A Casa Branca confirmou, nesta quinta-feira, a visita do presidente George W. Bush ao Peru, no sábado, depois da explosão de um carro-bomba perto da embaixada americana em Lima, que matou nove pessoas e feriu dezenas, na madrugada desta quinta. "Conversamos com os funcionários de segurança e estamos convencidos de que será seguro para o presidente viajar" a Lima, disse Claire Buchan, uma porta-voz da presidência americana. O atentado chamou atenção para um dos temas que Bush enfatizará durante sua primeira visita à América do Sul: a conexão entre a guerra contra o narcotráfico nos países andinos, especialmente na Colômbia, e a campanha contra o terrorismo, que ele desencadeou em resposta aos mortíferos ataques contra os Estados Unidos, em 11 de setembro passado. "O presidente está consciente de que muitas das questões de capacidade dos Estados que os tornam vulneráveis ao tipo de parasitas que existe com o terrorismo também os torna vulneráveis ao tráfico de drogas", disse a conselheira de segurança, Condoleezza Rice, referindo-se à necessidade de combater a corrupção com melhores forças policiais e serviços de inteligência e maior cooperação entre os agentes da lei na América Latina. Apesar da importância que Washington atribui ao tema, Bush não estará em posição de anunciar nenhuma iniciativa importante durante as menos de 24 que passará na capital peruana, em reuniões com o presidente Alejandro Toledo e, depois, num encontro que incluirá também os presidentes da Colômbia, Andrés Pastrana, e da Bolívia, Jorge Quiroga. Esta é a primeira vez que um presidente dos EUA visita o Peru. A viagem, que inclui escalas no México e El Salvador, é apresentada pela Casa Branca como uma reafirmação da importância que Bush continua a atribuir ao diálogo entre os EUA com os países do hemisfério, a despeito da mudança de foco da política externa americana imposta pelos atentados de 11 de setembro. Embora a administração esteja em consulta com o Congresso para remover os limites impostos ao uso da assistência de US$ 1,3 bilhão concedida no ano 2000 ao governo de Bogotá, Washington tem deixado claro que o abandono da distinção que fazia antes entre o combate ao narcotráfico e a luta contra a insurgência política não significa que os EUA se envolverão diretamente no conflito interno na Colômbia, com o envio de tropas de combate. Rice informou, por outro lado, que o líder americano não anunciará em Lima a retomada de vôos de reconhecimento anti-narcotráfico no Peru, que foram suspensos no ano passado, depois que um caça da força aérea peruana abateu um avião que transportava missionários americanos na região amazônica do país, matando duas pessoas. Por fim, Bush não leva nenhuma notícia concreta sobre a renovação da Lei sobre Preferências Comerciais para os países andinos, que expirou em janeiro, mas está parada no Congresso, junto com o projeto de lei sobre o mandato "fast track" (TPA) que permitirá ao executivo americano negociar novos acordos comerciais. Ambos devem voltar à pauta somente no fim dos mês que vem. A falta do TPA tornou incerto o lançamento de negociações formais de um acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a América Central, que Bush propôs em janeiro passado. Em princípio, este será o tema da visita que ele fará a El Salvador, no domingo, onde se encontrará também com os líderes dos outros seis países centro-americanos: Belize, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicaragua e Panamá. Uma dificuldade para a anúncio dessas negociações é a resistência da indústria têxtil dos EUA a uma maior abertura do mercado americano, que é crucial para os países centro-americanos. Bush iniciou a viagem nesta quinta-feira pelo México, que visita pela segunda vez. Depois de fazer uma escala em El Paso, na fronteira, ele chegou a Monterrey para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Financiamento do Desenvolvimento. Durante a reunião, ele deve reiterar as críticas de seu governo à falta de resultados das políticas de desenvolvimento seguidas pelo Banco Mundial e apresentará a proposta dos EUA de aumentar seu orçamento para assistência externa em termos concessionais em 50% - de US$ 10 bilhões para US$ 15 bilhões, entre 2004 e 2006. Mas Bush dirá que as nações pobres candidatas à ajuda do chamado Fundo Desafio do Milênio terão que adotar políticas de reforma econômica e combate à corrupção, "pois não estou interessado em financiar a corrupção e ponto final". Pelo critério de renda, Bolívia, Haiti e Nicarágua são os únicos países da América Latina elegíveis para esse tipo de ajuda, que precisa ainda ser autorizada pelo Congresso. A agenda de Bush em Monterrey inclui reuniões bilaterais com o presidente do México, Vicente Fox, que ele está encontrando pela oitava vez, e uma conversa conjunta com Fox e o primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, para tratar da segurança e trânsito de pessoas, veículos e mercadorias na fronteira dos dois países com os EUA. Rice adiantou que Bush não pretende ter conversa à parte em Monterrey com o presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, que está fazendo sua estréia internacional na conferência da ONU.