Uma equipe de 8 brasileiros desembarca nesta segunda-feira, 4, na Polônia, como parte de um projeto de ajuda a refugiados ucranianos e às famílias e instituições que os acolhem. Coordenado pela VVolunteer – plataforma social focada em voluntariado, ajuda humanitária e educação social – o grupo vai oferecer orientação legal a instituições e membros da sociedade civil e suporte psicológico a ucranianos que deixarem o país. A iniciativa engrossa uma lista de projetos brasileiros que apostam no trabalho in loco em meio à crise no país europeu.
Mariana Serra, CEO da VV
A missão, que tem duração de 10 dias, será iniciada em Cracóvia e deve seguir para Przemyśl, na região sudeste do país, com a possibilidade de passar também pelo vilarejo de Medyka. Após a conclusão do trabalho, uma parte da equipe segue para a República Checa.
“Nosso trabalho é sempre orientado pelas necessidades levantadas e trazidas do campo. Não conseguimos contemplar todas, mas analisamos as possibilidades e escolhemos aquelas em que podemos ajudar”, explica Mariana Serra, CEO da VV e líder da missão.
“Isso tudo aconteceu de um dia para o outro. As organizações que atuam na fronteira não estão dando conta de absorver tudo. Instituições que costumavam atender moradores de rua, por exemplo, agora cuidam de refugiados”, diz. “Ao mesmo tempo, recebemos pedidos de pessoas que estão, por exemplo, abrigando famílias de sete pessoas e não sabem bem o que fazer com elas.”
Também orientado por demandas locais, o movimento União BR opera enviando alimentos e insumos para o interior da Ucrânia. Criada no início da pandemia pelas irmãs Tatiana Monteiro de Barros e Marcella Monteiro de Barros Coelho, a União BR atuou nas crises do incêndio no Pantanal e da falta de oxigênio nos hospitais do Amazonas, ambas em 2021.
A crise dos refugiados na Ucrânia
Êxodo da Ucrânia afeta economia e sistemas de saúde do Leste Europeu
Maior onda de migração na Europa desde a 2.ª Guerra custará 30 bilhões de euros a países vizinhos em 2022 e aumentará o risco de disseminação de enfermidades, entre elas a covid-19
Na estação de Lviv, uns fogem para fronteira, outros partem para a guerra
Cidade no oeste da Ucrânia é ponto de encontro entre os que tentam escapar do conflito e os que vão em direção a ele
The Economist: Como a crise de refugiados da Ucrânia pode mudar a Europa
Europeus estão mais receptivos com ucranianos, que podem propiciar mão de obra qualificada
No início de março, o movimento se uniu às empresas Simple Nutri, LATAM Airlines e Luna Express para enviar, via avião da FAB, e por pedido da Agência Brasileira de Cooperação e das Nações Unidas, 400 mil suprimentos, entre alimentos, medicamentos e purificadores de água. Agora, em parceria com a Simple Nutri, estruturou um centro de distribuição de alimentos e remédios na Romênia.
Diariamente, equipes da Cruz Vermelha e da CARE retiram suprimentos do local e os levam para o interior da Ucrânia. Em 13 dias de operação, já foram distribuídas 130 mil refeições e 60 mil insumos.
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/USEXXW6HLFDOTF6J3FS2YR7WAI.jpg 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/W2n-AkerbypSqhz2iDPUHM8R2hI=/768x0/filters:format(jpg):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/USEXXW6HLFDOTF6J3FS2YR7WAI.jpg 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/46Wq7dElaxCc9v9HF1KQZ1JVTpg=/936x0/filters:format(jpg):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/USEXXW6HLFDOTF6J3FS2YR7WAI.jpg 1322w)
O novo projeto foi consequência de uma série de acontecimentos, explica Tatiana. “Primeiro, vimos que havia muita gente precisando. Depois, começamos a entender como funcionava essa atuação na ponta, e surgiu a oportunidade de parceria com organizações responsáveis e mundialmente reconhecidas, como a Cruz Vermelha e a CARE”, conta. O reforço final foi a proprietária da fazenda que abriga o centro de distribuição na Romênia, amiga de longa data de Tatiana.
