 anos de Binyamin Netanyahu em junho de 2021, formando uma coalizão heterogênea de legisladores de direita, da esquerda, do centro e - pela primeira vez na história de Israel - de um partido da minoria árabe.

Bennett alcançou a maioria dos 61 deputados necessários para governar no Knesset. No início de abril, porém, a coalizão perdeu a maioria com a saída do parlamentar da direita radical Idit Silman, enquanto outro parlamentar conservador, Amichai Chikli, ameaçou retirar seu apoio do governo.

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Por um lado, o governo quer aplicar “lei e ordem” para satisfazer o flanco direito da aliança; por outro, suas medidas contundentes - com a implantação da polícia israelense em um lugar sagrado do Islã - provocaram reações de indignação no mundo muçulmano, assim como entre os deputados árabes da coalizão.

Futuro político

Se o partido Raam deixar a coalizão, esta ficaria com apenas 56 deputados. Para o governo, isso significaria ter de negociar cada projeto de lei.

A oposição tampouco teria uma maioria de fato capaz de derrubar o governo, já que os parlamentares árabes estão relutantes a se juntar a um “bloco de direita” de Netanyahu, que é apoiado por judeus ortodoxos e parlamentares de extrema direita (53 deputados no total). / WASHINGTON POST e AFP

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