Bloqueio de indicada à embaixada dos EUA no Brasil evidencia dificuldades de Biden com o Senado

Presidente americano enfrenta resistência de republicanos na Casa e vê nomeações serem adiadas

PUBLICIDADE

Foto do author Fernanda Simas
Por Fernanda Simas

A decisão da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano de bloquear a indicação da diplomata Elizabeth Bagley como embaixadora dos EUA no Brasil evidencia as dificuldades do presidente Joe Biden na construção de apoio no Senado, faltando poucos meses para as eleições de meio de mandato no país.

PUBLICIDADE

Segundo analistas, o bloqueio deixa o relacionamento entre EUA e Brasil em um nível mais técnico, mas sem causar prejuízos diretos. No entanto, o impacto para o governo Biden é grande porque, além de evidenciar uma dificuldade do presidente em negociar com os senadores republicanos, que têm usado táticas processuais para retardar a confirmação de diversos embaixadores e outras indicações de Biden a Departamentos importantes do poder americano, como Defesa e Estado, fragiliza a diplomacia americana pois Elizabeth Bagley é uma diplomata de carreira.

“O jogo político interno e as pressões de grupos importantes contrários a ela (indicada) são, ao meu ver, os fatores que impactaram no bloqueio. A Casa Branca ainda não fez uma indicação de qual será a estratégia, provavelmente irá fazer uma nova indicação. No entanto, pelos prazos da Comissão, a avaliação não será rápida”, explica a professora de relações internacionais da ESPM-SP especializada em EUA Denilde Holzhacker.

Senado precisa aprovar indicações feitas por Joe Biden, da mesma forma como aprova juízes indicados  Foto: Senate

A votação na Comissão terminou empatada com 11 votos a favor e 11 contra. Agora, é preciso esperar se o governo Biden indicará um novo nome ou tentará avançar com a nomeação de Elizabeth Bagley. De maneira geral, uma indicação sem maioria na Comissão não é aceita no plenário do Senado.

Doutora em Direito, Elizabeth Bagley havia sido indicada em janeiro por Biden. A diplomata já atuou como embaixadora dos EUA em Portugal e foi conselheira sênior dos secretários de Estado John Kerry, Hillary Clinton e Madeleine Albright.

A embaixada americana no Brasil não é a única que está vaga. Dos 190 postos de embaixador, 52, cujos nomes foram indicados por Biden, estão sem representantes oficiais aguardando a aprovação do Senado.

Relação EUA-Brasil

No caso brasileiro, desde 2021, quando Todd Chapman decidiu se aposentar, o interino Douglas Koneff ocupa o cargo. “Não ter um embaixador, provavelmente, mantém o relacionamento bilateral em um nível técnico, sem que haja um prejuízo direto. No entanto, agendas comerciais e políticas bilaterais não têm grandes avanços. Mostra que apesar da importância do relacionamento entre os dois países, o relacionamento entre os governos Biden e (Jair) Bolsonaro não terá grandes avanços”, avalia Denilde Holzhacker.

Publicidade

Durante a sabatina de Elizabeth Bagley perante a Comissão do Senado, ela falou da importância do apoio dos EUA contra as formas de fragilizar as eleições brasileiras e da importância comercial entre os dois países, especialmente tendo em vista o avanço da nfluência da China na América Latina.

Para a professora de relações internacionais, esses temas já estão sendo tratados por Biden em seus discursos sobre o Brasil. “Então, acredito que a não indicação neste momento não criará qualquer mudança no que acompanhamos na relação entre Brasil e Estados Unidos. A continuidade do interino dificulta uma defesa mais direta, mas ela poderá ser exercida de outras formas”, diz.

Outro ponto que dificultou a aprovação do nome da diplomata, segundo analistas, foi uma entrevista dada por ela em 1998 com declarações sobre Israel que despertaram críticas de republicanos e democratas. “Os grupos pró-judeus se mobilizaram contrários ao nome dela. E em ano eleitoral, os congressistas ficam mais atentos às pressões de grupos de interesse de suas bases”, afirma Denilde Holzhacker.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.