A logística da campanha foi o principal desafio, conta a fundadora da União BR. “Nós precisamos ter muita segurança na ponta da entrega, é muita responsabilidade gerenciar recursos de doadores”, afirma.
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/BTZBICJUNRFQJMY6JS5W6JPXQY.png 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/6EgG-_Axco2IgBXEtR0jqb2WH-M=/768x0/filters:format(png):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/BTZBICJUNRFQJMY6JS5W6JPXQY.png 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/QzQhypBchCokg-zbAnO4jDZWp34=/936x0/filters:format(png):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/BTZBICJUNRFQJMY6JS5W6JPXQY.png 1322w)
Os itens enviados e distribuídos são escolhidos com ajuda da Cruz Vermelha, que determina quais suprimentos são mais urgentes. Entre eles, estão bisturis, gazes e itens de primeiros socorros. A alimentação fica por conta da Simple Nutri, empresa especializada na produção de alimentos desidratados, ideais para cenários como o da guerra. “Eles não precisam ser armazenados em geladeiras e não exigem muita estrutura para preparo”, afirma o fundador e CEO da Simple Nutri, Rafael Romano. “Além disso, dessa forma conseguimos transportar e estocar quatro vezes mais comida no mesmo espaço: uma caixa nossa tem 12 sacos de 1kg, suficientes para alimentar uma família de cinco pessoas por um mês”, explica.
Outra organização brasileira que tem atuação direta na Ucrânia é a Frente BrazUcra, cujo foco inicial era o resgate de brasileiros que queriam deixar a Ucrânia. Com um núcleo formado por 8 voluntários e ajudas externas esporádicas, o grupo já tirou mais de 120 pessoas do país.
“Eu estava na minha casa, na Polônia, quando a guerra estourou. No dia seguinte, vi notícias sobre jogadores brasileiros que tentavam deixar o país e pensei que estava tão perto, que poderia ajudar”, conta a voluntária Mary de Jesus, uma das líderes do grupo. “Entrei no Facebook para ver se alguém estava organizando algo nesse sentido e encontrei a Clara (Magalhães, outra líder do grupo), que estava se movimentando também. Ela me enviou o link de um grupo no Telegram, eu entrei e a movimentação começou. Em três dias, tínhamos 1.500 pessoas”, conta.
Rafael Romano, CEO da Simple Nutri
A Frente passou a executar resgates na fronteira da Ucrânia, usando carros dos voluntários. Na coordenação remota, Mary opera a logística, mapeando pessoas que precisam de ajuda, voluntários e rotas de fuga acessíveis para ambos. Com o tempo, a Frente passou a resgatar também ucranianos e pessoas de outras nacionalidades, como uma família de nigerianos, conta Mary. O grupo leva ainda doações que incluem equipamentos, remédios e alimentos para dentro da Ucrânia.
O clima adverso, por exemplo, derruba tendas próximas das fronteiras que dão suporte para os voluntários do grupo. “Outro desafio é levar suprimentos táticos e equipamentos que não conseguimos transportar num carro civil normal, porque são produtos destinados a Exércitos, embora úteis para civis”, explica. A burocracia para comprar remédios, muitos dos quais exigem receita, é outro problema. Há, também, os problemas técnicos, como pneus furados e falta de sinal de internet, e de segurança.
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/TCWFCYVTSRCFPC5PFVDVAD56O4.png 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/GoJi5BVTFmfIky4J6SX2q2kRu2s=/768x0/filters:format(png):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/TCWFCYVTSRCFPC5PFVDVAD56O4.png 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/YoAOEvztnx8ZsxwyoCCr7X2QBNI=/936x0/filters:format(png):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/TCWFCYVTSRCFPC5PFVDVAD56O4.png 1322w)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
Notícias em alta | Internacional
Veja mais em internacional